31 julho 2009

Férias

Praia
Pirolitos, baldinhos, pás e castelos de areia
Sevilhanas e flamenco ao anoitecer
Chambao se Deus quiser
Minha mãe e minha mana
e um sol enorme que vou levar

Porventura

Por sorte, ou porque sim, os acasos são concordantes, o tempo juntou-se às palavras que não diziam nem calavam, e ao mesmo tempo que os momentos se amansavam em silencios, as nossas alma falavam, lembras-te?
Houve dias que adivinhava e não deixavas de me surpreender, outros em que me desconcertavas e deixavas-me antes imaginar, nunca nada seria igual e as reminiscencias ficavam vazias. É como se pintassemos desenhos com o olhar, como se nos entendessemos nos encontros da vida.
Sabes que há episódios domados, pensados, em que sinto nas minhas mãos a força das conquistas, perdidas por conseguidas, erguidas sem expressão, só por me procurar, sem rumo ou razão, contigo não.
Contigo nunca teria sido assim.
Porventura, coincidências são acasos com sentido?
Porventura na minha caminhada solta descobri-me em ti?

A minha cidade

Gosto da minha cidade, a que sinto ser minha, gosto do cheiro que tem ao amanhecer, gosto de ver o rio e imaginar-me ir com ele , gosto de acordar e ver a face da minha mãe. É tão bonita a minha mãe e, apesar de esconder, sei que gosta dos meu despertar pelo seu quarto adentro.

A minha cidade já foi negra, minha inimiga, cumplice do meu desnorteio, já vi ruas enxarcadas de podridão, já percorri noites vazias na minha solidão, já me perdi no meio de gente contente e quase morri demente... Hoje a minha cidade tem um chamamento que me encanta, hoje sorrio ao lembrá-la.

A minha cidade é tão bonita!

Aproximação Intuitiva

A noção de limite é fundamental.

O conceito de limite pode ser apreendido de forma intuitiva, pelo menos parcialmente.
Falo de uma incógnita que "tende" a ser um determinado número, ou seja, no limite, esta incógnita nunca vai ser o número, mas vai se aproximar muito, de tal maneira que não se consiga estabelecer uma distância que vai separar o número da incógnita.


Parece-me tão obvia a aproximação da matemática ao conhecimento empirico.

No meu limite, não me separo de ti e a minha distância, mal se vê.

Vês?

Ilimites de mim

Quase alcanço o céu com os meus dedos pequenos, lembrei-me do limite dos sonhos da Mary Poppins, voando de mala e chapéu de chuva. Eu voo de mãos estendidas em direcção ao infinito que hoje sinto.
Aprendo o sentido das meias frases, do que ouço sem me dizeres, do que não posso pedir nem me vais dar, mas eu peço e recebo, entendo os limites do tempo que deixa de o ter, entendo que me defino e sou mais no caminho da minha essencia, ouço os acordes diferenciados e os sons que o vento só agora me fez chegar. Desentendo os sentidos e encontro-me. Respiro em sopros de alma que aspiram ainda mais vida, silencio o que preciso que ouças e embebedo-me de ti.
Já não saberia viver sem mim.

Lamento

Ser boa pessoa, já não faz parte. Não fica bem dizer que se ajuda e, ter pena, é ofensivo. Por definição, ter pena é lamentar, e eu lamento. Lamento a ausência de sentimentos mais que possessivos.
Desde que me lembro que ser popular era ser rebelde, apalpar o rabo das meninas atras do ginásio da escola e gozar com o gordo e o caixa de oculos. Ser atraente era ser arrogante e altiva. Eu tinha mais jeito para ser boazinha.
Deve ser por isso que nunca deixei de me sentir estranha no meio das multidões, era a sabichona e a boa aluna, por isso, não tinha piada nenhuma, sentia-me confusa porque lamentava e desenquadrava-me. Era bonitinha, mas boazinha, sossegada e gostava de estudar.
Hoje, desenquadro-me de outra forma, cada vez mais me encontro e mais estranha me vejo, cada vez leio mais e sei menos, mas como tu me dizes, o que sinto não pode ser mentira e eu ainda lamento.
Lamento não ter sido boazinha com mais gente, lamento não ter esvaziado o meu carrinho de supermercado nas mãos daquele ciganito descalço que julguei que me ia roubar, lamento não ter alimentado todos os cães famintos cujo olhar neguei, não ter dado um abraço apertado ao rapaz do violino e não te dizer mais vezes o que sinto. Lamento às vezes embarcar na maré.
Sei o que sinto.
Sei o quanto lamento.
Gostava de ter um sorriso para oferecer a toda a gente e uma lagrima para partilhar com quem sente, gostava de ter um ninho para albergar os mendigos e uma brincadeira nova todos os dias, gostava de entender o que escondem as ironias e saber ainda menos de mim. Gostava de dançar mais à chuva e de poder correr para onde o vento me levasse, gostava de lamentar ainda mais a desgraça de quem não sente e de disfarçar a dor que não me faz falta, gostava de rir de mim e de te amar para sempre.
E lamento não ser ainda mais assim.

29 julho 2009

Estranha sensação

Hoje estou apaixonada por mim, é estranha e tão saborosa esta sensação.
Estar assim enamorada por um ser que me habita, tal como tu.
Vislumbrei hoje as cores mais brilhantes e alcancei com o olhar o meu horizonte.
Das minhas mãos, desprendem-se os nós em forma de laços que lancei ao vento, e hoje, consigo ouvi-lo a ecoar dentro da minha alma solta.
Não por meus olhos castanhos, nem o vestido cor de mar que escolhi, apenas me enamorei desta alma que sente, que desperta me cantou, todo o dia, musicas que já nem sabia, por esta vida que de ironia se torna em caminho que hei-de percorrer descalça, com passadas leves para mal se ouvirem. Por estes dedos pequenos que precisam falar, pelas minhas mãos temidas de medo e vergonha e que nunca deixaram de me percorrer e acalmar.
Hoje vi-me de longe, do outro lado de um rio sereno e transparente, acenei ao meu reflexo na agua e atrevi-me a acreditar que sou mais que eu, que os sentidos me domam em forças maiores que as minhas, que ao meu redor existem sentidos que preciso entender, não agora, quando mais tarde os recordar. Que estou viva, feita de outras vidas, caminhante das que me precedem, que as estrelas se entrelaçam e a nevoa se fecha na clarividencia do que sinto.
Perco tempo fingindo domar-me, e hoje, só senti, apaixonada por mim..

Matalascañas



Não há porto nem abrigo. Apenas a força do caminho e das miragens que a palavra liberta.




Mis pirolitos, vamos a jugar mucho
estos días de fiesta!!!

Entre o sono e o sonho

Parabéns tio.



Li os poemas com o carinho de mãos dadas com o meu livro de memórias.
Da tua viola e das musicas que me ensinavas.










E a vocês, almas queridas e encontradas?


Estou contente.

As tuas mãos

As tuas mãos percorrem-me como se adivinhasses os movimentos do meu corpo. Tornei-me capaz de me perder em ti e descobrir nos meus sentidos as cores do meu horizonte. Vejo-as cadentes, luzentes, em cada respirar do teu calor que me enlouquece.
Hoje descubro-me no teu olhar e sentes-me quando tremo contigo?
Um dia contei-te que os corpos oferecidos nunca foram mais que simples ausencias de sonho, que a minha pele contida às vezes, rasgava a minha alma na ansia do sentido que agora encontro.
És apenas humano, mas fazes magia comigo.

27 julho 2009

Carta a mim II

Olhei a lua pequena, misturada com uma copa azul dos feixes de luz que de vez em quando me trespassavam a face, fechei os meus olhos enquanto os sons me inundavam os sentidos e vi-te.
Olhei-te como nos nossos sonhos de sempre, o mesmo mar, outro azul, mais teu e ainda maior, e para lá dos sentidos, a tua alma chamou-me para contar uma história.
De uma aurora distante, em que me disseste que precisavas de descansar, na sombra de uma calma que imaginavas saber habitar, sei que andaras perdida num sol ardente, que pediras ao vento que te encontrasse e ele soprou a teu favor mas parece que não o soubeste ouvir. Ele segredara-te acerca da tua voz mais serena e tu, ouviste a revolta de uma alma enganada. Procuraste uma sombra temperada pela calmaria e tentaste dormir, dos teus sonhos erguiam-se vozes acordadas que falavam para ti, falavam dos teus sentidos, dos sonhos que nunca dormiriam mesmo quando o desejasses e ainda te mostraram as histórias coloridas que guardaras só para ti. A noite não fora apenas escura e tu, cega de medo o que ouviste?
De tantas manhãs, que partiste sofrega e vazia, tão longe de ti.
Das tardes amenas em que cantaste sozinha para nunca te esqueceres das musicas que antes te adormeciam e que já não sabias ouvir.
Das noites quentes, das gentes da tua vida.
À tua sombra, assombrada e acordada, reviste a tua vida e construiste-a sem ti. Presente e carente, erguias a ilusão da loucura e criavas a convicção dos imaginários feitos contos e antes, sonhos. E não dormias.
Admirei nos teus braços, de olhos abertos perante o azul da terra e daquela luz, a certeza da tua falta, do silencio que já não saberias calar nos teus olhos, por quem te vê, por quem te olha e entende. Tamanho engano o nosso.
Cresceste? A história falava-me que ainda estás aí.

Para alem do silencio

Para lá dos meus silêncios,
existe um mundo cheio de sons que tu soubeste ouvir.
Para lá da minha imagem,
existem faces e cores que tu soubeste aquecer.
Para lá de mim,
És tu!

21 julho 2009

Carta a mim

O que seria de ti se não fosse assim?
Às vezes penso nisso. Há uma parte da história que, a tua pele transpira na certeza, na escuridão tão evidente que foste capaz de transpor. Essa parte, ainda hoje, te remonta a um passado tão presente e tão ausente de vontade. Retirada, restou-te enfrentar.
Lembro-me de te ver, curvada, de medo de adormecer, lembro-me das tentativas que sempre fizeste para pertenceres, sentires-te quase igual, e afinal, continuava a haver tanto por entender.
Ainda hoje...
Passaram 8 anos, lembrei-me da data hoje. São teus, percorridos por ti.
Não me lembro bem do principio, mas nunca esqueci o teu fim.
Lembro-me de nada ser suficientemente capaz de satisfazer uma ansia que te consumia, lembro-me dos homens que abraçaste enquanto calavas a vontade eterna de fugir, das palavras que ditavas contrarias à tua forma de ser. Lembro-me que, ao principio, as certezas e os teus horizontes valiam mais que as vontades, mas houve um dia em que descobriste que assim entravas enfim, em ti. Estranha ilusão a nossa.
Lembro-me das noites perdida, em frente ao mesmo rio que hoje te embala, de olhos baços das lagrimas e nas mãos, a ilusão de um aconchego criminoso, delicioso, de encontro à escuridão que te abraçava, essa sim, de peito e alma.
Lembro-me da humilhação, do olhar de quem te amava, de embalares a razão, pedindo que te deixasse esquecer. Lembro-me dos dias tornados meses e das decisões guardadas por mais um dia. Sei bem que sofreste.
Um dia vi-te sentada, assistias ao passar da vida, da tua vida hipotecada em troca de nada que te morria nas mesmas mãos, de fechares os olhos e gritares "Chega...". Não chegava, ambas sabiamos o quanto mais havia dentro de ti, oprimido e sabes, ainda hoje, quando falamos e te vejo, risonha com o mesmo semblante de menina, eu sei, que as tuas mãos fechadas ainda escondem a mesma luta ganha por ti numa proporção desigual.
Hoje, olhei para ti, olhamos em volta e sorrimos.
Eu sei de ti!
Os sonhos perderam-se na caminhada, não foste a mãe que devias ser, nem a filha esperada, não foste a mulher sonhada, nao percorreste o altar que imaginaras, não te deste a ninguem e eu sei que tentaste, o caminho fez-se até aqui.
Mas chegaste.
És uma grande mulher!

20 julho 2009

Carta 1 Introdução

Tenho coisas que preciso de te dizer.
Coisas minhas que me habitam e que sinto que agora, que tu entraste em mim, precisas de conhecer.
Tenho medo que me visites, porque te amo e abri-te a minha porta.
Talvez porque eu não mostro.
Não sei porquê.
Geralmente, dizes-me que eu falo muito.
Eu sinto que falo pouco de mim.

Lua



Vi-te nascer em madrugadas tristes

Esperei-te com medo de não te ver

Encontrei-te por detrás das arvores

Branca,


19 julho 2009

Frases

"A condição das mulheres é determinada por estranhos costumes: elas são ao mesmo tempo dominadas e protegidas, fracas e poderosas, excessivamente desprezadas e excessivamente respeitadas".

"A liberdade das mulheres de hoje, maior ou pelo menos, mais visível do que a dos tempos antigos, não passa de um dos aspectos da vida mais fácil das épocas prósperas; os princípios e mesmo os preconceitos não foram seriamente atingidos".
Marguerite Y.

Contos Orientais

"Conta-se que havia uma mestra zen muito linda que habitava um templo. A sua beleza, copiosamente de uma Apsara ,confundiu um dos seus discípulos mais próximo e estava atrapalhando a sua jornada. A mestra então, disse-lhe para que se ausentasse durante um mês e só então voltasse para que lhe mostrasse toda a razão de sua paixão.

Durante esses dias a mestra entrou em profunda meditação e jejum.

Ao regressar, o discípulo pergunta a uma mulher de aparência velha e esquelética se conhecia a mestra do templo, e ela diz:

"Sim, sou eu. Seja bem-vindo novamente".

Vendo o discípulo quase chorando de tristeza ela retoma:

"Creio que agora podemos voltar a meditar juntos".


Marguerite Yourcenar - Contos Orientais

Bendito

Já me sinto melhor!

Familiazita

Revelam-se em episódios repetidos, atrasam os vivos na dormencia de uma inconsciencia induzida, limpam ao mesmo ritmo que calam e falam ao invés de viverem.
O marido, António, Jaquim, Manel, tem nas faces a voz da pinga e umas camisolas de alsas brancas para agradar a mulher, juntamente com os devidos calções e meias a condizer. A mulher nunca lhe disse, prefere as t-shirts do vizinho mas ele tambem não iria querer ouvir.
Vejo uma casa daquelas que abundam em Moscavide ou no Feijó, com umas pedrinhas salientes que brilham a meio do dia e cujas entradas tem as mesmas plantas e porteiras. Na casa cheira a naftalina misturada com o vapor do ferro e do forno e no chão, os tapetes combinam com os naperons e as naturezas mortas das paredes. Os viventes compõem o quadro. E se olharmos pela janela, lá está ele, paradinho à porta, o belo Reanult 5.
Tem filhos, magricelas, espertalhões, que a calam sempre que falam e que a obrigam a calar mais ainda quando, na caixa da mercearia precisa de contar as mesmas histórias bonitas. A seguir, negligentemente, segue todas as manhãs nas mesmas ruas, nos seus passos leva a mentira com ela, e nas mãos carrega os sacos cheios do que falta e tão vazios do que precisa.
Embriagada pelas conversas toscas e tornadas amigas dos programas da manhã, conhece um mundo que preferiu sem escolher, colheu os frutos de um dia, ter apenas aderido, entre frases convictas e reflexos julgados, olha hoje no espelho redondo da casa de banho, e vira costas, tão simples se tornou.
Aos Domingos de madrugada, antes de alguem despertar, rapa as pernas com a gilette do Jaquim, aproa o vestido e retira os rolos, enquanto confere as iguarias que preparou e que já sabe que ninguem vai reparar e com sorte, talvez durma uma sesta.
Duas horas do Feijó à Trafaria, o marido não abdicou da cassete da Romana. Vale mais este passeio, certeiro, sempre o mesmo e, as conversas com a futura nora, no banco traseiro, enquanto pai e filho revelam o machismo oprimido em dias diferentes.
Esqueci-me do cão, chama-se "Piloto", mas aos Domingos não vai por causa da castidade dos bancos de napa do Renault. Ainda por cima, nestes dias, mesmo que o Jaquim não tome, o carrinho tem sempre direito a banho e pano passado. Imaculado!
Agora é vê-los, estacionados na berma, estendal armado, grelhador, manta e almofadas, no pinhal de S. João, a abanar revistas em vez de leques e a rezar para que a alucinação não tenha um fim.
Nunca suportei estes carros!

Fases

De vez em quando sinto-me assim.
Apetece-me rir e chorar ao mesmo tempo.
Tenho um peso no umbigo e parece que o centro do meu corpo me leva à terra. Sinto a minha cara quente e as minhas mãos humidas e, este calor ...


17 julho 2009

Carrimpana


Gostava daquela carrimpana, quase verde alface. Gostava por eu ser pequena e poder saltar dentro dela, tinha espaço para 30 como eu, três bancos à frente e o mais quente, com o motor por baixo, era aquele onde me sentava, para ir ao teu lado. Lembras-te?


Há uma musica que ficou com ela e as paragens em Montemor para comermos queijadas e irmos à casa de banho. As viagens contigo eram sempre longas mas não trocava nada por elas, eram sempre diferentes, havia qualquer coisa que havia de correr mal e os caminhos passavam a atalhos que descobriamos.


Lembras-te daquelas ferias?

Tu e nós três, e os mosquitos, e os sitios que nunca tinhamos visto, os pequenos almoços onde escolhias para nos sentarmos e apreciarmos a vista e assim não chatearmos? Lembras-te de nunca sabermos quando paravamos e cada local parecia ser-nos oferecido por ti, para nos encantarmos. Crescemos assim, contigo...

Um dia, sentada ao teu lado, com o rabo quente, explicaste-me a história dos Japoneses e deste-me a escolher 3 empresas. Eu escolhi a mais pequenina, porque tive pena, pequena como eu era, aos solavancos naquela estrada. E foi essa que ficou...

Apetecia-me tanto uma queijada....

Anónima

O que sabem eles de mim? Calados, sombrios pela penumbra julgada acolhedora, feitos de abraços colados e demorados que não vêem e, quando vêem, não sentem.
O que sabem eles de mim, mais do que calo e grito? Se o que digo, não volta?
Descrevemos sentimentos como se a expressão os apaziguasse, lançamos na voz, palavras sentidas ou pensadas, oferecidas a nós, feitas de alma ou fruto da nossa ilusão. Olhamo-nos como se nos entendessemos.
Não entendemos nada. Para além da voz, prende-nos a razão, e enquanto calamos a vergonha da solidão e da desconexão, verbalizamos momentos unos, e se a voz nos falha e treme, lembramos o que realmente somos, filhos sem explicação.
Digo que pertenço, mas não sinto. Digo que eu também, mas não sei.
Sei o caminho.
Isso sei

Pressuposto

Hoje resolvi inovar e planear o meu dia. Abri os olhos, e cumprimentei o sol que me espreita da janela, como sempre faço, sinto-me deprimida e nestas alturas, já percebi que é um erro deixar-me pensar.

Faltam-me convicções e a capacidade de julgar, dantes faziam-me jeito, de repente, vejo-me quase banal e porém não consigo deixar de me sentir diferente. Sinto-me estranha, num tempo em que quase me apresento ao encarar-me. Persisto, faminta de respostas e coerencia, num compasso que me consome, sem espaço para abrir os meus braços já dormentes. Antes, ver-me-ia misturada com as poucas estrelas e os meus pés frios, percorrendo-me, sentindo-me, quase em silencio, como se à minha volta, me bastasse.

Acho injusto e recuso-me a aceitar os pressupostos de uma vida que não sinto e, quase invejo aqueles que creem, insanos, no que mais existe e não vê. Uma amiga à qual lhe são retirados, dia após dia, os bocados que restam e não deixo de perguntar porquê?

Quero ao menos, dominar os meus passos neste dia.

16 julho 2009

Hoje

Estou triste
Estou cansada.

De resto
Não tenho nada para dizer

Estado do tempo para hoje e amanhã

Hoje acordei, como sempre, atenta às noticias da manhã.
Ouvi o nosso querido Constâncio anunciar as previsões para a economia portuguesa e a seguir, a previsão meteorológica. Pareceram-me iguais!
Será que este homenzinho não se questiona?
"Vamos ter ainda uns meses de alguma recessão mas em seguida prevê-se uma melhoria das condições da economia"
"Hoje vamos ter ainda alguma nebulosidade de manhã mas, para a tarde, prevê-se uma melhoria geral do estado do tempo"

Há quanto tempo andamos nisto?
Logo de seguida, para acordar de vez, ouço o palerma mor a dizer com ar triunfante que "desde 95 não tinhamos uma descida da desigualdade social como a que verificamos agora". Que bom!
Sinto-me igual outra vez!!!
Não tenho paciência para estes gajos.

15 julho 2009

Descobrir

Sempre procurei onde não encontro, o meu desfazamento chega a ser irreal.
Descubro o que não procuro porque esse levou-me às encruzilhadas da minha existencia.
Sempre procurei o meu homem ideal.

O meu homem tem que ser grande
Pode até não ser alto mas erguerei sempre o meu olhar para o ver
O meu homem será pensante
Terá a mesma sede de viver
igual à minha mas em confronto
o suficiente para ambos sonharmos em conjunto
O meu homem tem que ser bom numa arte
Para que o possa sempre admirar
Dir-me-á os seus defeitos baixinho
antes que eu os possa ver
e em troca por cada um, dar-me-á um caminho
que nem eu saiba ainda seguir.
Teremos visões diferentes
Nunca haveremos de ceder
a não ser porque nos olhamos
e sorrimos
O meu homem há-de ser rico
Para me oferecer sempre uma prenda
que eu nunca adivinhe
rico de ideiais
de horizontes
com um mar nos olhos para eu me perder
Far-me-á tremer
Terá umas mãos grandes
e cheiro a terra molhada
e hão-de haver madrugadas
em que ele me acorde
porque há coisas que precisa de me dizer
E outras noites em que as gentes adormecem
e nós havemos de partir
sem rumo mas com destino
Os silencios falam
As palavras encerram a nossa vida
porque este homem me conhece
muito mais do que mostro
E quando numa noite de chuva
as lagrimas me escorrerem da cara
ele há-de entender
que choro enquanto sorrio
que nada sei
a não ser o que sinto
que esta alma carente
diferente
se descobriu nele

Keith Jarret- Live in Koln


Cheguei a casa, com este concerto a acarinhar a minha memória.Este cd ensinou-me o desvio dos sons banais, tinha 15 anos.
Precisei de ouvir duas ou três vezes até começar de facto a gostar. Aprendi a ouvir.
Hoje, a nostalgia trouxe-me até aqui.
Ouço-o enquanto escrevo. Deixo-o aqui.

Homenagem a dois Algarvios

Herminio da Palma Inácio.
Hasteou na sua vida uma bandeira a que chamou liberdade.
O "Homem perigoso"
Um "revolucionário ingenuo" e preocupado com as suas gentes.
Fica a memória naqueles que sentem a conquista da liberdade.
Liberdade não se protagoniza nem tem partido.
É vivida apenas
É sentida.

Anibal Cavaco Silva
Semblante inteligente, com ar de quem pouco dorme, homem brilhante, convicto, culto.
70 anos.
Parabéns Presidente!

Pai


De lagriminha no olho, revi o mail. Revi o homem que amo, o pai que me ensinou a sonhar.
Não resisto a postar o texto. Mais forte que uma tela.
É este o meu pai!
Hoje apetece-me escrever. Ou escrever-te.
Desafiaste a alma boémia e aventureira de viajante.
Ilustrei-a numa passagem breve pela serra do Pilar, bem quase na foz do rio que nasce em Espanha e que calcorreia terras lusas num incessante serpentear que nos inebria e entontece, trôpego sem saber para que margem cai. Com a serra do Pilar dizendo-lhe adeus, aí sim, corre luminoso e calmo.
Descreves-me o disfrutar de passeios calmos por essas águas límpidas, "embalado pelo som do comboio que sempre (nos) transporta para o país das lembranças", para o país nunca visitado e do qual, estranhamente, tantas saudades temos. Quer em Tua, ou no Pinhão, é depositado nas gares que te lembram desertos e te projectam para paragens longinquas de significados profundos, por onde reminiscencias te trazem á memória uma "boca e um coração cheios de chegadas, de esperas, de partidas, de encontros e de desencontros! Um bocado de vida, afinal.
Tambem este caminheiro por lá andou, mas ficou-lhe na alma um certo vazio de aventura, o que reclama o frenesim pela descoberta.
Em breve a lobriguei para alem da ultima estação do comboio, em Barca de Alva, ao virar para norte, no serpentear ao longo de uma fronteira que separa terras xistosas, de um lado portuguesas, do outro castelhanas. É o Douro internacional, o que brota nas terras frias de montanha e se escapa por entre arribas escarpadas onde nidificam o pombo, o abutre do Egipto, os grifos que se alimentam quase exclusivamente de animais mortos, e outras aves de rapina, tantas que surgem nos ceus, grandes, como nunca havia visto. Como a águia real ou a águia de Bonelli e o milhafre.
Mais difícil de ver será a cegonha preta, também chamada Ave Peixeira, uma autêntica jóia no reino das aves do Douro.
De quando em vez perco-me à conversa com pastores perdidos no tempo e na paisagem, os rebanhos vigiados, os pensamentos vagueando por entre poesia ou o indagar das coisas estranhas dos homens. Contam-me historias de sonho, falam-me de vidas, tambem vagueio por entre a realidade, o mito ou a lenda, e são eles que me indicam, lá no fundo das escarpas e nas rochas bordejando as águas, as inúmeras pinturas rupestres que por lá abundam.
Sigo ao longo dos cento e vinte e poucos quilómetros por terras transmontanas, ido de sul, pernoito na terra natal do poeta Guerra Junqueiro. Aconchegada por amendoeiras e oliveiras, Freixo de Espada à Cinta bem pode considerar-se a capital do manuelino, tantos os pormenores nas janelas e portas, nos cachorros junto dos peitoris, ou nos múltiplos brasões ostentando um freixo com a espada.
Terra de judeus, famosa pela sua torre octogonal cor de pergaminho que bem poderá contar a lenda que envolve o nome da terra e pelo poliptico de Grão Vasco existente na Igreja Matriz, que muitos dizem ser uma miniatura dos Jerónimos.
Uma casa que se refere como a Casa da Santa inquisição, mas que logo se contesta alegando-se ter sido uma Sinagoga.
Leio o poeta que tão bem descreveu os locais por onde calcorreou, por entre oliveiras e amendoeiras - "Cenários para um profeta ou para um salteador" - , e como que vislumbro tempos de antanho quando aquelas gentes conheceram o fabrico da seda.
Desafio a coragem para subir até ao Penedo Durão, promontório que irrompe a prumo sobre o rio. Impressiona só de o ver ao longe. Magnífico, apenas! Contenho-me nos adjectivos, enquanto as pernas ainda tremem. Uma vez nas alturas, naquela varanda celestial, como que sonho através da grandeza do vale e alargo o horizonte para além de terras de Espanha e aldeias do meu Portugal, percorrendo a vastidão de vinhas, pomares e os olivais que crescem nos baixios vizinhos de Lagoaça, Mazouco.
Deambulando nesta aventura gratificante para a alma, também o corpo requer fortalecer-se. Não dispensa os prazeres dos sabores e aromas que embriagam o espirito: o pão regional cozido em fornos de lenha acompanha o melhor presunto, salpicão ou chouriça com azeitonas. As trutas recheadas, o javali e a lebre estufada a rematar com deliciosas sobremesas fugitivas dos conventos... os doces de amêndoa e de ovos, o leite creme...Um pouco de tudo isto enquanto se repete a indispensável posta mirandesa!
Leio ainda o poeta que me tem guiado por entre os penhascos e desfiladeiros, as amendoeiras que regam os caminhos pedregosos - decerto que só contrabandistas andavam por estes atalhos de fim do mundo.
Em breve chego ao cenário que ele descreve como "tormentos de trovões de pedra": - a Calçada do Diabo. Só ele poderia guiá-los!
Quedo-me em fim de jornada, a alma prenhe de sensações díspares. Contemplo um pôr-de-sol roçando as rochas que o querem esfarrapar, deixo-me enlevar na quietude da tarde.
Não há palavras que descrevam o que vejo e sinto. Ficam-me as emoções na memória da magia e do mistério de uma região inesquecível e a saudade de lá voltar.

Manuel Aleixo (pai)

Saudades

Tenho saudades das manhãs frescas e do cheiro a feno molhado
Das cores laranjas e das faces queimadas
Tenho saudades dos cantares
Das madrugadas
e das histórias antigas que os velhotes contavam.
Tenho saudades dos sonhos
Dos olhos que brilhavam
Tenho saudades do rio
das azenhas
Tenho saudades de adormecer de janela aberta
desperta
de corar por quem me descobria
de me esconder
de me encontrar
Tenho saudades de brincar
da minha bicicleta
Tenho saudades de Mertola

Mulheres

14 julho 2009

Frases para recordar

Sandra, vamos ser claros e objectivos.
Sandra, há que fazer uma análise ponderada das coisas.
Sandra, pára!

Se por acaso leres, já não precisas de repetir. Vês? Já sei de cor!!!

Viva la vida

Cumprimentei o sr. Herminio e sentei-me para almoçar. O ecran na parede debitava noticias sem interesse nenhum, a meu ver, porque a mim, o que me preocupa é estar a meio do mês e a conta negativa, é sentir-me enfaixada em contas para pagar que até parecem apelativas a quem ouve dizer. E agora descobri que tenho o vidro a rachar e nem sei quanto é.
Acho graça à quantidade de vermes que, depois do acidente, me vêm perguntar como foi. Como se eu soubesse ou quisesse dizer.
"Ele estava a fumar, não?'"
Outro dia no Gigas, disseram que o homem ficara impotente. Mas de onde vem esta ansia de podridão? Não vêm as noticias? Não sabem que afinal não se passa nada?
Apetece-me gritar às vezes.
Chamar nomes às pessoas, acho que me ia sentir melhor.
A rapariga que serve às mesas é engraçada e também lhe ficava bem um palavrão. Aos homens, desmancha-se em sorrisinhos e a mim prega-me com o cesto do pão.
- Já só há frango... (nunca comi aqui mais nada a não ser frango)
Abro o meu Plano Infinito que ando há meses para acabar de ler.
Tenho calor, dormi pouco e sinto-me cansada.
Chego a ter saudades dos almoços aqui com o sr Aleixo. Pelo menos ele fala e eu como outras coisas sem ser frango.
Tenho umas musicas na cabeça.
Ultimamente, a musica comove-me.
E voilá, para variar, eis que chega a cambada do gabinete de contabilidade que só mulheres, são umas quinze. O resto da minha refeição de uma perna e um peito de frango é passado de olhar fulminante para esta gente. Gritam e riem e guincham, todas ao mesmo tempo. Todos os dias é isto. Não evito olhar para debaixo da mesa e divertir-me com os sapatinhos e unhas pintadas de cada uma. Se calhar, devia calar-me, com as minhas sandalinhas cheias de pó.
Não me consigo calar.
De onde é que vem esta gente?
As conversas andam à volta do "Dança comigo" e da não sei quantas que arranjou casa em Alcanede. E por fim, há uma que enceta uma risada quase histerica com uma piada do obviamente patrão.
Fecho o livro com meia página lida e digo à minha simpatica empregada de mesa que vou beber café lá fora, até porque tenho os nervos em franja e quero fumar um cigarro.
Dai até respirar fundo de novo, quase meia hora. O multibanco não passa, o café não vem e para pedir factura quase preciso de me vergar.
Há dias em que detesto esta terra.

Canibalismo

Por conceito, Canibalismo consiste no ato de consumir uma parte, várias partes ou a totalidade de um indivíduo da mesma espécie.

Palavras exactas.

Quantos andam por aí a fazer isso sem ninguem lhes chamar canibais?

Assim de repente, lembrei-me de uns quantos...



Consumir é comer, devorar, gastar. Tirar bocados.

Esta implicita a ideia de que, consumir implica que nos falta, que não temos e se, dissermos "vou comer uma gaja", vou buscar o que me faz falta. Será que não deixo lá nada em troca?

Noticia

Acções de Formação para Coveiro?

O objectivo é melhorar a performance da actividade e a eficiência no exercicio das funções?
O que é isto?
Dinheiro a mais?
Noticias a menos?
Ou mais uma forma de nos manter estupidamente a sorrir de boca aberta?

Era


O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
Eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava.
Era tua a tua voz que dizia as palavras da vida.
Era o teu rosto.
Era a tua pele.
Antes de te conhecer,
existias nas árvores e nos montes e nas nuvens
que olhava ao fim da tarde.
Muito longe de mim,
dentro de mim, eras tu a claridade

José Luis Peixoto

Luz


Atrás de cada porta, teria que haver sempre uma luz...

Cá fora, a escuridão que me chama e encanta, tão mais cheia de mim!

Vejo uma lua quase cheia.

Vejo um caminho que me aguarda.

Vejo mais, vejo a madrugada a chegar.

13 julho 2009

Sonhar

Mais que apenas imaginar, vou sonhar.
Vou criar, o meu presente e dar-te as minhas mãos amanhã.
Vou sonhar que vês mais do que eu te mostro, que ouves para além das palavras e que o meu cheiro se prolonga para além da distância.
Vou-te acordar num campo ao amanhecer, num despertar de sons de vento e beijos ternos, vou falar baixinho para te ouvir, e a seguir, vou-te mostrar o mundo que criei. Tem tempo, e vês? É tão grande como eu te vejo.
Tem os teus passos calmos e os meus pés descalços, tem a tua musica e um vestido que dança contigo, tem cores, tem momentos alienados e outros pensados só por nós. Lembras-te? As estrelas aparecem e entre dois dias, há um sol que nos aquece porque nos adivinhou.
Tem vida, unida e sentida nos gestos que criam, as tuas mãos, tem o tempo que guardei para te mostrar o que gosto, o meu sorriso por nada, por te sentir dentro de mim.
Se te olhar desperto, vou-te mostrar os caminhos que percorri, as musicas que canto e as pessoas em que me encontro, vou-te contar a minha história vivida, as margens que percorri de olhar no horizonte, as pedras que se soltam e me acalmam, e por fim, vou fechar os olhos, e mostrar-te como sou, despida de mim.

Pensar

Hoje pensei na nossa forma de pensar.
Na maior parte das vezes, limitamo-nos a pensar, parece-me pouco.
Apetecia-me antes criar.
Pensei no tempo ditado da minha própria criação.
Pensei na minha falta de tempo no tempo que me falta. Pensei... Não criei.
Enquanto penso, imagino, distorço e clarifico, tento entender sobre uma tela de pressupostos aos quais me prendo, envolvo-me e escondo-me, fantasio-me mas não me recrio.
Ontem, pendi a minha cabeça para trás e escondi tudo à minha volta, a minha cabeça explodia ao ritmo das cores e dos estampidos que constroem a minha vida, numa desordem ordeira, pensei que já tinha estado ali antes. Aquele tempo, pensei, já o sonhara antes, já o visitara.
Pensei que criara.
Cansa-me situar-me, sentar-me e enquadrar-me, penso diferente para me sentir igual, crio o presente que já antes vivi. Aguardo o meu futuro que não quero reservado.
Crio-me assim. Distante.

Penso e dispenso o tempo que perco a entender-me, o que ainda não começou. As cores e os sons são tão mais claras que as vagas de ideias que me ocorrem sem me socorrerem. E a minha volta, em todos os dias, deixo-me em presença na mesma proporção que a minha ausencia sentida. Sinto-me quase sempre perdida e, é aí que me encontro.

Não entendo a linearidade, apetece-me bater palmas ao silencio e calar-me na multidão, apetece-me gritar com alma e que tu ouças o meu silencio quando me transpiras de prazer, apetece-me não pensar e limitar-me a viver. Apetece-me desamarrar-me, libertar-me do que sei e do que me obriga a equacionar, criar sem pensar, por não ser mais capaz.
Não gosto do valor das distancias, gosto do tempo que me leva a chegar.

Não gosto de já saber antes de me dizeres.
Deixar-me-ias espaço para pensar.

12 julho 2009

Camargue

Lembras-te, pai?
Dentro de mim, um vazio que nos calava, que nos quebrava e, em cada dia, mostravas-me o tanto que sabias...

Lembro-me dos cantares ciganos, do cheiro a feno molhado, dos flamingos, das histórias que me contaste com vontade de contar ainda mais, lembro-me de me deslumbrar e admirar-te, como tantas outras vezes.


Hoje, não guardo a tua face marcada e o teu olhar para mim. Quis esquecer, por magoar demais. Hoje guardo estes lugares, onde me deixaste um sinal e onde me aguardas, na minha própria caminhada que precisei adiar.
Até hoje, pai.

Sigo-te até aqui. Seguir-te-ei sempre.

Hoje sei ouvir o que me dizias, sei olhar de frente, nos teus olhos e falar-te de mim.

Hoje, vejo-te cansado, desiludido, envelhecido, mas estes lugares e este tempo, ficam comigo, foram-me dados por ti!


Quero voltar aqui.

Vou-te levar comigo.

Perda de tempo

Vale o que vale, como aprendi e ouvi quem interessa dizer, como outros que me conhecem, mais do que em meras palavras.
O tamanho do ego quase que me atingiu, na arrogancia de palavras de um protagonismo e possessivismo do que não nos pertence. É quase patetico, ao ponto de alguem sugerir termos cuidado em pesquisar primeiro o titulo para não corrermos o risco de copiarmos. Não há pachorra!
Se fosses minha amiga, se me conhecesses, se me lesses, em vez de assumires uma postura redutora de autora que nem és, saberias, e enquanto bebessemos um chá, numa noite quente, contava-te o fascinio por um livro que me marcou, como tantos outros que, conheças ou não, não são meus, tornaram-se parte de mim.
Acho perda de tempo, acho arrogante e prepotente... Principalmente, os comentarios.

Até gostei de ti...
Até me surpreenderes num motor de busca.
Quanto ao excerto, pesquisa, faz parte dos estudos literários e do senso comum.
Parabéns!


11 julho 2009

Divagação pura

E tu, minha mãe pequenina, que por muito que sacudas, ainda és feita de terra e tens paixão "nas ventas", que me ofereceste este rabo arrebitado e nariz empinado, esta força dos elementos que valem mais que uma vida só contada, por ti,
Hoje, vou correr para ti e oferecer-te uma flor, não é amarela, como as outras. Há-de ser vermelha para pores atras da orelha e, a seguir, vou-te abraçar e dizer, "Bora viver?"
Vamos por um anuncio no jornal, dar-te um sinal e um user, vamos ver o mar outra vez.
Hoje estou assim, meia esgroviada...
Gostava de ter um padrasto.
Não era um qualquer, nem poderia ser. Nem comendador nem pastor, um homem especial, que te mostre o que existe para além dos horizontes definidos. Nem gordo nem magro, mas mais alto que tu, isso é importante e que te envolva nos braços e te ouça, falar de ti.
Sim?

A vida não começa aqui?


Parabéns minha tia!

Nestes dias, paro sempre e remexo nas minhas memórias, memórias presentes de tempos distantes, que me confortam e deixam saudosa. Não sei porquê, prefiro sempre essas, de quando era mesmo uma menina bem comportada.

Tenho uma imagem iluminada de ti, cheia de caracois e com um fado misturado com um sorriso na boca. Ainda sei de cor o da menina das tranças pretas e agora lembrei-me do Tio Eduardo e dos cantares alentejanos, vou mudar de ideias...
Pronto, já voltei a ti.

Estou aqui, sabes? Sou meio arisca, meia cabra, que atrasa sempre o importante. É como se o que sinto me bastasse e, por isso, os telefonemas que reclamas, ficam sempre para depois. Não percebo muito isso em mim, mas é assim.

Gosto muito de ti, minha madrinha, retive a tua cara fingida, todos os dias, sorridente, presente, naquele quarto quente onde me vi prendida, de saquinho na mão e sorriso na cara, sei que a seguir até eras capaz de descer aquela ladeira a chorar, mas para mim, o mundo lá fora, esperava-me de cara lavada.
Ensinaste-me o valor de não saber, de negar e contestar, a mais valia de não me misturar nos rebanhos desta vida. Também eu hoje pouco sei, mas estou tão cheia de vida, como sempre te vi.

Hoje vou ter contigo, de cabelo curtinho, muito curtinho, voz rouca, e prometo-te o mesmo sorriso. Gosto dos teus abraços, dos teus cozinhados, gosto tanto de ti!

Gosto das histórias que tu e a mãe me contam, sempre em versões diferentes, histórias que não vivi mas que se refletiram em mim, gosto dos teus abraços apertados e do teu cheiro diferente, gosto do amor que não tens só por ti.
Às vezes, apetecia-me contar-te, coisas só minhas, mostrar-te que não precisas de me explicar pelo tanto que te entendo, pela admiração e carinho que tenho. Penso em ti e vejo uma casa de fado e um xaile preto e acho que pertences ali. Sempre achei que há um tempo que chama por ti e até nisso me revejo, como se nada ainda tivesse começado ou terminado.

Gosto dos teus caracois dourados, da tua cara rosada e da tua voz calma. Sinto os teus silencios e os teus gritos calados, sinto as amarras do teu tempo e sabes, ainda te vejo a sorrir!

Parabens minha madrinha linda.
A vida não começa aqui?

10 julho 2009

Imagem

Ontem, mais uma vez, no meio da confusão e do caminho cada vez mais claro, estive comigo.
Daquela forma, somos a imagem que criamos e que eu sinto.

Vou ver

Obrigada Martinha.

Vou ver, estive a pesquisar e gostei!

Vou estar contigo e acho que vou gostar, muito!
Exposição na Casa do Brasil de Tânia Rocha

Tou contente mana...

Sei o que é., mana.. Mais , menos, mas sei!

Sei as conversas que temos ao espelho, sem causas nem justificação, apenas frases caladas que servem para "aceitar". Nas que falamos, aos outros, enquadramos conhecimentos teoricos, minimizamos, exageramos. Sentimos...

São os passos que damos na mesma direcção, com sentido e pouco sentidos, é a memoria que nos trai e a culpa que nem tem lugar. Imagino os pirolitos, imagino te a ti a disfarçar. São as vozes sábias em que nos custa confiar, porque a vontade verdadeira é virar costas e apenas viver.

Estou tão contente mana. Percebo a calma, que nem apetece partilhar, percebo a paz.
Gosto tanto de ti minha mana!
Ontem à noite, sentada na rua com um sol e uma lua ao meu lado e dentro de mim, assisti a um grupo de putos a brincarem às escondidas na rua, o sitio do mata era uma placa, e eu vi-nos ali, enchi-me das memórias que nos tornaram como somos.
Lembras-te mana?
Lembras-te do clube das sete? Das noites quentes na Avenida em que pareciamos finalmente nós, que descobriamos formas de vida desconhecidas, do jogo de monopólio em casa do Mário, da paixão que o João tinha pela Teresinha e que lhe dava direito a umas lambadas quando chegava a casa? Do Mario? Tenho aqui cartas que ele te escreveu. Daquele livrinho "O amor é o zelo do inferno", Do Franklin, lembras-te daquela descida alucinante do Pato?
Lembras-te dos gritos da avó para irmos para casa e nós não iamos, dos cornetos de morango e daquelas miudas parvas que tinham vindo da America e julgavam que eram superiores? Coitadas, não sabiam nada.
Porque ali houve tanta vida...
Gosto tanto tanto de ti minha mana!!!

09 julho 2009

Inicio

Se eu pegar num baralho, todo direitinho
Baralhar e misturar tudo
e soltar
Posso dar e começar...

Pensamento do dia

"É um tolo aquele que, verificando que uma rosa cheira melhor do que uma couve, conclui que fará também uma sopa melhor."

Esta deve dar para um anuncio dos que ultimamente tenho visto.

Quero

Quero tanto descobrir-te.
Já me descobri em ti
Penso, sinto e quero ver-te,
Mais que só tremer, quero ver-te em mim.

As palavras..

As palavras, falam, dizem, mas tal como esta mulher que leio, são mais gritos de alma.
Procurar sentidos na alma, em sopros sentidos, vividos que nem eu conjugo, tal como as verdades que antes me erguiam e que agora calam, tal como os opostos se alternam e completam e me fascinam ainda mais? No meu caos vejo ordem e a desordem define-me, a indefenição clarifica o caminho e a solidão enche-me de vida preenchida em ti.
Os espelhos refletem-me e afastam-me, o sol e a lua encontraram-se num momento em que ninguem viu, olharam-se, só para terem a certeza que que as faces se completam.
Os adjectivos oprimem-me. Acho que sou mais que isso. Às vezes sinto-me fundida em marés, revolta, num sentido que nem eu vejo. Para quê definir sem procurar antes o outro lado?
Penso no tempo.
No espaço que preencho a querer definir-me e apaziguar-me nos conceitos orquestrados do certo e errado e perco tempo. Não entendo as dicotomias pensadas, nao entendo a continuidade entre pensar e sentir, há fogo e escuro no meio, há vento que nos revolve, e assim me reencontro e desentendo.
O meu equilibrio está em não me dominar, o ponteiro não é certeiro, nunca seria pelo tanto que sinto. As palavras ordenadas são mentirosas.
Olho em volta e vejo.
Neste tempo.
Vultos sem alma, todos iguais, todos certinhos no mesmo sentido. Vejo-os passar e admiro-os porque me esqueço. Agora não quero. Não tenho tempo.
Loneliness is full of life!

07 julho 2009

Mulheres

Mulheres que gosto.

Mulheres que marcaram a minha vida
Que me acompanham na estrada



Já se esperava!

Safa-se da TVI, mas estes nem precisam de ir ao local, adivinham!!!

Correio da Manhã, hoje

Sem comentários e, a quem interessar, não foi nada disto!

Lua Cheia


Esta noite.

Enquanto me preparo, leio,

A lua cheia

Mostra-me por inteiro
A minha sombra.

Pesquisei


Fui pesquisar.

se puser só explosivos, não dá nada.

Mas se acrescentar desastre (normal), estou em primeiro lugar!

Sinto

"Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos (...) Eu queria oferecer-te o meu corpo para que o absorvesses no teu. Para que me fizesses desaparecer nos teus ossos."

Vergílio Ferreira

Polvo I


Foi o melhorzinho que arranjei.
Mas é mais ou menos isto!
Espero que o tamanhinho seja como o bigode, pelo menos, hoje olhei para as mãos e, pela teoria, é só tentaculos, mais nada!

Consciência II

Agora canso os olhos e liberto a alma que tenho.
Adiar o quê?
O companheirismo e a empatia tomaram agora conta de mim. Contra alguns e contra os outros, a lua hoje iluminou-me e aconselhou-me a encher-me, como ela.
Se me contasse a minha história, acho que rir-me-ia!
Afastei-me, separei-me, sem encontrar espaços, sem palavras, como sempre foi, sou bilingue e estou calada e continuo com a sensação que só me encontro mais à frente.
Ontem queria, tinha, medianamente esforçada, conquistava, e não via mais nada. Hoje sinto mais do que tenho e vivo, respiro tão fundo que me ouço, sei pouco.
É um sentimento forte, denso e invade-me devagarinho, contrario os conceitos que aprendi e rio-me dos artigos possessivos, leio livros antigos, reencontro aqueles que já não via, vejo espaço à minha frente.
Gosto desta calma que me invade a seguir.
Suspirei até sentir o mais fundo de mim. E basto-me, conheço-me, numa noite, num dia, hoje, amanhã, adiar o quê? Eu sinto!
Apetecia-me ler-me, estudar-me e entender-me e a seguir esquecer-me e apaziguada, limitar-me a viver.
Estou à espera de ser descoberta! Por mim?
E aquela palavra sentida...
Isto é novo para mim.
Vou pôr um anuncio na lua e tu respondes, por mim!

Polvo

Odeio aquele gajo com voz de santo!
E tem bigode!

06 julho 2009

Explosivos Desastre Explosão

Começo com o titulo bombástico na esperança de constar nos primeiros lugares dos motores de pesquisa. É isto que se quer, é disto que se gosta.

Antes disso, explodimos nós, de impotência, pela indiferença e hipocrisia reinantes.
Pelo meio ficam, talvez, as emoções e o suor de quem trabalha e acompanha, de quem sabe antes de falar, de quem vive. Para lá dos microfones, ficam as lágrimas da esposa anónima. Aclaram-se as camaras, buscam-se as as perspectivas ao jeito de quem julga e pensa saber.
Não sabem, nem poderiam, não querem ver!

Fica além do texto o meu silêncio e admiração por esta gente calada e sofrida, vergada a patentes pensantes e inconsistentes que falam, mandam, emitem e omitem, e esses sim, poderiam saber, em vez de se limitarem a roncar e sancionar.

É verdade. Houve um acidente. Haverá sempre aqui e em qualquer outro lugar onde gente simples trabalhar e outros olharem de cima enquanto se arrogam o direito de tutelar e regulamentar antes mesmo de entenderem.

É verdade. É perigoso. É cruel.
Vi o olhar de cada um, um a um. A submissão e o conhecimento que advém de anos de experiência e respeito por substancias explosivas. Não servem só para atentados, nem actos terroristas. Lamento informar que são mais nobres que isso. Servem para vos fornecer o prazer de se sentarem à soleira de uma porta de moca, ou cortarem fruta na bancada de granito, ou criarem obras de arte admiradas e iluminadas, servem para as vossas estradas e para as calçadas que todos pisam.


E para os que restam e se esverdeiam sob a bandeira da falsa ecologia, leiam antes e olhem em volta para o que saboreiam enquanto escarneiam "bocados de serra arrancados à vista", para a hipocrisia reinante deste e daquele que nem ousa sujar as mãos de pó e ouvir esta gente anónima e tão cheia de vida, que vos serve, que sobrevive onde outrora minguava de fome.



Gostava de vos ouvir, de vos ver sair de tras das secretárias e virem comer uma bucha, debaixo de um bloco sombreiro, quarenta graus à sombra e ainda rirem. Gostava de vos ver, calarem perante quem sabe e arrisca, mais um dia, à força das contrariedades impostas e conscientes por mais uma multa e um ego insuflado e oco das "autoridades"












Uns, arrojados, deslocados e revoltados, de capacete ou disfarçados, falam mas calam, conhecem, olham, olharam e perceberam, um acidente à vista de toda a gente, não foi inocente, mas seria evitavel, se outros, mais acima nos deixassem trabalhar.

Hoje houve um acidente.

Não foi uma explosão como a Tv gostaria, nem houve fuga de explosivos para Espanha como faria jeito a muita gente. Foi apenas e principalmente um acidente numa pedreira de calcario.
Uma pedreira que visito, que gosto, que forneço e onde aprendo.
Uma pedreira onde se transpira e trabalha e, na maior parte das vezes o encolher de ombros se torna regra.
Uma pedreira branca, toda branca, onde gosto de lavantar uma nuvem de pó, quando passo, onde o sr António se senta numa pedra a falar comigo e a Anabela um sorriso lindo quando eu chego.
Gosto tanto desta gente cuja voz hoje tremia...
Aprendi com esta gente e sinto hoje a regra básica que ninguém ouve. Transportamos, manuseamos, substancias que todos temem, respeitamos, porque raio haveriamos de nos pôr em risco?
Leis e mais leis, leis que não revogam leis, prepotencias de quem responde "É assim porque nós dizemos", perguntas sem resposta, pedidos, atrasos, lapsos sem acusação, risos debaixo de bigodes, não brinquem com a vida desta gente.
É deste lado que estou, aqui faço parte, sofro com eles, faço kms com o perigo comigo, para a seguir, vergada, ver-me obrigada a responder, sentir-me criminosa, perante aquele olhar irritante de quem não ousa fazer o mesmo.
Responder!
Deixem-se de merdas!
Queremos viver.
Queremos trabalhar! Estamos a tentar trabalhar...
Onde é que estava esta gente toda sempre que vos quisemos avisar?

04 julho 2009

Consciência

Isto tudo para não sentir....
De volta a mim,
o que vejo?

A persistencia da loucura.

Entendo...
A máquina,
A arte
O Lucro
A Inovação
O jogo
Até a beleza !?

Mas
Não me lixem
Isto não entendo!

Grande dupla

Eunice e Rui momentos após serem doutorados Honoris Causa pela Universidade de Évora.
A imagem diz tudo...
Lindo!
Ainda há quem se exprima afinal!

03 julho 2009

As minhas mãos


As minhas mãos mantêm as estrelas,
Seguro a minha alma para que não se quebre
A melodia que vai de flor em flor,
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do coração sustenta o ritmo das coisas.


Sophia de M. B. Andresen



Eu

( )
vazio
espaço
alivio
calma
olhar
magoa
carinho
mar
eu

tempo
histórias
música!!
memórias
cabelo
amigas
( )

02 julho 2009

Carta a mim

Hoje ouvi falar do tempo.

Pensei na intemporalidade do meu tempo.

Pensei na palavra alivio.

Na minha vida, acho que perdi tempo a querer moldar-me a valores e verdades

Revi na minha vida, o tempo em que perdi tempo, em que a certeza de ser capaz de conquistar o mundo me levava apenas ao esforço mediano para, em seguida me insatisfazer e

01 julho 2009

Vou te amar sempre

O teu olhar triste, o verde que hoje chora, que não mostra mas que eu sinto. Vi-te partir de manhã que para mim ainda é dia.
Ensinaste-me o valor da simplicidade, ofereces-ma todos os dias e eu, tantas vezes contrariada, acabei por me render a ela.

Temos um caminho grande, dificil, quase brilhante atrás de nos, traçado com guerras, vitorias, derrotas, alegria e dor, suor, empenho e muitas palavras que ficaram por dizer no remoinho de todos os dias. Mas sabes, as palavras que calava, feriam.
O teu olhar triste, com que te vi partir, partiu de mim, meu companheiro de vida que tanto lutei para conjugar. Não consegui.
Nem sei para onde ir, mas preciso de ir...
Sinto que me entendes, vou estar sempre em ti, como tu habitas uma clareira linda dentro de mim.
Sou complicada, sempre me o disseste, mas eu preciso de mim...
As horas passaram, os dias, os anos, eu amei, esperei, perdoei, errei, falhei, fomos tão grandes, rimos juntos, dançamos, vivemos e hoje, olhamo-nos ao longe de mãos dadas.
Sabes, é por mim... Desculpa!
Choro por ti e por nós, pela vida. Vou te amar sempre.

Sai-me

Ontem vi-me partir.
Não me apareço mais, não sei ver-me, nem ter-me, nem despedir-me, sonhar-me e acreditar-me, não sei nada. Sei amar-me, mais do que ao resto.
Não quero mais o reverso do tempo que preciso e não mereço.
O contraste entre a demencia e a normalidade, são dois compassos apenas, e no meio, resta o nada em que, sem espera, me enquadro.
Hoje ver-me-ei chegar. Dos passos faço tela e dela faço um quadro. Jogo cores ao acaso, são minhas, cores coloridas, feitas de sal na cara e corpo ardente, feitas de frio e de quente. Não me vejo, por isso engano-me. Respiro sem admirar mas preciso de me pintar.
Arranco-me de mim a ferros e afinal, sempre que olhei em volta, não me vi.
Faz de mim uma esfera e rebola-me por uma serra, ou então, faz magia, faz-me voar, na tua mestria, sopra com força para que o ultimo olhar seja por cima do mar. Faz-me fundir com os sitios que gosto para que me possa visitar de vez em quando, um dia.

Simone


Protegida, mimada, divertida pela incessante novidade das coisas, era uma menina alegre. No entanto, havia alguma coisa que não batia certo, pois tinha ataques de fúria, atirava-me para o chão, roxa e com convulsões. (...) Berrava tanto e durante tanto tempo que várias vezes no Luxemburgo me tomavam por uma criança mártir.

«Pobre pequena», disse-me uma vez uma senhora oferecendo-me um rebuçado. Agradeci-lhe com um pontapé. Este episódio fez rumor; uma tia obesa e com bigode, que escrevia, contou-o na Poupée Modèle. Eu compartilhava da admiração que inspirava a meus pais o papel impresso: através da história que me leu Louise senti-me uma personagem; pouco a pouco, no entanto, comecei a sentir-me envergonhada. «A pobre da Louise chorava às vezes amargamente, lastimando as suas ovelhas», escrevia a minha tia. Louise nunca chorava; não possuía ovelhas e gostava de mim: e como era possível comparar uma menina a umas ovelhas? Suspeitei a partir desse dia que a literatura tem uma relação muito incerta com a verdade.
"Memorias de uma Menina bem Comportada" Simone de Beauvoir


Este livro, não sei onde o tenho, li-o com a mesma vontade com que o enchi de nodoas porque o levei comigo a todo o lado até o acolher em mim. O melhor retrato de infância, para quem não se lembra dos antagonismos e dos acasos, dos deuses e diabos, do céu e da terra, de amar e odiar, que o leia. É preciso!

Bis

A unica coisa relevante que tenho a dizer é sobre uma criança que sobreviveu!
Porra!
O resto, pouco ou nada me interessa!
Venha o que vier, estou cá para isso. Tenho a quinta engatada e se for preciso, meto uma abaixo.
O Pib desce ali, vai estar ceu limpo e as Termas do Geres estão cheias.
Esta história de não dormir já me chateia. Ao menos que houvesse aquele concurso parvo de uma série de nabos agarrados a um carro até cairem. Se fosse hoje, enabava-me e ganhava! O carro, claro! Porque em matéria de vitórias e derrotas, era o resto do dia aqui...
O Micas deixou de falar com a Mariana para não a fazer sofrer. A Mariana deixou de lhe falar e refez a sua vidinha indo ver a Katy. O Micas está triste... Esta história repete-se...

Horas

Deitei-me e levantei-me.
O sol está a nascer agora. Nasceria sempre.
Estou sentada à minha porta, porta aberta, pernas cruzadas como sempre, nem sei porquê, e o meu amigo olha-me com ar de espanto.
Daqui a nada o meu dia reclama e eu, ainda desperta vou esperar por ele.
Escrevo de papel e caneta, sentada, calada e atenta. Devo o mesmo ao descanso que devo à vida. mas estas horas ensinam-me e escutam-me.
Mudei tudo e emigrei.
Não quero falar com ninguém, quero ouvir-me e saber.
Quero também eu despertar.
E, por favor, dormir a seguir, descansar!

A Obra em Negro

Chega...

"O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios".


Por hoje e até um dia, vou-me deitar e ler!
Hei-de acordar.

Escrever


"A escrita torna-nos selvagens.
Regressamos a uma selvajaria de antes da vida.
E reconhecêmo-la sempre, é a das florestas, tão velha como o tempo. A do medo de tudo, distinta e inseparável da própria vida. Ficamos obstinados. Não podemos escrever sem a força do corpo.
É preciso sermos mais fortes que nós para abordar a escrita, é preciso ser-se mais forte do que aquilo que se escreve. É uma coisa estranha, sim. Não é apenas a escrita, o escrito, são os gritos dos animais da noite, os de todos, os vossos e os meus, os dos cães. É a vulgaridade maciça, desesperante, da sociedade. A dor é, também, Cristo e Moisés e os faraós e todos os judeus e todas as crianças judias e é, também, o lado mais violento da felicidade.
Acredito nisso, sempre."
"Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem ruído."
Marguerite Duras, in "Escrever"