30 abril 2010

Nunca escrevi, crendo tê-lo feito
Nunca amei, crendo ter amado,
Nunca fiz nada a não ser esperar
Diante de uma porta fechada

M. Duras

Hão-de haver raizes na terra.
Serei nascente um dia

Ode à vida

Fiquei tão contente de te ouvir chorar, fiquei tão contente por me lembrar desse alivio perdido de despertar, sem saber das estações e do ébrio das esquinas.
Fiquei tão contente por acreditar tanto em ti como em mim.
Fiquei assim, de cara molhada pela falta que o teu sorriso  me faz, pela alegria de te ver desassossegada, de olhos postos numa seara que nos há-de semear.
Não temos mundos, não vociferamos, gritamos num silencio mudo.
Eu estou aqui, tão contente por ti!
Vou escrevendo o que faço, preciso de o fazer por ser novo, por ser a balada de um caminho que mal conheço, por isso vou escrevendo, mais tarde, dar-lhe-hei as cores da lua, misturadas com um ocaso  por sobre um mar calmo, chegado de pássaros  e sonhos. 
Sinto-me estranhamente comigo, nos detalhes que agarro com força, nos espaços e nas conquistas que são pequenas aos olhos vividos. Os meus ainda não. Tenho a casa limpa, arrumada à minha medida, uma rotina que os meus amigos já conhecem, tenho livros espalhados pelo chão e conheço~lhes a direcção. Tenho uma caixinha com chá, descobri que gosto do ritual. 
Não é facil para mim, eu sei, é como reviver as construções de legos que sempre gostei tanto.
As palavras vão-me situando, o desencanto é fundamento, e a ausência ergue-me de uma dormencia sentida, de um sono que me agita ainda agora. 
Sinto uma bofetada bem dada, sem cores, sem nada, uma lição profunda que tardou em me chegar. 
E eu creio ainda, em tudo o que me trouxe aqui, creio no sentimento, na solidão cheia de vida, creio em mim e no que me faz.
Tenho saudades da minha irmã, muitas.
Sinto-me sozinha muitas vezes, mas se o sorriso me vem, é definitivo, foi construido por mim. Se a saudade me habita, agradeço-me sentir desta maneira, sem retorno, sem eco em não sei quantas direcções, é só porque sinto, e estou viva.

???

Sempre que tento situar-me, engano-me... sou péssima nisso, já vi. Entram-me pelos ouvidos palavras convictas, disto e daquilo, e eu não desconfio, bebo-as na proporção de verdade.
"Ai, comigo, fazia assim e assado", "Eu estou bem comigo, não me importa o que dizem", "Eu sou grande por isso sei..." E eu bebo, e penso, que se dissesse o que sinto, ficava enfiada a um canto com orelhas de burro, ou talvez, não.
Eu não ouço acerca da vergonha, das rugas que se escondem, do sentir-me sozinha na multidão, eu não ouço  o cabo do medo por ser tarde num erro que não se admite, não ouço a voz do silencio quando o sol ilumina, nem ouço o grito de fé, quando a penumbra nos esconde, não ouço a maré contrária a uma lei qualquer que nos mantém à tona, numa média ponderada, numa equação sem icognita, uma soma de axiomas que não dizem nada a não ser o que saberia numa qualquer cronica.
Ouço o orgulho e alma cortada gritando que vive aliviada, quase orgulhosa do seu mundo, ouço a noite bramindo, hoje sim e logo não, mas o som é o mesmo, soa baixinho em várias direcções, ouço a voz engasgada de tão alto que fala, vida embargada, emprestada do cansaço, vejo a igualdade içada à laia de moda, mas precede o desentendimento de uma simples amizade despida de carne, e eu, pequena, ergo as mãos e desencontro-me, não sei. Não sou grande, não sou mesmo, ainda acredito, sou aquela alminha estranha que se faz mais pequena ao som dos gritos. 
Fachada, somente
Tenho os joelhos esfolados de tanto que caio, choro até me secarem as lágrimas, ainda creio que a vista é melhor do cimo das árvores e sinto o cheiro impregnado das estações, tenho medo do escuro e do "eu também", tenho medo de me ter dito que tinha, vergonha ainda me ferve, por contar a minha história.
Vergonha me deixa, se ao sair da beira da razão, me vejo, no sim em que creio, no anseio que me devo e prometo e custa a sentir. Se sinto, tenho dentro, um rasgo profundo que a mente dispersa, tenho ainda a pressa que o tempo me roube, e nas mãos, um ramo que vou colhendo, em campo aberto de cheiro.
Por isso, sinto-me rica, de tão pobre me conheço, por isso me agradeço, mas só agora, ter visto lua na noite, julgando ser dia desperto, me dispo nas noites frias e creio ter a cara ardente, por isso me esqueço de tanto que quero lembrar-me de um punhadinho de momentos, mais verdades que vida, mais cheios que eu.



29 abril 2010

Cais de pedra

Tinha escrito no espelho, que o meu bem meu mal, estaria num prato servido numa mesa posta por mim, com dois copos, duas velas e um ramo de alecrim, para não me esquecer de onde venho. Tinha uma foz no olhar, sem ter visto de onde vem a agua que me corre no pensamento, engano tremendo que precisei sentir. Estar sozinha era uma imagem desfocada, vazia, sem cheiro nem eco,  era qualquer coisa infernal, uma saliência na pedra que dizia "não mereço, não tenho..." .
Nas minhas mãos, escondia um querer só meu, uma fonte de vida que nunca encontrei por igual, nunca soube afinal, este meu cheiro, esta vontade, eram pedaços deixados na beira de uma estrada, sem retorno nem fundamento, e eu ouvia falar da vida, como um voo de pássaro, como um grito, e eu pensava, não tendo asas, serei eu que minto? Vendi-me em troco da terra, onde pisava calçada, terra estranha, sem semente, sem o horizonte desperto sempre me saudou. Medo, era a angustia de me saber presa e fugidia, enfeitada de uma magia, que só ela me dizia, por os passos serem só passos, e os actos não mais que isso.
Espreitei uma esquina, uma musica nova, de uma angustia que me secou a cara, um gesto de ensaio, face de outra lua que me ilumina.
Saudada a saudade, um molhinho de penas, um ensaiar de asas, encantada com uma sensação nova, tão estranha, uma vontade só minha, ninguém me espera, nem me pensa, e eu pus-me bonita, e lavei a cara que não pinto, e trouxe uma roupa que escolho pelo reflexo no espelho, e andei a distancia que nem sabia, e trouxe os meus amigos, e trouxe o que me habita, e vim aqui conversar com o mar, neste sitio que mal conheço.
Tem silencio e o marejar como um conto, tem o retorno do meu sorriso, nas faces de estranhos que vão passando, tem os meus amigos que correm alegres com medo das ondas, e se dantes me quedava em palavras, mensagens e adereços, aspiro este cheiro, respiro fundo, ajeito o vestido que trouxe. A arriba já não me tapa a vista, deixa-me adivinhar o futuro, as marés serão como vierem, e os pássaros não partiram.
Uma senhora dinamarquesa, sentou-se à minha beira, pela conversa, a descoberta parece a minha, procura sem esperar que encontre, e as palavras dispersas falam do mesmo. Num segundo, conto-lhe a versão sentida da minha história, do outro lado do mundo, não sou estranha afinal, e o que sinto é uma vergonha tremenda... 
Como me fiz capaz de doar a vontade? Como me pude prometer tão pouco?
Retornei estranhamente contente, fui cantando pelo caminho, percebi, percebi, esta descoberta sabe a mim, está no gesto.. Está em mim.

28 abril 2010

Nascente no fim


Sinto este sentir como um rio regressando à nascente que saltou na pressa, perto de um fim, reconheço o principio, ditado na voz que antes ouvia e não conhecia. Sinto o caminho como uma fonte onde me refresco, numa planicie soalheira que vou descobrindo, devagar, olhando em volta. Outrora, Adamastor, é agora um cabo distante, uma ponta de oceano que me descobre os sentidos,baixinho sussurra um brado novo, uma calma feita de mim, tão estranha...
A solidão cresce-me na saudade e esta foi a nascente do principio, foi agua que corria distante, e eu não bebia. 
A minha porta abre-se, chego a casa cansada, noite já farta, e respiro do fundo de mim, se mentira fosse era a chegada, que hoje é uma sala vazia que eu encho, de chá, de mim, de uma ponte enfeitada entre o vazio e a nascente de me saber assim.
A nascente, nasce, nasce agora como um sopro que faltava, saber estar assim, sozinha, fazer de cada pedaço de tempo, decisão, a medo que seja sentida, a medo que seja minha, que seja a tristeza misturada com alegria, que seja cada degrau coerente de uma escadaria.
O sofá que antes me cansava, é grande agora, sobra comigo deitada, a sala tem cores novas e quando chego a casa, há uma tela em branco, um silencio que já anseio, e dobro cada cabo de medo, e almejo a calma que trazia, e falo alto para me ouvir, e pinto e choro, se for preciso. Nascente, só isso, o desconhecido do principio, estar sozinha, saber-me assim num abraço.
Tenho em mim, um mar revolto, a distancia por herança, tenho o cobro do chicote que guardei a um canto. Aspiro o ar fresco da noite, adormeço o corpo carente e vou despertando, a caminho da nascente que tenho que saborear primeiro.

26 abril 2010

Já há tempo, sentava-me à noite, na cama. esperava o sono que não vinha. Tinha o compromisso de escrever o que o dia me dera, e eu escrevia, mas a seguir procurava, uma musica, uma quadra, um poema, que mais me desse que só isso. Que me embalasse num sono sonhado, que eu esperava acordada.
Chorava muitas vezes, um choro sem nexo, chorar pelo alivio, pelo aperto, e as musicas que vinham, do fundo da minha memória, eram um carinho sentido, que a fé me oferecia.
Como agora, que me despeço, uma despedida tão longa, tão profunda, lembro-me destas musicas que outrora, cantava por cantar, musicas que me ensinaram, no colo de uma viola, num abraço que sinto falta, da minha velhinha, daquela calmaria que cantava baixinho, a dimensão de um mundo novo.

Vou-me então

Vou-me andando, então...
Vou-me adormecendo ao toque sereno de uma canção, fala de um caminheiro boliviano altaneiro, mestre de sentido portanto, fala de uma ceifeira de tez morena e lenço habilmente apertado em volta do pescoço, colhe o trigo com a sabedoria herdada, acresce a vida que lhe corre nas veias ainda arabes. Fala de um mendigo que passa à beira do caminho, de olhar ausente da loucura que não sente. Fala de cada hora, noite ou dia, que me afaga, numa caricia nova, conquistada. O refrão, é o silencio, como um tronco despido de sobreiro, já talhado, mas imperceptível no cheiro e no trato. 
Vou-me andando então...
Chorando e rindo, contente de fachada, sofrida por dentro, angustiada, de uma falta que me persegue, uma solidão que se fez lição de prata, um alivio porém, de uma fé que não me ousava. Fé fundamentada, assim sendo, etapa discorrida de madrugada, feita mundo, envolta em nada.
Vou-me andando que tarda..
E se esta voz me não fala, pela face quente que me guarda, , farei um conto somado ao que canto, deste passo engasgado, deste caminho que não conhecia. É certo, senhora, devia tê-lo visto, devia ter gritado ao meu ouvido, nada se esconde na sombra, nada justifica a noite escura, e se mentira houvera, seria retornar ao breu vazio de pedaço longo de penumbra. Faz-se força no arado, não se empurra, não se roga, semeia-se o que se colhe, se a chuva assim o quiser, se a terra lhe aprouver, se o sol não se esquecer. Pede-se assim, pois então, que nada vem sem razão, nada se move ao acaso, senão deuses e diabos, senão vento sem expressão.
Vou-me andando chorosa...
Que a partilha, não a sei, nunca tive, não conheço, conheço o silencio acompanhado e o mais silencio falado que saboreio agora comigo. Sabe salgada e adocicada, como fruta e carne fumada, sabe ao futuro lembrado, que as minhas mãos anseiam tanto.
Vou-me  então, assim andando...

24 abril 2010

Quem não me dera saber da vida,
crer num violino antigo que ensinasse
Quem não teria promessa vã
que aprouvesse ou desgraçasse?

Quem seria se o não fosse, outra margem
por um dia
Quem não quisera a razão, sem uma vénia, questão
Quem chorasse, sentiria, silencio tanto nas mãos?

Perdão à vida, 
Ouvir-se-ia
um rasgo mais que um brilho
terra solta, exaustão.

Houvesse quem não me desse mais que um lampejo,
uma voz rouca, 
sem norteio e ofensa, sem o desbrilho das teses
Sem caves flamejantes de orquestras
Um ruido que se ouvisse,
que não fosse senão gemido
Um não ser cheio de brilho
carvalho robusto somente.

Quem não fora, que aprendesse
o vaguear brando de um pendulo
Sesmaria, maldizente
Fumo negro, feito branco

Houvera ainda o silencio e raiar de desencanto
manhã clara, nevoa minha
e um sopro mais que uma vida
um momento, se mais não fora.

23 abril 2010


E isto tudo somado e noves fora, fico-me, claramente significa, adormeci num mundo igualmente adormecido, despertei, espetei-me ao comprido, vegetei, armei guerras e caos, pintei esferas no vazio e enfiei-me numa cela comigo, uma estranha. E agora? Agora preciso, era o que me faltava cair de novo na guerra ou na dormencia, e por favor, não quero paz, quero mar, quero terra, quero o que for preciso, que o meu sonho foi o fruto desta porcaria, deste lixo. O homem não existe, fragmentos, espelhos e transparências, talvez por isso o aluguer de prazer não exista nesta margem. o Homem existe, existirá um dia, sem ofensa, ironia ou dormencia, sem a calmaria da certeza, um louco, um viajante, capaz de me ver, antes de mais nada, Depois, agradeço, as palavras e as feridas, desconhecido, por descobrir, em fuga e presente, sem defeitos à primeira vista, um lixo de vida por dentro. Forte, e de lágrimas na mão, adição de mil estações que não foram nenhumas, esperança, desconhecimento e desassossego, e o que não conheço, uma tela em branco, muito maior que a minha, una e principiante.

Desfasando

Os modelos desviantes, conexos, coerentes, axiomas que se dizem experimentados, fazem-me pensar em concreto, divagar portanto, fazem-me apelar ao que conheço e ainda não, não os encontro, são objecto de experimentação empirica, amostra sem resolução.  A visão estende-se ao universo conhecido, só isso, o resto, extrapolação.
Certamente que a minha visão seria sempre do tamanho do meu alcance. E a extensão do mundo, teria este caos implicito, negociação perante o desconhecido. Cresce-se de olhos cerrados no erro, muito embora se pense, no desejo de não ser preciso. Disseram-me ao acaso, enquanto apanhava do chão os bocados do telefone espalhados nem sei onde, que o meu dar estimulante seria o fruto de uma mente sem descanso, e eu fiquei não sei se cansada, se envergonhada, postada no principio da analise. O mundo converte-se em dimensão, um mesmo elemento multiplicado pelas intersecções, não havendo não há, se há é do tamanho do que se alcança. Não sei, não me interessam limpezas, agradam-me apenas, não saberia nunca responder a perfeição. Eu revejo-me no lixo temperado, na exaustão, nas mudanças de universo e consequente mutação. Vejo-me na vergonha de uma conversa amena, de uma lagrima, quatro mãos dadas e uma pergunta, é medo ou descrédito, e nenhuma respondeu.
O simples caminhar na praia, sem direcção, tem sido um mundo revirado, de outro que não via, não podia, o  meu olhar embargado, pedia horizontes e abraços. É ainda dificil, tem peso, e eu penso naquele homem à beira da estrada que oferecia numa banca, os frutos das arvores que não comia. As arvores eram suas, os usofruto tambem, mas o desinteresse oferecido, digno de ofensa ou simplesmente uma dadiva generosa a quem não semeava a terra ainda. E lembro-me de um rapaz ausente, de tão presente em si, que ainda hoje me acompanha, não tendo, tinha tudo na musica que oferecia, e eu na altura, encantada, não entendia, e hoje lembro, e admiro, a demencia de ser a vida, pretender ser. 
O silencio que me aguarda, quando volto, já tarde, que me rasgava no medo, e no cansaço, parece agora uma tela em branco, e eu ligo tudo, e pinto e ouço musica que não me lembra nada e aspiro o ar fresco da noite no alpendre, não a madrugada.
Fazer é o que o mundo entender, crescer é pisar nas calçadas que escorregam, é chorar e dizer alto, o mais alto que se puder, estou errada. A essencia está no principio e não na aparencia pretendida de desfocamento e mistério e analise. Já não pega.
Fechei os olhos à pergunta, tenho dificuldades nestas coisas, três cheiros... Escolhi terra, mas ainda perguntei se não podia misturar o oriente, não dava, então é só terra, mas muitas. Tinha saudades de me tratar bem, cortei o cabelo, mais comprido de um lado que do outro, para me parecer igual afinal. Escolhi terra pela palavra, e deitei-me num ambiente quente, de aromas e de um sabor refrescante que me entrava na boca, Beijei os cheiros de saudade, senti um arrepio na espinha ao toque dos dedos, e uma musica, Deep Forest, que ia e vinha, como me iam os sentidos, um a um, voltariam mais despertos.
Parti de mim, um momento, um prazer profundo das pedras quentes que adormecem a mente, o cheiro da erva, o granito negro nas paredes, escondiam um qualquer branco, por um instante, senti a loucura da profusão do género, fez-me feminina um corpo igual. Bebi vinho da terra, adormeci as revoltas e os desnorteios, reconheci cada musculo cerrado, cada pedacinho de mim beber a agua, jorrada de algum lado que preferi imaginar. 
A pequenês dos sabios, lá fora na algazarra, diabos volantes, dançantes em volta, o barulho da cidade, a guerra e a paz, pensei num mundo.
Um mundo pequeno, feliz, de gestos meio secos e poupança, poupar de palavras e dádivas, um caminhar repetido nas calçadas. pensei nos maridos, companheiros, nas telenovelas e lava louças, pensei nos sacos do modelo ao fim da tarde, nos passeios na margem nos fins de semana, nos filhos de rosa e bola, nos pedidos satisfeitos que preenchem o vazio. Pensei nos casais que se beijam, nas ferias na Tunisia, uma vez que seja, em bicicletas e gavetas, nas revistas e pescada cozida ou carapaus laminados. Pensei na Caparica e em toalhas de praia e sombrinhas. Pensei que um dia, teria entendido, ser capaz de entender. Questionar um mundo em que um gesto dura tanto. Depois pensei num livro, viagem e alto mar, pensei nos fins de tarde, das conversas excitantes, palavras novas e sentidos. Pensei numa infancia de perguntas mais que respostas, no nunca chegar, ter um 18 poderia ser um vinte no degrau mais alto, pensei num caminhar fora da porta de abrigo, pensei no amor tanto que conheci, nas faces, culturas. Pensei no Monte Branco, no Alentejo, nos bares de oitenta sem horas, no vinho branco das Primas, nas horas sentada no Adamastor a ler mais que sabia, na Bolsa de valores, pensei na droga, na vida alta e escura.... E o meu corpo era um todo, um instante, e eu pensava, divagava, laços de medo que se espraia, e a agua aquecida do centro da terra, a cascata, a vida de um mundo exigente de pergunta. E eu lembrava, ser um dia uma cachopa que sabia precisar de saber mais. O desvio é da igualdade, o que me soma da verdade são as calçadas que me ferveram nos pés, sou a adição de cada verão, a lição ferida em cada estação.
Aquecida, calma, o meu corpo ainda dorme no tempo que me conquista a mim mais que passa. Não sei por fim saborear as despedidas, "desapetece-me" a agonia da igualdade ofensiva, sei-me fraca ao ponto de pretender o sabor da descoberta em tentativa, espreito as esquinas, as janelas, ouço as conversas, conheço caras novas que como eu são gente pequena à descoberta. Dá-me a sensação de um dia, que deixei que se atrasasse à espera. Atraso de sabedoria que a experiência me falha. 
Há tanto tempo que não sorria, sem que alguém me pense, é como uma oferta digna do erro e da desordem, esta calmaria sofrida feita de esperança. Atrás da porta ficou vida, morte, que eu preciso sorrir às manhãs às pessoas que ainda não conheço, preciso de estar presente nas conversas, nas noites quentes de palavras que perguntam como eu, sem resposta, por isso se vive, se perde e aposta, por isso se cai, se nega e se pinta, que não basta a resposta da mentira, e a justificação na boca.
Penso na herança desta história, na minha, liberdade de expressão, penso na destruição do vazio, se mentira havia era essa, olho ao longe o sabor da lição, nomes estranhos, perdidos, uma relação nunca sida, negação,    a culpa imposta das palavras e mestria cegas, a gargalhada da estação, um atear de um ego somado,  uma ferida que me cresce na mão, que lambo com carinho,a medo. O "atravancar" do património, e das questões que não cabem na soma. Penso no medo que não falo, que me acompanha, em cada direcção, já o conheço, "E agora? Não vejo? Estou cega neste nevoeiro mais claro?"
Por isso, agradeço, ser a soma disto tudo, ser pegada desconexa e esquecida, ser sim ou talvez, ser um não fora de época que   lhe dá razão, subtraída, sou o que fica, tirando o que não me pertence. Sou por isso, lingua de fora, silencio e riso, inteira de um todo, afinal. E lavo o meu carro sozinha, e se não lavar não faz mal. Perdi o sono que tinha, desperta, tenho pensamentos que me fazem rir, colmatados nas conversas, de corpo, tardias, na rua. E penso ainda, mais ainda. E quero, porque me devo e não chega.


22 abril 2010

Longe vão as horas do ocaso
Sol poente como o tempo
Que em vermelho se despede

Longe das trevas e da nascente
Faço o pão que me forma
migalhas de um todo
de formas e acasos
Contornos de uma asa de outrora
Voo de passaro

Longe me ficam os passos
de um andar sem expressão
Velas de um barco sismado
Das marés antes vazias
Deste cais anunciado
Preso à margem
Livre do chão

Longe me soam os ventos
as horas sem relevo
e o eco da voz que não me é
Solto um sorriso em silencio
na liberdade desta maré
Vazia, crescente,
Tela branca carente
Mar de chamas, falta de fé.
Vinha da escola. Pensava, ler Pessoa é partir de várias luas, transformar um corpo em pedaços mais reais, é respirar amargura transpirada por mais se ser, é loucura, deliciosa, é saber mais do que só, a figura, é a coerência das partes que só se intersectam na carne. Vinha da escola e dei por mim a cantar. Das conversas novas, dos cigarros na varanda, deste cansaço crescente, da desforra de outro medo. Desfocada, vou falando da sensação de me mover dali para fora, sem que os meus pés se movam. Uma sensação nova, estar não estando. Sentada, o branco foge-me e eu ouço mais olhando as luzes da lezíria por fora da janela, atenta, vagueio nos barcos que já não povoam o rio, adivinho o contorno da foz, a Atalaia do Guincho, que ouve a tempestade, quando se sente calmaria. Gosto de Direito por se falar de Umberto Eco, e transpor a lei a que os homens dão prazos e provas, cauções e vigências. Gosto de me sentar à porta desfraldada com Boris Vian e Duras, perder-me nas horas porque nada nos chama. Gosto do café que a senhora sabe que eu peço. Não é que aprenda, percorro-me no esforço de mais saber, na linha que se forma ao longe, no ser capaz de me perder nas madrugadas de probabilidades. Gosto de acreditar que amanhã, haverão barcos iluminados no rio, que se inventarão sempre musicas e que o tempo me chama, sem direcção.
Gosto mais ainda da companhia do meu telefone desligado, da culpa que me obriga calada, dos alicerces da vida, nos sorrisos pequeninos e dos abraços dos meus sobrinhos, das luzes presentes na minha vida, das memórias de um futuro nas mãos.
Vinha da escola e à minha frente, o céu rasgava-se em clarões majestosos, chovia tanto. E no caminho, há um campo semeado de novo, cheirava a terra molhada por fora da janela. Por qualquer motivo, parei o carro, sai e olhei em volta, a agua escorria na minha cara, e se olhasse na vertical, era como um acido antigo, de por na boca, uma imagem doce e fria, uns clarões tão grandes e tão serenos, e a chuva quente que já me lembrava gostar tanto.
A minha cara foi fervendo de uma bofetada demorada. Ferve ainda na mentira das estações. Legislo-me como num pêndulo, acerca dos pedaços do meu todo, do vazio que não via, ser mão cheia de tudo e dos elementos alternados. Regro-me de um querer renovado, do balançar dos sentidos, na direcção a que chamo, desassossego tão calmo. 

21 abril 2010

Escrever para mim, seria antes de mais conversar comigo, enquanto as teclas se vão calcando, ver-me-ia, não pelos olhos, ou pelas palavras em si, pela expressão do sentido, pelas vezes que choro ao mesmo tempo, ou pelas palavras que me desperto, ou pela saudade de mim. Outras sorriria, desabafos, parvoíces ou imagens, como pedaços de vida que me fazem desperta, sempre. Escrever tem mais de mim que as palavras.
Por um tempo, não sinto o que escrevo, escrevo de um lago negro, sem refracção, do fundo do corpo, feito de raizes deformadas e veias secas, de sementes de uma raiva que reclama, uma capa, uma trama, que me cega. Talvez por isso, as cores, as pinceladas dos meus olhos, o calor das minhas mãos, obra dispersa a minha que não quero mais que uma prosa nas palavras que me fariam, mais que isso,
Por um tempo, reclamo-me, digo-me alto, que as palavras, têm face, uma história que faço, viva, reclamada da névoa que me cobre e só a mim me avista. 
Há muito tempo, despertei um dia, era um despertar meio cinzento, meio a medo, era um querer tremendo somado ao descrédito e ao medo. A madrugada chamava-me o sonho, cada um que esquecera, haveria de ser tida, pensada, sonhava ver-me no fundo de uns olhos verdes que já antes não me vendo, tinham um sorriso, como o meu, tinham pedaços criados, um dia somados, foram tendo a caminhada ferida e a descoberta da vida. Enquanto me deixava, caminhava, sem quedas, quase perfeita, cada vez mais distante da alma calada que nunca me deixou ser plena, dada. Despi-me do horizonte e construí o que as minhas mãos me  davam, 7 anos de sorrisos e uma musica de fundo que nós cantavamos juntos. Fiz disso o suficiente, sabendo não o ser. Abri feridas rasgadas, 7 anos que nem notei, na obra de me esquecer, calando. Fui carinho, companheira do tudo e do nada, nas sobras de mim, mais tempo ainda que, comigo me desacompanhava. À noite, à lareira, lia livros e acreditava, enrolada no embalar do tempo, acreditava que um dia o universo mudava, que os meus olhos dementes veriam, e de madrugada, quando me sentava no alpendre e aguardava o dia, empreendia as viagens, a obra que era só minha, arriscava o sonho, pedia, não esperava, fazia, calava.
 Lembro-me de um dia, ter vindo de Lisboa, já nem me lembrava que nessa altura, andar sempre sozinha era o prolongamento da noite que antes deixara. Era assim, já não me importava. Nesse dia, chorei do fundo, pela primeira vez, tinha-me despedido da minha irmã, cujos olhos brilhavam por quinze minutos com a vida, o resto era pleno, pensado em conjunto. E o meu telefone mudo, significava a distancia real, entre o sonho e a vida da minha caminhada. Amar, não seria assim, nas paginas que me enchiam, nas viagens encantada, da minha essência encerrada, amar deixou de ser conceptualmente, a partilha, seria unidade.
A traição veio, como um episódio do quotidiano, não significava nada nas palavras, como nada significava o nome que lhe dei e a porta escancarada que de repente, me cegava da vida. E eu, pequena, gasta, olhei para ela e nem vi o que me dizia. O nada era a unidade. Ouvia que me cabia fazer por mim, perdi a conta às vezes que me fui embora, de mala vazia. Mas voltava, sem mim, voltava ao mundo que construira e que julgava ser o meu universo. Fiz uma casa, aceitei o conselho e dei as boas vindas ao meu amigo, aprendi a pintar, a pregar, a desculpar-me a quem me via e nem perguntava, sabendo a resposta. Aprendi a não ver, nada.
Outro dia, do outro lado do mar, o meu pai, olhou-me por uns momentos, raramente isso acontece, no entanto, saberia sentir o mesmo olhar, em tudo o que vejo. Aquele momento, foi um tempo cheio de palavras, de respostas que eu não tinha, a minha foi só "queria ficar aqui contigo"....
De repente, de manhã à noite, entendia a palavra prostituição no sentido mais pleno. Prostituta de mim, dava, dava simplesmente, não comia, não dormia, não esperava mais nada, não via. A vida cantava lá fora, eu sentia-a, bebia-a nos complementos, nas migalhas que me dava da minha essência.
Tenho feridas, tenho vergonha, o verde não se reflectia nos meus olhos castanhos. Os teatros, as viagens, a riqueza dos meus dias, eram meus, sem mais nada. Conjuntamente despropositada, recordo o dia seguinte, numa cama branca, cheia de gente em volta, na minha cidade, com palavras acerca de morte, caras preocupadas comigo mais que eu ou o meu mundo. Estalei os dedos e fiz um som, ouvi-me entre baforadas de cigarro no telhado do hospital, numa noite quente, sentada na companhia de um estranho que me falava das visitas e da sardinhada que ia fazer quando estivessemos "bons". Eu sorria apenas.
Havia trabalho, degraus e promessas que me transcendiam. Havia a solidão não só feita de corpo mas principalmente de alma. Havia o reflexo da minha negação, naquela noite tão clara. Que de noite se fez dia, um dia claro. Não importa, nem se percebia, que de repente eu sorria, saboreava a vida mais que a morte há tanto tempo pronunciada. A minha vontade era força, percebia que durante esse tempo aprendera-me, sem reparar em tal.  
A porta insistia em chamar o meu nome e, por um acaso, as palavras levaram-me a uma margem que me conhecia, sem olhar. Por acaso, havia vida e retrocesso, palavras que falavam de mim, sem ser minhas, havia tudo aquilo que calara julgando ser fruto da minha mente, apenas. E mesmo assim, eram as palavras mais sentidas que ouvidas, por acaso, havia vida no silencio de me deixar ser, uma vez que fosse.
Por um instante, acreditei ser vista, as viagens tinham retorno, mais que as palavras, já não era só eu a ver as cores, a contar as ondas e a tecer teorias no voo das gaivotas. Já não era só eu que queria ajudar alguém com filhos, não era só eu que chorava de mim nas praias despidas de gente, e nas searas quentes que me fizeram assim. E eu não sabia do medo das palavras. Eu não sabia como se fazia para levantar-me da soleira da porta, se o dia carregava-se de histórias repetidas, de um marejar de textos, de um avo de mim por enquanto. Eu não sabia pretender ser mais que isto, o meu equilibrio não era uma corda. Traì mais que os olhos, que esses não viam outras coisas. Trai a essência de mim, os valores que me erguiam. Destrui as palavras que se fizeram soltas, destrui o sonho e cada elemento que tinha guardado nas mãos fechadas.
Ergui antes a demência plena. Não sabendo, sabia, não crendo teci sonho. Perdi-me, prostituta de um sentido que me transcende. Tive medo, de tudo, tive um medo atroz de uma mesa e 4 cadeiras e mais nada, já não me via em lado nenhum, via ao longe o desencanto igual a tantos, via a mentira colocada na minha boca e a cegueira. Via-me em três em quatro, escrita que não era só minha, palavras entoadas mais feridas, via a ironia, não via nada.
Fim, não creio. Fim de tudo.
Hoje vivo numa aldeia, sou metade da população, de vez em quando cruzo-me com a outra metade, calei-me da essência, tendo mais que cadeiras, pintadas por mim, já não me sento no alpendre de manhã, já não canto mal desperto, vivo numa casa partida ao meio, silenciosa. Como sempre.  Herança do medo somado à esperança, o silencio fez-se um grito, e calma, pôs-se um ponto no fim da história.  Faço sentido ao que sentia, sou mais que isso, há tanto tempo, desfocada, cresço, comprometi-me com a solidão que afinal tem vinda e que me acompanha há tanto tempo.

Não me interessam conceitos, dei um nome a esta história, mesmo perdendo, caminho, não me troco nem me vendo ao preço do medo, sofro porquanto me conheço agora, historia que deveria ter escrito há muito tempo. Já não choro por ninguém, choro pelo erro e pela magoa da minha fé, em tanto que não a voz que me conhecia e não me deixou nunca sossego. A meio da minha vida, aprendo, que a diferença entre o aqui e o meu horizonte, está no caminho que sigo, cheio de mim, por enquanto. nem conheço ainda o meu tamanho.
É cedo ainda, mal me conheço, piso um caminho onde as palavras são minhas, e escrever há-de ser como agora , uma conversa comigo, de lágrimas e sorrisos, de erros tremendos e de uma vida que me faz, pequena, grande, o que for..
Fechei as mãos, quentes de mim, aprendo a saborear os retornos, as viagens, iguais de tão diferentes agora, perdi o medo, sou a Sandra, enchi o peito de alegria e sofrimento e abraço-me com um carinho que renovo. Sozinha mas comigo.




19 abril 2010

Vagamente pesada, de vagas e de peso. Peso que não teço nem creio. Peso é como uma pedra que nos  excede e por isso, arremessamos, é como uma bofetada que oferecemos com laivos de gargalhada. Desabafo.
Tudo, menos não ver nada.
Apetece-me dizer coisas parvas
dar umas bofetadas pesadas

A terra que piso, nunca, nunca há-de ser nada, chorosa, risonha, correndo e rindo, pequena, grande, despida ou descalça,  tem as cores com que pinto a vida, tem os passos que hoje são só meus, tem as palavras todas que conheço, tem as imagens que guardo, tem eco que basta, vem cá de dentro, conquista cada vez mais clara.
Não havendo adivinhos, o retorno tem procura e a resposta é mais pergunta, e as histórias, as minhas, hão-de ter sempre cada elemento que me ilumine, que esgotei há muito de mãos nas ancas e aparências.
S.A. é só uma, sou eu, só uma. é uma adivinha a que hei de responder, Mas nunca, nunca, mais uma, a somar ao acréscimo nojento.

Quero mar e muito mais, sacudo a poeira dos livros, quero ar, pouco me importa se brilho, se me deixo, ou se não, estou desperta. Pedrada em cada ego somado de uso e gargalhadas. Ao nada. A grandeza não é soma, não a minha. Mas é nada, é principio, é tudo de novo, é ancora içada, é o que for preciso, é o que me der na gana. Pobreza desgraçada, cega de brilho comprado. Tanto tempo, tanta magoa, afinal, ainda penso, agradeço ao medo, por tudo e por nada. Afinal, sabia, bendita voz que me ilumina, calada.
Porta fechada, trancada, batida.

18 abril 2010

Há tanto tempo que não avistava ao longe o nascer do dia, uma claridade de uma cor sempre nova que me desperta mais ainda. Entre os sentidos já meio adormecidos e a atenção no caminho que me depende, porque em volta há silencio, acompanhava-me de musica e da minha voz baixinho.
Ao meu lado, um assento vazio, não sei se merecido, se a restea do caminho que é meu conhecido há tanto tempo. Pergunto-me porque gosto ou não me importo. Não sei. Estranho as conversas entre cálculos que me ocupam acerca de temas que ou nem conheço ou não me interessam. O que sinto falta é de aprender mais ainda, dizer antes que não sei e deixar entrar em mim as histórias que nos erguem. O que sinto falta é do sim e de não ser só eu a dizer o que valho, que mesmo ouvindo, não sendo vista, é aparente, é pelo meu jeito de ser, nada mais que isso. O que sinto falta é de ser ouvida sem uma palavra, de ser pensada. O que sinto falta é desta fé que ainda tenho, da consequência dos sentidos mais fortes que as equações. Sendo metade, olho em volta, e cego-me nas mãos.
Moida, percebi as probabilidades, chateei quem precisei, senti mais falta ainda, mas percebi, vejo-as em todas as coisas, são mudanças de universos que perspectivam diferente. E hoje é Domingo, e enquanto olho em volta, faço que não me interessam os casais que conversam com o olhar. Retorno e prometo-me que está tudo bem, o silencio do telefone, alterna com um molhinho de gente que me vai sustendo a voz, com quem brinco, companheiros de um caminho que é preciso. 
Depois vem o amigo que lhe doi ter feito por si, e o reverso que numa hora me convence que não precisa de ninguém, e eu digo que sim, que ela é uma grande mulher, que os homens sentados na margem de lá, não pecam, não erram, sabem tudo, e nós pequeninas, tropeçamos em tudo, e eu digo que sim, que os nossos mundos são insondaveis e intransponiveis e que se fossemos vistas não era assim. Conversa, conversa, na verdade, o que eu gosto é muito dela e estarei sempre ali ao lado, para o que der e vier. O resto é conversa, não sei nada, já não sei.
E agora, abri os livros que me trouxeram aqui, e no fim do dia, vou passear com os meus amigos, para um lugar qualquer que valha o que mereço.



17 abril 2010

Tenho na minha cabeça, tantas palavras, tantas, tantas marcas que fui deixando, do que leio, gente grande, momentos. Tenho mais em mim, tenho as feridas que os meus ouvidos me deram, mais palavras, cortantes nas marés vazias, em que no fundo nos rasgam os seixos, no amargo das bocas frias. Tenho as terras quentes que só se admiram bebendo, vivendo, só se cheiram, se me enrolar num campo de trigo e sacudir as "ventoinhas" que ficam presas no vestido. Tenho o calor dessa terra, aquecidos os meus pés sem jeito, descalços. Não tenho livros comigo que descrevam o que sinto, quando comigo.
Andei de bibe, com um cajado nas mãos, afagava os touros e conheci nos olhos distantes e secretos, a herança de seculos, de tradições que desavergonhadamente se falam, sem cheiro, sem cor. Conheci de perto um enterro, de mãos dadas com o meu pai, lembro-me de estar calor e haver foices e faces hipnotizadas com um vento gritante que ninguém perguntava, a que vinha. Nunca veio por bem.
Dos latifundios, lembro-me das mãos secas do meu avô, do escorbuto dos arrozais, da tina em que tomava banho e do candeeiro a petroleo, lembro-me da eira morena ao lado do meu balouço, das arcas de carne salgada, dos cantares, do sr Simões, o guarda livros e do tio Custodinho, sempre sentado na porta do monte, perguntando-se. Lembro-me da minha velhinha, ocupada em dar sorrisos, sempre aos outros, da Luisinha egoista que não me emprestava os brinquedos. Eu tinha outros, tinha a vinha, a horta, o tanque e a terra com que fazia bolos de lama e ninguem comia.
O Abril, não me lembro, tenho guardada a manhã, as espingardas, uma amalgama de gente demente, tios meus, nem sabia, gritando a liberdade. Tenho a cara da Tia Maria, sentada, das lagrimas, do meu avó curvado de repente e a minha avó calada, como sempre, tenho os gritos de raiva e a saida, sem nada, sem roupa, sem nada.
Tenho a morte da obra, a cortiça roubada, gargalhadas e poemas de quem não sabe mais nada a não ser a vista de uma só margem.
Tenho em mim a saudade de não ser ferida a cada palavra, tenho a morte do encanto que nos guardava. Tenho lagrimas desaguadas, cansada.
Não sei porquê, folheio o meu livro, ao contrario, o Abril dos cravos, foram espinhos da minha infancia. É cara a herança de um Estado forçado, cara e cega, que a seguir ao medo e ao silencio, não se sabe ser gente, não se sabe, sabe-se ser touro enraivecido ante a palhaçada da capa.

Por isso, já não espero, tenho em mim o sabor da maré cheia, desperto de uma dormencia, que foi em mim mais que medo, que na voz dos poetas que choram, tem que haver vida, capaz de pôr uma seara verdadeira, no fim de qualquer conto. Errei tanto, não fazendo, que não sei porquê, aprendo com o mesmo dedo espetado, que me devo, e se chorando, é a fé que escondo, ainda.

Olhei, com os mesmos olhos, vi diferente, o sabor seria sempre mais triste, por isso, não me detive, tenho em mim uma memória que guardo, que me lembro. O Tejo cinzento, a ponte que se ia engolindo numa névoa quente, escandinava, segundo dizem, misto de um secretismo qualquer, que prefiro não desvendar.
Perguntei-me porque não faço o que me apetece, porque calo, se as minhas mãos estão cansadas da força a que me obrigo, a vulgaridade sempre foi mais feita de não me ser, de me esconder em silencio. Vou andando, pestanejo enquanto ensaio o caminho, desligo-me de precisar, não preciso, arregaço-me e decido, um passo à frente do outro. Colori o caminho com um arco iris de mim  e um horizonte de pedra, porque se pretende distante, ao toque, é mais quente, mais brilhante, sei disso.
A probabilidade de agir sabendo que me compete, é por fim diferente da de esperar um sorriso, muda o universo, e eu percebo. Sou desta massa intransigente, teimosa. Tenho esta mania que eu é que sei, e cá dentro, já sabia não saber nada. Depois viro tudo ao contrário e sei de mim, não querendo saber de mais nada.
Tenho as viagens sozinha, que têm os sítios que gosto e as musicas que canto, tenho a herança de um pai descontente e por isso andante, e de repente, já não suporto não fazer nada. vejo caras viradas no caminho, rodeadas de palavras, tão sozinhas, tão perdidas e eu, zangada, ponho os olhos ao longe, se perdi, não era suficientemente nobre para um história que tarda, de tão grande. 
Descobri agora outra forma de escrever, naquele instante que a mente já se perdeu no sono e eu, chego, sentida, sem razão e deixo as mãos abrirem-se em palavras que saem, minhas sem direcção.
Já não me interessam as rugas, a minha cara ainda ferve, já não me apetece saldar contas, já me vou rindo do medo, esgotada, sou mais verdade, sinto tanto sem presença, que descubro um verbo novo, cresci-me de madrugadas sem esquinas, sem nada.
Vou dormir, ainda é cedo, ainda tenho tempo.




16 abril 2010

Imaginei uma figura romana, de pedra talhada à mão, sempre gostei mais das pedras toscas de contornos misteriosos, imaginei um ar sóbrio e vitorioso no cimo de uma coluna de mármore, aparentemente inalcansável à primeira impressão. Meio envergonhada pergunto-me se estará lá em cima alguém. Majestosa esta figura, distante.
Também nunca suportei as naturezas mortas, fazem-me lembrar as paredes das salas de jantar das tias Custodinhas e Vitorinas, com a restea de nafatlina e os naperons a compor as mesas.
Sabes os passos disformes e aquelas quedas monstruosas que erguem gente? Sabes aqueles gritos tremendos que ninguém ouve? Sabes aqueles instantes em que o ego nos desmente? Eu sou uma amalgama, um novelo de sentidos e caminhos, jogo de esconder por não saber, ou por o rasgo doer tanto. 
Tenho vergonha de nas minhas mãos prender à exaustão, o mais evidente sentido, uns pedaços de granito aparente que guardo nos bolsos, no descrédito, no balançar do tempo, como um relógio no cimo de uma torre qualquer, vivo, ruidoso, e nem sei onde.
Sabes as mangas arregaçadas e molhadas que enxugo soprando, que é minha herança seguida, já não me lembrar quando aceitei acreditar no que nem sei se existe. O que sei é que sei mais que isto, esta claridade cega-me de tanto que me vejo sem ser vista, e as palavras, são a musica que me componho, são o direito ao sorriso numa terra estranha.
Sabes só saberes-te quando já não te negas mais? Erguer um dedo espetado em frente ao espelho e sentires mais que dizer que estás condenado a fazer-te feliz, que esta alma afinal é exigente no querer beber vida, no resgatar das palavras que me digo, porque preciso. Não são os livros, nem as bengalas, não tenho nada decerto, tenho a divida que me cobro de repente, sem manejo nem grande direcção, porque o que sinto, são vitórias nas derrotas do tempo. Um dia comigo, em silencio cantado e chorado, é tanto, uma loucura tão sana e dificil, uma treguas subitas, e uma guerra de seguida.
Sabes, sou uma mulher grande, com voz de miudinha irritante, ou mesmo pequena, abri uma porta de rompante e que já tinha aberto sem dar por isso, desfasada como sempre, sem retorno, aprendo todos os dias, até a palavra não a sair-me da boca. Aprendo da vida e da solidão, desabrigo-me e e revolto-me, zangada com a miséria das palavras desditas em pedra.
Que seja, está feito, já chegava deste engano, desta treta, nunca acreditei em metade do que digo, porque na verdade sempre soube que os meus olhos não sabem mentir, não sei porque me ouço sequer, há aqui um voz em mim em silencio que falou sempre primeiro e certeiro. É que eu tinha medo.
Já não tenho, estou arregaçada de medo, já não é meu, levo-o comigo para me lembrar que o sonho não comanda vida nenhuma, dá-lhe sentido, e saboreio com uma lagrima esta força contida que não veio de lado nenhum, estava cá dentro.
Estou cansada, cheguei agora, luto por tudo novo, é tarde, estou zangada, a mesma coisa tem a perspectiva que lhe quisermos dar, a verdade é que nem sei se as palavras falam do mesmo. Por mim, estou ferida e capaz de gritar bem alto cada trambolhão. As minhas mãos estão fechadas e vivas. 
Nunca senti isto, e nem sei o que escrevo, se calhar estou meia tonta, 
E não sei porquê só me vêem à cabeça parvoices.

13 abril 2010

Era um sonho que fui reerguendo, das amarras de um medo que nunca soube porque vem, das profundezas de um poço quase seco que galguei esfolando os joelhos, agarrada às pedras quase soltas e a paredes de lismos. Subi por querer tanto olhar cada a vida, aspirar o ar fresco das manhãs, sorrir por qualquer motivo, adormecer com a leveza que não conhecia, talvez amar um dia e quem saberia não ser amada também? Os laços imaginários de ajuda, a força que não tinha, tendo, ofereceram-me todas as luzes do mundo, todas as cores e sorrisos, e uns abraços que aqueciam, mesmo quando a minha mente estranhava o calor das mãos estendidas.
Trouxe em mim, o negro dos dias que me fizeram e desdisseram, trouxe o amargo dos gemidos da demência incerta e uma falta de abrigo, uma sede de me fluir, de me dar ao caminho que os meus olhos haviam visto sempre sem vida, tantas vezes.
As madrugadas são mais frescas ainda, os meios dias carecem da agua que refresca e este mar, este mar que descobri a caminho de um horizonte matizado de mim, esta calçada de pedras e passos, lado a lado com a herança de menina feliz e mulher errante. Quem dera um dia, ter manejo em descrever o que penso, o que da minha alma emerge a medo, galgado o poço tão fundo que ainda vejo lá longe, cinzento, escuro.
Porque me debruço e olho, não entendo, vejo na restea de agua lamacenta, um reflexo da minha cara perdida, a refracção do medo e vergonha da vida gritada tão alto, dos gestos que me fazem sozinha, nos sitios que vou escolhendo, sorrir e sonhar.
Sou eu ainda? Sou eu de cheiro e de mar? Sou eu que vejo de cara ardente a insustentabilidade de não ser, não crer no que sinto, neste negar de mim mesma, refletido mais ainda no horizonte de fogo? Sou eu ainda?
A minha madrugada foram contas somadas desse sonho, que range a porta do dia, que a estrada seja já passada de encruzilhadas. A minha madrugada trouxe-me a solidão conquistada. Sozinha, esbracejo contra mim mesma, aprendo a ser gente grande e pequena nas mãos que junto, nas tranças de tanto que guardo comigo.
Hoje senti-me sozinha, afastada do medo, de tudo, escolhendo os minutos que diferem pelo sonho de fazer obra, não mais uma, a minha, de dar-me o sorriso de deitar fora as promessas adiadas e as perdas guardadas, a cada instante que passo.
Sou eu ainda ? Mote da nevoa tão clara que me avista, unica, sem ser preciso, mais nada.
Apetece-me chorar, não sei de tristeza, se de crer ainda, que uma vez na vida, me faça, mulher ou menina, tão longe, tão sem mascaras, sem medo ou vergonha, eu mesma, vista ou amada.

Quem dera este silencio ser um credo, a calma  serena, um caminho desperto de sentidos que gritam mais que o medo, um virar de esquina sem mosteiros, uma palavra entoada ao vento que aquece a minha cara, quem dera ser o Deus que fez os sentidos e negou a mente perversa e descrente, quem dera ser esta madrugada sozinha, um passo, uma escada em mim, visionária da maior lição que aprendi, uma lagrima fresca  que me escorra na cara, afluente de vida cantada.

09 abril 2010

Ode ao vinho

Despertei ainda com o sabor das iscas, que na tua boca foram um segundo apenas. Desliguei, ferida ainda com a saliva que corria sedenta de também eu saborear aquele jarro de vinho branco fresco, na Adega de Arcos, jorrado das pipas de carvalho em volta da tasca. Também eu me sentei nos bancos de vime, pousei os cotovelos nas mesas de mármore e sorri para o velhinho careca que ainda hoje guarda a herança que se perde.
Cada palavra minha, rasgava-me o peito, demência consciente de ser preciso, sou tão menina quando o que sinto me cala a mente. 
Em silencio, percorri hoje um campo florido, com os meus amigos à frente, sorrindo à vida que ainda acredito jorrar nas minhas veias como a falta desse trago ébrio que atormenta. Em cada passo, fui lembrando, o silencio que sopra por entre as oliveiras que em tempos guardaram um sorriso tão quente, nas tardes comigo. Fiz um ramo pequeno de papoilas e aquelas flores amarelas que, juntas com o trigo, se vendem nas ruas cinzentas lembrando a ausência. Voltei a beber as palavras que dirão um dia este sentimento. Espero por ti, crendo, espero por ti, como me prometo, um brinde fresco às almas errantes que sonham. 
Tenho as mesmas cores ainda, tenho este fascinio pelas coisas que não cabem nas doutas conversas que já nem ligo, tenho os livros que me separam das horas, sentada à sombra neste campo verde, onde me vejo mais a mim que outra coisa qualquer. Tenho nas mãos ainda a cor dos sentidos que um dia me despertaram, quentes na minha cara que a frieza arrefece. 
Hoje acredito, amiga, que a voz é mais que um som, que a essencia das coisas está demasiado longe da mente, desdigo-me nas reservas que fazem as encruzilhadas, reservo-me num medo que antes já sabia perverso, uma ode à vida mais que ao vinho que bebo de um trago onde já não moro senão no desespero.
Preciso de ti, como preciso de crer no amor, preciso de te dizer que a razão é mais que a explicação desconexa. Preciso de te ver, brilhante, como sempre te vi, tão bonita, tão serena.
Ergo a minha taça por ti!
Tanta gente, Marta, tantas faces que passam, tantos mundos e parvoices, tanta treta, e esta sombra, esta oliveira, é a verdade de cada erro, cada trapalhada, cada reserva, que guarda somente, sentimento.

07 abril 2010

Encontrei!

Encontrei o meu amigo e o novo amigo, estavam juntos, sujos, longe, desorientados e cansados.
Andei tanto estes dias, falei com tanta gente, resultou, encontrei-os...
Estou tão contente!
Sei que não são todos os que entendem, mas este amigo vale tudo para mim, é o meu companheiro de sempre.
Tanta porcaria que perdeu o sentido nestes dias, eu só queria encontrá-lo e ao novo amigo.
Estão aqui encostados a mim, e eu estou feliz.
Estou aqui sentada, nem estou aqui sequer. Corri tudo, chamei, escutei, procurei, daqui a bocado vou procurar mais. Não consigo estar quieta. Onde é que te enfiaste cão?

06 abril 2010


Pouca coisa me interessa neste momento.
O meu amigo de sempre desapareceu. 
Já procurei em todo o lado, desapareceu.  


Onde é que ele se meteu?
As cores do ocaso, brilhavam como mãos quentes no meu corpo, grandes do tempo que passa, do espaço aberto no horizonte. Calma, uma calma estonteante, como se em mim dançasse uma musica do mundo, um poema, uma história que não termina. Ao longe, o sol deixa rasgos de fogo por sobre a linha azul que a noite anuncia. O branco das casas é de uma cor diferente das cidades, é um branco caiado de histórias que guardam almas bonitas. É o reflexo das cores com que quis sempre desenhar a vida. É enraizado de danças antigas, de contos que ouço desde menina.
Sento-me e folheio um jornal ao acaso, fala como sempre de um qualquer desnorteio, eu elevo a minha cara por sobre a escrita que nem leio, ao meu redor, jorram filamentos neste entardecer quente, sinto o meu corpo primeiro, a mente travessa está hoje em sossego...  Estas pedras alisadas de tanto caminho.
Sentido.
Bebo de um trago, agua fresca, esqueço tudo porque me lembro, sei que amo porque julguei não o saber, sei mais que isso, porque houve um dia que pretendi não querer ser.
Também eu caminho, no sentido de mim, fi-lo sempre, até mesmo quando a cegueira do medo, não me deixou ver.

05 abril 2010

Hoje durou tanto tempo... A minha cara quente, as mãos juntas , faço viagens sozinha, tenho andado tanto, tenho-me desgastado à exaustão num esmiuçar primeiro de cada razão, cada lição, tenho olhado estes pés pequenos que sabem andar, as mãos que agarraram com força cada pedra lascada de vida, quando ao longe, nem sol nem lua, mal se via qualquer coisa. Talvez por isso a névoa me encante e descubra, talvez por isso, escorre ainda agua na minha cara.

Hoje queria escrever muito, dizer o que sinto, como nas noites loucas que duravam um minuto, na minha loucura dormente. Queria gritar do fundo, não aceitei ainda este pedaço que trouxe comigo, não ouço, não quero, sou mais que  bonita, inteligente, interessante ou sem interesse nenhum, desigual ou igual na carneirada calada que vai passando, que há este bocado que me faz parte e é um estranho, um inimigo, tem uma boca rasgada de riso e umas mãos de polvo que me agarram. Tenho nojo do branco das salas, vergonha das palavras amigas de quem falou não sei com quem e, por isso, diz que entende... Como? como? se nem eu entendo ainda?

E as perguntas?

Atravesso-me na encruzilhada da mente, não estou doente, tenho paredes erguidas, tenho vozes, tenho o meu ventre em silencio, tenho nas mãos perguntas, tenho vergonha escondida nas palavras, tenho nos olhos o vazio de ter sido vista. "Só se é mulher, depois de ser mãe..." Li isto há uns tempos, como um verme rindo que me entrou, que me foi consumindo, e respondo-me  com esta voz de menina, respondo tudo, não me calo, respondo, mas em mim ficam as perguntas que me faço, as searas onde me escondo de olhos pregados nas partidas adivinhadas, na banalidade do mundo

Hoje foi tanto... Foi este silencio nesta praia deserta, foi o suspiro que me saiu, chamando.

No fim de cada conto, resta-me sempre a duvida..  Deixar-me transparecer, falar do medo da desistência, é mostrar as feridas que me fazem pequena , ser aparente é mostrar uma parede mais branca, sem nexo, sem conteúdo, mas parede tão branca, reserva de tudo. Sei o preço de me despir, sei o medo que tenho de me sentar ao colo e deixar-me ser simplesmente, pequena e tão grande que me sinto... E preciso, precisei sempre, não de acreditar, de sentir antes que saia de mim a voz que sair, sou mais que isso, sou vista, em vez de mais uma partida.

saudade

Hoje andei tanto, chamei, dancei numa praia, fiz desenhos na areia, arrefeci a cara na rocha escarpada, ouvi o som do tempo numa maré revolta, vazia como eu.

Acarinhei-me por fim, numas mãos pequeninas, os meus sobrinhos enchem a minha vida de um sol que brilha sempre.
Este Osho é fascinante... Fiquei siderada com alguns pensamentos profundos do senhor... Não consigo resistir, a citar alguns.... No final, vou-me agarrar à caneta, emborcar umas fumaças valentes e vou escrever um livro, antes que me batam à porta e eu não abra.



"O relacionamento existe porque o amor não está presente. O amor não é um relacionamento.
O amor se relaciona, mas não é um relacionamento. Relacionamento é algo acabado. Relacionamento é um substantivo"


E ainda...

“Se você tinha que ser um dançarino, a vida virá por aquela porta, porque ela pensa que você é um dançarino. Ela bate na porta, mas você não está lá; você é um bancário. E como a vida vai saber que você se tornou um bancário? Deus vem a você da maneira que ele quer que você seja; ele conhece apenas aquele endereço. Mas você nunca é encontrado lá, você está sempre em algum outro lugar, escondendo-se atrás da máscara de alguém que não é você, com os trajes de alguém que não é você e usando o nome de alguém que não é você. Como você espera que Deus possa encontrá-lo? Ele segue procurando por você. Ele sabe o seu nome, mas você abandonou aquele nome. Ele conhece o seu endereço, mas você nunca morou lá. Você permitiu que o mundo desviasse você”.

O que seria de mim se não houvessem Oshos assim?

Osho???

Estou muito fora ou não consigo achar piadinha nenhuma a este OSHO...
Não é que tenha estado muito tempo de volta do senhor porque correria seriamente o risco de dormir após a segunda frase...

É que eu não ouço falar de outra coisa mas sinceramente....
De onde é que ele veio? Devia sentir-me mal por não lhe achar piada?
"Deviamos fazer amor como  uma experiencia sagrada?"
Mas porque é que eu não me lembrei de dizer umas coisas destas antes? Isto pelos vistos tem saida...

03 abril 2010


A propósito, e porque acordei assim, em tempo Pascal, proliferam textos com ovos e coelhos e alusões a algo que não discuto, é pessoal. Pessoalmente, crescida no seio católico, cansei-me de perguntar, na minha voz de menina, cansei-me de precisar de respostas e não as ter. Acreditar...
Quem me dera ter essa fé... Quem me dera ser crente e cheia de mais... E se calhar até sou, não sei.

Sei que li a Biblia como uma história fascinante, sei que o padre Pinho era tudo menos pastor de almas e seguidor dos bons costumes, sei que o outro que se hospedou em casa da minha avó em Mertola, dava aulas de viola às sextas no centro paroquial, mas ouvia melhor os acordes com as mãos postas nas pupilas. Sei que há uns anos, num dia fronteiro, entrei numa igreja em Lisboa e pedi para falar com o padre. Não sei o que queria, ansiava por um alento, uma palavra, mas nunca vi o sr. padre, estava ocupado com as marcações dos batizados e casamentos e, a beata que me atendeu, guinchou que o sr padre só atendia às terças e quintas...
Sei que as colunas da Piazza de  S. Pietro, vistas do centro desaparecem numa só fiada, que os guardas suiços de vermelho à porta do reino, não riem, não esboçam nada.
Sei que quando não pude visitar o Vaticano, mas sentei-me com ar respeitoso na nave da Capela Sistina, admirei os frescos e a opulência, nada silenciosa do sitio, despido "da obra e ensinamento que Jesus pretendeu".
Sei que como cidadã, regida por normas sociais, não sou ninguém para julgar, porém, é categorico: Abuso de menores é um crime punível por lei, é condenável, asqueroso, nojento; não me venham com acompanhamentos e perdões depois do caldo entornado, é um bocado arrancado de uma luz que se extingue de repente, ponto final:  é crime, tem que ser julgado, condenado... O que me interessam as discussões inauditas acerca das posições do clero acerca do asssunto? É crime, porra... 
Alguém fala dos senhores padres que foram habilmente chamados ao Vaticano no meio da escandaleira? Onde é que eles estão? Onde? Foram julgados? Estarão arrecadados com as obras de valor incalculavel que decerto apagariam tanta fome, tanta miséria...E enquanto isso, debatemos no café o Engenheiro de Telheiras que nunca mais ninguém esquece, "quem havia de dizer que um homem assim era capaz de fazer aquilo..."! Não me lixem, estou cansada de ovos de Pascoa, pontuais e finitos, estou cansada de redenções e procissões, a fé é demasiado bonita para isto, a Igreja tem história e eu não misturo.
Mas querem fazer o favor de prender os pedófilos? Tirá-los das ruas, sejam padres ou pastores, é crime!