05 janeiro 2009

Reservas

Um dia alguém me sussurrou ao ouvido que os outros não eram mais do que simples espelhos, instrumentos do meu próprio confronto pessoal, do meu bem e do meu mal…
Duvidei
Porque eu era pequena… Queria conhecer, ter e amar os outros
Queria matar este sentimento de solidão, queria confirmar a minha suspeita que sou apenas o que vejo quando olho para esse espelho, queria preencher me com mais alguém, queria completar-me com mais um nome à frente dos meus …. Como era possível se os outros não eram mais do que o meu reflexo???

Os meses passaram, os anos passaram e, esse sentimento de alienação, de desilusão, de conquistas esgotadas e transformadas num capitulo qualquer da “Maria” , nunca deixou de me acompanhar… também nunca desisti de sonhar… E Hoje, esses meses, tantos dias, tantos momentos, parecem-me apenas uma sucessão patética de episódios todos iguais… Procurava avidamente o complemento dos meus vazios, dos meus medos. Estava cega e não via, não sabia onde procurar..

Deixei tantos pedaços de mim, inteira, verdadeira, carente, ávida de amor e ternura que nunca tive, tal como sonhara que fossem… Fiquei tantas vezes nua enquanto gritava em silencio sem que ninguém me ouvisse…
Não… não são espelhos
Os espelhos ver-se-iam, veriam em si o reflexo de mim
Cheguei a ver-me nos outros, nas mulheres que ousava criticar por conhecer tão bem e, no entanto, continuava a minha busca incessante pelo tanto que não tinha

Afundei-me na lama da minha miséria conquistada em lutas desenfreadas… E gostei!!!
Gostei porque eram minhas, gostei porque acima da lama imunda vi erguer-se um sol que iluminava porque eu estava ali… E Estava sozinha, sem espelhos, sem mais ninguém

Sete Sois, Sete Mares…
Hoje sou uma velejadora, saboreio o vento que não conheço , aqueço-me ao sol companheiro, perco-me e rio-me no jogo de escondidas que o nevoeiro me traz de vez em quando … Não sei para onde vou, não vou ficar aqui mas este mar maravilha-me e sei que ainda soam as sinetas em cada escarpa escondida

Os outros são outros… É verdade , trocamos saberes e sentires, mas reforcei a minha caixinha de surpresas
Já não procuro o que não tenho
Procuro o que mais há
E os outros tornam-se mais do que isso, por isso mesmo, quando são mais do que apenas outros

Sem comentários: