24 junho 2011

Não sei descrever as cores que vejo, mudam combinadas com o sol que as conhece, searas dançantes, douradas. Embriagada deste entardecer sereno, no cume de uma serra que me descobre, em cada pensamento que agora deixo que me venha, como de vez em quando, quando choro e sorrio em simultâneo.
"Não és tu, nem tanto, na verdade", que esta consciência tanto me atordoa como entontece, conheço tantas palavras, e não expresso o que me vai na alma, não consigo. Converso comigo em segredo, agradeço ter morrido e renascido, tantas as vezes que me reconheço, e só assim me existo, em mim, na quietude que habita neste sitio.
Penso no meu pai, que mais do que passos, deu-me sede de caminhar, deu-me esta paz deste lugar onde nas sombras veria o medo e vejo apenas esta calma, este vento e o bailado das cores deste Alentejo.Tenho sentido o carinho genuino dos homens de mãos duras que me viram chegar tantas vezes alienada de convicções sem sentido, desta terra quente e da pedra ardente de que nunca me canso. Hoje, não tenho pressa, bebo as feições sinceras, respondo, faço parte, conto e ouço as histórias.
Aqui não espero a resposta, lembrei-me de cada um que me moldou, de cada memória, um sitio, se o que vejo é tão somente a minha cegueira mais clara ou a simples percepção de uma história que, sendo a minha, nem sempre vivi. 
Tudo mudou, no palco, ensaio o caminho que preciso preparar, já não protagonizo, um dia de cada vez, amo tanto que chega a doer, este ser pequenino que me olha como nunca nada nem ninguém me olhou. Sinto-me capaz de mudar o mundo para lho oferecer, a guerra e a paz, o medo e o desnorteio e a mesma sede de querer andar, mesmo que um dia, sentada neste lugar, sinta o mesmo, que não se deu por inteiro, mas pequena, veja as cores como eu vejo e continue a caminhar.
Hoje chorei muito, chorei e ri. Agradeci.