01 outubro 2009

Setembro

No limite entre dois dias que transpõem 2 meses, não sei se os entendo, passado e presente, aspiro uma vida que não sei se percorri nestes dias do mês em que nasci.
O mês de Setembro costumava ser celebrado por mim, não pelo nosso aniversário, meu e da Inês, nem sequer pela despedida da Estação. Era um mês de chegadas, primeiros dias de aulas que sempre detestei mas em que renascia. Eram dias amenos, de cor laranja, de abraços calmantes e sonhos repartidos.
O mês de Setembro anunciava os dias cinzentos e o cheiro a castanhas assadas. Era o mês em que apetecia uma manta e um livro sábio que enchesse as horas comigo, era um tempo que me assustava com novas faces e em que me vinha sempre uma vontade de visitar o mar à procura da primeira neblina do Outono.

Este Setembro foi diferente, não passei por ele, passou antes por mim, feroz e apagado, calado e sombrio, verdejante e enebriante, matou tanto de mim e reclamou que nascesse no instante a seguir.
Este Setembro foi silencioso como uma noite sem estrelas ou Lua, passou e eu não o vi, tão perdida andei de mim.
Mês arrogante, de crescimento interior, de esclarecedores desencontros e formas gramaticais. Mais interjeições que interrogações, mais pontos que reticencias.
Este mês terminou uma fase demorada da minha vida concedida, consciente, quase sempre ausente de mim. Anos que não vivi em pleno, adiados, sentidos, em que aprendi termos que não conhecia, em que dei tanto do pouco que tinha. Momentos felizes e outros de uma solidão desmedida e sem expressão.
Setembro mostrou-me o anoitecer de um dia claro e breve, de um tempo sem tempo e do despertar de uma visão esbatida, plena de mim,  que agora se tornou real e inimiga.
Este Setembro foi o fim da chegada, foi um barco à deriva sem ancora.

Vejo-me ao espelho, mal me reconheço de tanto que me desentendo, esta imagem distante que protagonizo e que encerra tanto, que se mascara de forte e treme por dentro, que percorre os dias ausente, que sente um mar de tudo e de nada, que é minha.
Sinto-me a chegar, sinto-me tão perto de ter que me enfrentar, quase ouço os ultimos passos e o fim desta estrada. Sei o certo e o errado, sei o que este mês me mostrou, sei o que preciso fazer,  está a custar tanto sentir-me detentora da verdade mais clara, sei que preciso de força, de amigos verdadeiros, da fé que o senhor Arlindo me deu, de meia duzia de pertences e do tanto que sou eu.
Preciso do meu Deus e do meu Diabo, da guerra e da minha paz, preciso do paninho para passar nos dedos e dormir, preciso de falar alto o que já me cansei de perceber calada.

Porque sem amor, não se é nada. Setembro não foi chegada mas viu-me chegar, devagar como sempre soube que havia de ser.

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