28 fevereiro 2009

Acreditar

Há uma calma que associo à capacidade de acreditar, como preenchimento de um espaço que, sendo meu, se completa com a glamorização da vida. É como o alivio de entender que o inicio em mim, tem retorno no que me rodeia; o crescimento de um intelecto farto de interrogações, a descoberta em cada vivencia de olhar, entender cada lição em cada passo, em cada amanhecer.
Há algo mais.
Há um momento desperto em que entendo, que apreendo, há o tanto que ainda não sei, há a rendição às não verdades inquestionaveis, há a negação hoje, de valores inabaláveis com que cresci.
E depois há um sorriso.
Por saber que mais haverá, sempre.
Como poderei algum dia não procurar esse crescimento em cada caminhada que percorro? A descoberta de mais um horizonte ao virar de cada esquina da vida? Como poderei não reparar que o meu olhar, a cada dia, se torna diferente na forma de ver?
Entendo o precisar de andar.
Entendo as formas caricatas com que a vida me ensina, como metaforas e paradoxos por interpretar, entendo este eterno e revigorante questionar; cada culminar, guarda lições e abre novos caminhos. Revejo motivos, transbordo de sentidos, como se desta simbiose dependesse a razão de estar .
Agradeço o que não sei.
Fica a certeza deste caminhar.
Se naquele dia que copiei um ajoelhar submisso perante algo que não sinto, não tivesse ouvido em mim o mesmo grito de alma que me acompanha, seria talvez agora a fonte esgotada e parada à espera de outra nascente, carente e dormente.
Tenho pedrinhas na minha mão fechada por cada episodio que protagonizei em vivencias contrarias, fui tantas quantas as precisas para as viver, perdi-me para mais tarde saber o lugar de me reencontrar. Nunca será este o meu eterno lugar.
Trarei sempre comigo o que a vida me ofereceu com o mesmo carinho com que me foi dado.
Páro apenas para mais um sopro de respirar.

25 fevereiro 2009

Vida

Enquanto achamos ser capazes de mudar o tempo das coisas e as forças desse tempo, há uma vida que nos cega, querendo apenas iluminar-nos.
Somos seus filhos, rabinos, traquinas, que não queremos ouvir nem aprender, somos apenas, em cada anoitecer, o que essa vida nos deixará ser, enquanto em sonhos, teimamos em pensar sermos nós a dominar.
Somos Vikings sedentários, corsários roubados, lavradores de mares e sedentos de nada, somos o que resta de uma saga de homens que chegaram aqui, perdidos na sua ansia de querer,ou ainda outros que, por nada quererem, nos legam um sono dormente e feito de vazio de ser.
Não somos nada.
Nesta vida, aspiro o ar que mereço e perco-me na imensidão de não saber ser.
O inicio de uma caminhada faz-se sempre com um primeiro passo.
Para quê correr?

24 fevereiro 2009

Regresso

O regresso foi, tal como previa. Voltar e acrescentar o que sempre trago comigo, saudar este cantinho que é meu. Olhar em volta e respirar.. Tudo está no seu lugar.
O cheiro é familiar, o pó acumulado mais ainda, o som deste silencio porque me apaixonei.
Trago uma mala cheia de pedacinhos de vida que pretendo guardar aqui.
Reentrada cheia de surpresas..

23 fevereiro 2009

Sem numero

Hoje voltei a encontrar-te!!
Enquanto te escondes atras de um medo que não sei sentir, enquanto brincas com as mentes que querem ouvir-te, eu faço de conta que não existes.
Estiveste perto de me fazer render, hoje visito-te com a alegria de quem renasce em cada manhã...
Fazes parte de mim mas, sabes, já nem contas em número naquele molho de papeis que te quantificam de vez em quando... És indetectavel !!!
É assim a tua verdadeira dimensão real...
Venço-te em mim de cada vez que busco as forças que me conduzem em lutas travadas contra ti e contra outros que se ergueram nas sombras da minha ilusão...
Não fazes parte da minha razão.
És filha da escuridão, julgas-te padroeira de quedas livres e sem rede, acercas-te da solidão como tua aliada, da vergonha de quem não sabe dizer não... Sabes, no fim, cresci com quedas orquestradas por mim, antes mesmo de saberes quem sou, perdi em cada dia que julguei saber o caminho das estrelas, brotei lagrimas em quartos escuros sem sequer conhecer a minha voz, fui guerreira na podridão, fui vitima sem perdão, renasci das cinzas mas, trouxe-as comigo até aqui. Sou capaz de te esperar sem medo do que tens para me oferecer..
Antes disso, visito-te assim
Ouço, sorrio e volto.
Voltarei sempre!

Motinha!!!


Já está aqui... É nossa !


Passei a noite a pensar nela, a sonhar com tudo o que vamos fazer juntas...
Depois de um dia dificil... a imagem dela, linda, à minha frente, fez-me esquecer tudo.. Estou tão contente!
Sei que fui uma chata, manipuladora, birrenta, mas são as armas que arranjei e, dão resultado!!
São pequenos e grandes gestos que dizem mais do que mil palavras que, por vezes reclamo nunca ouvir... São os olhos felizes por me ver rir... É a recompensa de tantas interrogaçoes de esforços e cedências...
Vou-me fartar de passear..


Tristes de espirito!!!

Já me vi nesse espaço... Ainda tenho na boca o sabor da vitória criminosa e credora da fome de ter a qualquer preço, ou de outra fome qualquer. Ainda revejo o sorriso sem vergonha e cheio da ilusão da conquista do que precisava mas nunca foi meu... Lembro-me do meu salivar enquanto trocava em miudos o espolio de mais um bilhete para a perdição...
Lembro-me da adrenalina, lembro-me da podridão julgada individualismo e magoa de vida cheia de nada a preço de quase tudo.
Agora, somos os parvos, os roubados, os tirados e sabedores da mão da miséria.
Sou capaz de visualizar cada gesto e cada passo
Tenho raiva de estar aqui e ter lá estado... tenho ganas do que fiz sentir e agora olho deste lado.
Pobres de vocês que perderam nas minhas garras, desgarradas, dos que sem entender, me alimentaram e saciaram a fome de morrer aos bocadinhos...
Estou contigo, meu amigo, na impotencia do que sabemos ter acontecido, estou aqui, conhecedora de que, em qualquer lado, se fazem brindes de vitoria e se desmonta em pedaços o que, para ti, quase valia uma caixa de memórias.
Guardo as imagens do teu sorriso..
Gostava da tua mota..
Estes merdas nem sabem o que te roubaram!

21 fevereiro 2009

Amiguinhos

Sem palavras...
Amigos de verdade... Quem pode dizer que estes animais são maus???


Amigos







20 fevereiro 2009

Ilha

Hoje percorri esta ilha de lés a lés...
Os verdes misturam-se harmoniosamente em diferentes tons... É como se o todo fosse a soma das partes mas, cada parte em si, já fosse um todo. Em baixo, um mar imenso que nos lembra "o isolamento" desta ilha perdida e erguida aqui. Para mim, tem mais que ver com liberdade, com vontade de voar, olho sempre para o horizonte, depois de olhar as arribas.


Acho graça às diferentes leituras de uma mesma coisa... ambas bonitas e sentidas, ambas se enquadram em formas de olhar, do mesmo mar! Uma tem vivencias sofridas, outra tem paraisos descobertos em mundos já antes imaginados..


Em cada curva, guardarei sempre uma imagem nunca vista, dou por mim a sorrir com o simples respirar deste espaço... Em cada paragem, retenho os contornos das cores e das sombras numa aquarela viva... Ouço historias antigas contadas da boca de quem viveu aqui e sabe o valor de cada palavra, vejo sorrisos saudosos nos olhos de quem não esqueceu..


Imagino as lides duras destes homens que mexem a terra e guiam o gado, absorvo os cheiros das suas maos grandes e do carinho que me oferecem com o olhar. Quando posso, afago o pêlo dos eternos companheiros de pastoreio e, sigo em frente, procurando novos lugares.


Hoje parei numa cascata que. de longe já me refrescava a cara. Mais tarde aquecê-la-ia no vapor quente das entranhas da terra.


Como é possivel não olhar o mar?


Como é possivel não sonhar?

19 fevereiro 2009

Hoje sera sempre madrugada

O hoje é madrugada, será sempre assim, enquanto da minha alma pequena brotar a saudade das caminhadas desenquadradas em tempo e espaço, mas tão certas na voz limpida dos meus sentidos...
Cada madrugada será sempre este despertar liberto das reservas que ninguem sabe ver, o meu sonho é feito de amanheceres perdidos na verdadeira razão do meu ser.
Caminhei tanto até aqui... Na paz destes momentos, já negociei as mesmas vidas e acabei rendida aquela voz universal que nem sempre soube ouvir.
Em cada texto, soltei gemidos e sorrisos tão cheios de mim e do tanto que a minha voz silenciosa podia alcançar.. Nunca seria capaz de os matar, serão sempre espelhos da minha alma!
Querer não é ter..
Partir não é chegar..
Sentir não é possuir...
Deste lado, em frente ao mesmo horizonte, reli e senti o que outras palavras me trouxeram... Essas lavaram-me os olhos e encheram-me de mim... Gritarei sempre o que mais de mim existir e sentir... Saltarei reservas pela simples razão de sentir...
O que não tive não alcança sequer o que o meu olhar vislumbrou, o que desejei ficou cheio do que sentires cheios de alma me ofereceram
Sou... Basta-me isso, basta saber que existe vida em mim!!!
Se a vida está nos textos por escrever, vejo cada silaba agora como um renascer... sempre vi!!!
Antes de acordar, as madrugadas já acolheram a escolha do meu caminho, o sol espera a minha vontade e a lua servira de esperança a cada despertar...
Sou pequena na grandiosidade do meu sentir!!!

Xiquinho


Tenho saudades tuas....

Sei que sou

Quando fico, sofro, quando parto levo comigo uma mala vazia e cheia do que irei trazer.
Quando espero, é como se o tempo brincasse comigo, quando volto, sinto-me maior do que o espaço que deixei atrás.
Quando páro, a dimensão diminui, quando sonho, tenho asas e sei voar.
Quando corro, acompanho os meus passos, quando travo, perco a capacidade de andar.
Saberei algum dia ficar?
O tempo parece tão pouco para a dimensão do que quero ver
O espaço é tão pequeno neste meu querer
A minha paz não está neste lugar que conheço, encontrá-la-ei sempre para onde caminho.
Nunca chego lá.
Sentada em frente ao horizonte, imagino sempre o lado de lá
A estrela que mais me fascina é aquela que mal consigo ver
Amo o que não acredita em pronomes possessivos...
A minha alma desperta agradece cada momento feito de mim e de quem se acresce aqui,
Como me fez bem aquele sono profundo e desassossegado!
Aprendo o significado desta liberdade sem palavras nem promessas, apenas a vontade de eternizar cada instante como se fosse o primeiro...
Entendo o verdadeiro sentido da caminhada.
Percebo os gestos que dizem um livro.
Percebo os olhares meigos e encorajadores dos seres feitos apenas de si.
"Nao sei quem sou... sei que sou!"

17 fevereiro 2009

Mosteiros


Danço musicas que conheço em mim , pinto telas destas paisagens milenares, enquanto percorro caminhos que se vão tornando familiares.. Relembro momentos passados em descoberta, hoje saboreio o reencontro..Como eu gosto deste sitio..

Ao virar da ultima curva, antes da descida ingreme, o meu coração acelera e aquece, de repente está à nossa frente, um quadro dificil de descrever de tão belo que o vejo.. Tem as cores todas, vibra de vida, é lindo!Ainda tenho espaço para ver um vitelinho arisco debruçado na sebe a experimentar o verde deste lado, e desço...
Quando chego, já despi camisolas que não preciso, já me enchi deste cheiro de mar e verde, desta terra de homens de mar com o cigarro apagado ao canto da boca, de ar desconfiado e necessitado, duros, sóbrios, para quem sua mulher é uma vaca de dar! Saberão um dia aconchegar a sua cara queimada nelas e mostrar o quanto sabem amar..
Aprendi com o tempo o verdadeiro sentido deste amar... deste querer em gestos frios, deste amar sossegado e verdadeiro!
Mas nem vacas nem homens... É este mar que me fascina, estas rochas negras que se erguem em contraste com cores que só aqui consigo discernir. É quase institivo... as minhas mãos no volante já não decidem , limito-me a beber cada momento que me separa dele.
Páro à entrada, só para correr na praia negra e sentir o frio da agua que acaba sempre por me molhar...
Mais à frente, a furia do mar, quebra barreiras, cria mil lagoas cristalinas e cheias de vida... Percorro cada uma com todos os meus sentidos, os meus pés escorregam sempre nas rochas verdes, e o que falta, fica molhado..
Sou tão menina em frente a este mar!
Como serei algum dia capaz de não sonhar? se sou eu mesma a fonte sedenta desta vida que me inunda e me ultrapassa? Como este mar ...
Nunca deixei de sorrir neste sitio.
Apanho pedras, escorrego, arrisco, nunca desisto, há sempre tanto mais aqui... Há sempre mais um passo que preciso de dar, a sensação que este sitio tem ainda tanto para me dar!...
Hoje, no primeiro dia de calor na minha pele branca, mergulhei os meus pés neste mar, deixei-me sentir o sol e o sal na minha cara... Deitei-me na areia preta, esqueci a imagem, esqueci o tempo que falta, esqueci quem sou, fundi-me neste espaço feito do que mais procuro, da minha sede de mais ser.
Cada vez mais sinto pressa em viver, cada vez quero sentir mais, que faço parte, que sou feita de tudo e de nada, que sou tambem filha desta terra que me abraça em cada madrugada, que me aconchega quando retorno de cada caminhada, porque volto sempre, apenas corro, páro, vejo, cresço, mas voltarei sempre... O meu regresso brinda a lição de cada dia..
Acima de mim, contam historias de outras caminhadas, passaros livres sem mais nada...
Nada mais importa neste momento tão cheio de nada!



Açores


Nesta rua branca e cinzenta, onde o vento salgado respira e encontra a brisa verde das serras.Onde ainda se ouvem acordes improvisados de jazz sobrepostos pelos sinos das igrejas.
Dois passos e encontro-me no nevoeiro molhado e quente, nos cheiros desta terra que amo, e se olhar melhor, reconheço a quem pertence...
"andei por cima das nuvens"
De sorriso aberto, em cada olhar vejo um paraiso
Vejo o mar!
Vejo tanto mar aqui...
A minha alma engrandece esta vontade de viver, agradece a grandiosidade deste sentir..
Como eu gosto desta terra!

14 fevereiro 2009

Açores





Os dias que antecipam as férias são sempre a loucura total!!


Está feito!
Amanhã, abraço o mar em busca da viagem merecida.
Já saudei o azul do mar e o verde da terra, já relembrei a paz que me invade naquela terra distante e achada no meio do mar... É tão bonita!
Encontrei lá a essencia das paisagens, das pessoas, da força dos elementos nunca deixando esquecer que dominarão sempre.. Encontrei a pureza de espirito e a vontade de vencer... Encontrei animais livres, numa terra isolada que nos ensina a querer .

Ja saudei a cascata quente no meio do nevoeiro, já vislumbrei aquelas rochas erguidas no meio do mar, a humidade que limpa a minha pele, a nuvem que brota da terra em golpes de agua fervendo, já antecipei o sabor do cozido e dos cozinhados que tenho prometido fazer..
Já quase parti, estou quase lá...



Para trás deixo apenas uma lágrima, sofrida, a breve despedida do meu amigo que deixei aos cuidados de quem sempre lhe quis bem (zangou-se comigo, o Xico está gordo)...
No meu coração fica ainda uma ferida, não entendida, sem omissão. Parto sem ficar, levo comigo tudo o que tenho a levar, tudo o que faz parte de mim. No silencio dos deuses, desta vez não sei ouvir!
Corri milhares de quilometros, levo a consciencia tranquila de tarefas realizadas, levo o carinho da recompensa de um esforço que se desvanece no contentamento desta liberdade.
Levo apenas o que me pertence, uma mala cheia de mim!
Amanhã, hoje, já lá estou!




13 fevereiro 2009

Motinha!!!


Ontem fui ver-te!
És tão gira...
Já te dei um nome, já viajei contigo, já sonhei contigo e passei o dia a pensar em ti!

12 fevereiro 2009

Questão


A grande questão... a que nunca fui capaz de responder é: "O que é que uma mulher quer?
Sigmund Freud.

11 fevereiro 2009

Pesadelo

Acordo com o gritar daquele horrivel despertador que as sogras oferecem sempre depois do terço para pôr na cabeceira da cama... O corpo deitado ao meu lado, (desprovido de uma voz que outrora já ouvi e das caricias que se desvanaceram no caminho das fadigas e fugidas), aquele a quem ofereci a minha alma de menina, a troco de quase nada, descansa sem culpa e sem presença. Há muito que deixei de sonhar com a manhã feita de gemidos e loucura contida, de corpos suados e loucos envoltos e perdidos em si...
Lá fora existe um silencio que não ouço,!
Os gestos tornaram-se mecânicos, os dias tornaram-se vidas, que resumidas, fariam apenas um conto!
Ouço apenas o silencio que brota de mim, que me afoga, que me faz não ver...
A cozinha, a rotina, o ter que fazer... É assim a minha vida!
Tenho uma casa enfeitada, tenho a vida que disse querer ter, e ninguem sabe de nada...
Tenho segredos, descobri outros gemidos, ainda mais contidos na solidão deste ser..
Tenho um jardim na frente da casa onde fantasio partidas e viajo nos cheiros desses canteiros e nas asas dos que souberam voar!
Daqui não vejo nem terra nem mar!
Vejo apenas a distancia de uma vida tornada amarga, vejo as minhas mãos fartas, gastas, vejo os meus olhos secos e perdidos nesta vontade de chorar..
Não quero pensar.
Mantenho-me atarefada, assim tem que ser, deram-me as sobras desta vivencia forçada, e eu já não conheço a menina que corria sempre para ver. Já não vejo as cores da liberdade, casei-me com o medo de querer mais, ofereci a minha alma sonhadora, vendi o meu corpo sedento, em troca do que disse querer!
Hoje não sou nada.
Roupa e louça lavada, vontade calada de viver!
Talvez à noite ele volte para mim, talvez ele olhe para mim...
Vou apanhar uma flor do meu jardim, vou-me enfeitar, talvez ele olhe para mim!

Não sou uma qualquer

A minha vida trouxe-me aqui!
Presa na minha rede
de dever ser
Morta na mesma sede
de querer...
Sem ter!
As verdades ardem na minha boca ainda com o mesmo sabor de outro dia qualquer, sou mulher, sou filha de um velejador e de uma menina feita de terra, sou eu, neste quase entardecer em que relembro as frases sabias que não quis entender. Sinto-me nascer em cada manhã como se me multiplicasse em mil fases da lua, como se a vida sem pressa me ditasse a urgencia de viver.
E em cada renascer, sou outra mulher.
Não sou o que Deus quer.
Não sou uma qualquer..
Sou a verdade mais simples do ser...

10 fevereiro 2009

Se

Se quisesse pintar um quadro , não saberia nunca como começar...
Sempre parei nas partidas e chegadas.
Sempre corri depois!

09 fevereiro 2009

Anonima

Ensinaram-me cedo o significado da palavra... Termo novo, finalmente aconchegava o significado do inexplicavel em mim, reconhecia a comunhão dos meus mais secretos deuses antes designados de rebeldia, liberdade, evasão, desilusão, antagonismo da pobreza de espirito... Era mais que isso, era uma necessidade carnal de mais, era um sede ardente de querer, de entender, de ultrapassar-me antes mesmo de viver!


No meu reflexo no espelho, ainda revejo a dureza do seu significado, ainda lambo as feridas sofridas e não saradas de um passado desvairado em busca de coisa nenhuma que sempre faltou em mim... Nem me lembro de quantas vezes depositei na mais completa podridão pedaços de mim, sem razão, como moeda de troca de mais uma evasão!


Entre o deve e o haver não havia reflexão, apenas a minha vontade de assim ser. Como se tudo pudesse estar à minha mão. Atropelava quem passava por mim, gritando vozes de consciencia. não queria ouvir! A minha pressa em apagar os sentidos e correr à sombra da minha propria desgraça, era desumana!


Hoje, no meu sossego conquistado, revivo tantas historias, tantos becos sem saida, tantas lagrimas secas no meu passado

08 fevereiro 2009

Saudades do Faisca...


"Chegará o dia em que todo homem conhecerá o íntimo de um animal. E neste dia, todo o crime contra o animal será um crime contra a humanidade."

Leonardo da Vinci

Mares

Não digas mais nada!
Não quero ouvir mais a tua voz
Não quero ouvir o que ja me dizes assim
Estou perdida no teu silencio de olhar..
Perdi-me num abraço que me deste e que dura até aqui.
Correu comigo, entrou dentro de mim,
Soltou as amarras dos seres feitos de razão..
Calou gritos de consciencia, invadiu-me ate já não morar em mim


Sem razão

Estou vazia de razão!
Cheia da essencia libertadora do não querer saber nem entender!
A minha cara ainda ferve depois de molhada
A calma inundou-me e fundiu-se com um fogo que não sei apagar..
A vontade converteu-se na verdade de nem me querer calar...
A verdade chegou antes de sequer acordar.
E o meu despertar hoje nem existiu!
Afinal não sou nada.
Sou filha da chuva e do vento.
Danço musicas que ouço.
E vivo uma vida num só momento,
Revejo-me no tempo, de outra vida que já passou
Vejo antes de olhar...
Sinto sem possuir.
Nem sei quem sou!

06 fevereiro 2009

Tenho sonhado assim

Tudo e nada

Ela correra apressada... Não gosta de chegar atrasada!
Antes tivera que rever duas vezes, cada passo antes de sair, as chaves que já tinha nos bolsos mas não encontrava, a certeza de tudo estar no seu lugar... Este desatino eterno cansava-a, quem dera ser mais atinada!
Não tinha certeza de nada...
Enquanto se arrastava atras dos eternos deambulantes de estrada que insistem em vangloriar-se agora da razão que a lei lhes deu, não deixava de pensar que só podem vir de vidas feitas de calma onde nunca se encontrou.
Ela precisa de correr..
A seguir à ultima curva da estrada, acelerou mais uma vez, já conseguia ver o mar ao longe, mais sereno do que esperava, este mar sem fim onde ainda hoje sonha em mergulhar sem sequer olhar para tras!
Mas nunca o faz!
Queria chegar primeiro, ter este momento só para ela, parar, sossegar e cheirar o vento que sopra e limpa as almas, queria molhar os pés na espuma branca que vai sempre mais longe do que esperava. Não se lembra nunca de não arriscar dar mais um passo até sentir a roupa inundada e recuar! Foi sempre assim!
Sabia agora ter cara salgada, o cabelo violado pelo vento, as maos frias.... A paz voltara a si..
E ele já ali estava, tinha chegado de mansinho, no sossego desse seu jeito de ser e tinha na cara um sorriso que ela nunca se cansa de ver.
Tinha vestido cores que o iluminavam naquela manhã fria e gelida, a sua aparencia deixava transparecer a grandiosidade do mais simples ser, de um corpo guardado em vidas feitas de conquistas e contrarios.
Olhava para ela e oferecia-lhe o que os gestos calavam, e sorria ...
Ela tremia, não era o frio daquela manhã, tremia no mais fundo da sua alma transbordada de mar e de vida... Na sua mão guardava escondidas as vontades e uma pedra!
Só a pedra lhe era destinada..
O resto ficaria só seu!
Sabia que aquele momento passaria depressa. Ao longe ouviam o rugido do tempo que era deles e que clamava não saber parar...
Olharam de novo, muito além do simples olhar..
À sua volta as cores, os sons, aquele mar, eram deles mas apenas naquele instante... Felicidade efemera! Nada mais lhes era prometido!
Em silencio, viveram o desassossego dos sentidos, adormeceram os corpos e despertaram as almas sedentas de mais, e certas que assim, o amanhã existiria!
A pedra, trouxera-a de um mundo seu, soubera de repente, noutra manhã que não pertencia ali... Carregara-a no simbolismo do entendimento do seu jeito de ser.
Era dele!
Em silencio, caminharam meia duzia de passos, o bastante para um arremesso certeiro. Para o sentido da vida, para o unico caminho possivel naquele tempo escasso, pequeno de mais para o que lhes era devido viver.
Perdeu-se na espuma branca, na setima onda mais forte, nas rochas do fundo...
Estava dito!
Voltaram a olhar um para o outro, não na mesma direcção, o fascinio dos contrarios e das vivencias por viver ficara ali....
Como corpos sedentos e almas amansadas, entenderam a caminhada...
A estrada pedia agora mais calma, o casal que passeava agora a sua frente já não importava, entendia bem o repouso das mentes cheias do culminar das trevas, da luz do entardecer, entendia a calma!
Ainda houvia o mar ao longe
Não precisava de mais nada!

Silencio ensurdecedor

O teu olhar sopra nos meus ouvidos!
Ouço tudo o que me olhas...
Não te percas para me encontrares
Basta olhares!
Cada vez mais o silencio grita mais alto
e eleva-me na ausencia do que faz falta
Encontro-te em cada momento.
E neste silencio tão sentido
Sou essencia do nada que não sou eu
Sou apenas aquilo que ves
e vês?

Não sou nada!
Nesse silencio que me agita
Encontro-me a descobrir-te
em mil faces da mesma cara!

Escondida eu, da minha própria vida.
Envergonhada e perdida
Mãos inertes e cara molhada

04 fevereiro 2009

Entardecer

Entre a tarde e a noite, existe um momento que ultrapassa o próprio tempo.
Nestas planicies abençoadas, onde tudo pára e nada está parado, neste verde, nestes sobreiros com que cresci, esse instante funde-se nas cores de um terno anoitecer.
As cores...
Faço o que a minha vontade me diz, paro e procuro beber tudo o que ali me é destinado.. É meu!


Poderia correr a vida inteira para encontrar um lugar assim no tempo!

Cresci aqui, sou fruto destes entardeceres, aprendi a calma contida neste viver, aprendi a dançar neste chão ancestral que açoita sempre quem insiste em não perceber..

Aprendi a deitar-me debaixo de mães grandiosas que sombreavam a luz e o calor, aprendi a dormir ao som do silencio, aprendi a não saber!

Neste momento, glamorizo a caminhada para aqui chegar, e parar, relembro o meu passado em que tudo era demasiadamente grande para os passos que sabia dar. Vejo agora como o tempo me parou.
Tenho saudades de mim, como desta estrada quente, tenho uma vontade tão grande de me abraçar por despida que estou, doi-me esta verdade como frases lançadas ao longe, erguidas de alguém que não sou mas que protagonizo, não sei porquê.

Lanço gritos de silencio. Não me ouço, não me vejo, inerte no tempo contado.

Açores

Não treme,
fez-me tremer por dentro
Não cospe fogo,
Incendeou a minha alma
E acalma

Neste sitio, nestes lugares,
reconheci a verdadeira dimensão humana
E deixei entrarem em mim as cores
Os sabores
E os odores deste pedaço de Paraiso no meio do mar.

E há as pessoas, orgulho de uma vivencia sofrida


03 fevereiro 2009

Hoje


Hoje corri tanto
Andei tão pouco!
Hoje vou adormecer entrançada neste meu jeito de ser, nesta caminhada apressada!

Carrego comigo o que me acalma na excitação do antagonismo, do perigo evidente face à minha paixão de risco...

Não me imagino noutro lugar!

02 fevereiro 2009

Novinha.. Novinha!


Minha amiguinha!!

Hoje tratei de ti....

Aquele senhor com ar de mau, (sabes quem é? )vai- se zangar!...
Mas a gente não se importa, estamos rejuvenescidas e prontas para grandes caminhadas juntas...
Se calhar também vou comprar uns sapatos novos e ponho na conta!
E amanhã de madrugada, cheias de vontade de andar vamos abraçar estes caminhos!

Minha velhinha


Guardo imagens claras, outras vagas, guardo luzes, guardo caras, guardo carinho e aquela voz zangada por quase tudo.. Guardo o teu cabelo branco, todo branco, guardo a tua cara inexpressiva, reflexo do teu ser, de entender sem ousar dizer!
Guardo migalhinhas da nossa vida passada, guardo as buchinhas, guardo todos os dias o que tenho para te mostrar porque, ao longe, nunca deixaste de fazer parte da minha alma na qual edificaste valores e ideiais que quero hoje para mim.
Guardo os entardeceres contigo, as conversas cheias de palavras mansas contra a minha luta desgarrada, por nada!
Guardo as tuas mãos que afagavam o meu cabelo sem ser preciso nunca pedir, eram tão bonitas as tuas mãos ! Delas brotava arte desconhecida, reflectiam o empirismo que te envolvia, saberes passados e trocados na tua mente... Quando assim não era, pedias baixinho para nós escrevermos!
Guardo o carinho com que me viste crescer!
Guardo 5 pedrinhas com que me ensinaste a jogar um jogo à medida do teu querer. Simples, puro, viver por assim ter de ser!
Minha velhinha!
Queria tanto que estivesses aqui... mas sabes, sou apenas fruto da ingratidão; sei que danças uma valsa nunca antes experimentada com quem quem sempre viveste, feliz, em paz!
Sei também que numa qualquer estrelinha o teu brilho ilumina-me ao longe, baixinho, em silencio,como se entendesses que o som das luzes e das cores não fazem falta. Falamos em silencio, na caixinha de memórias que deixaste em mim... Falamos tanto!
Vês como sou feliz agora? Vês?

Senhor Manuel

O Senhor Manuel é daqueles homens com que me debaterei sempre em honra da minha razão!
Raios partam este homem!
Pequenino com aquele arzinho de sonso, irritante, mas ao mesmo tempo engraçado, fala comigo como se estivesse a falar com a filha dele, dá-me sermões e às vezes, tenho a sensação que me vai bater...
Fica desconcertado quando lhe grito (acabo sempre por lhe gritar), quando lhe lembro quem sou, quando, ofendida com a unica forma que conhece de comunicar, me arrepia a pele de indignação!
O sr Manuel é genuino..
Quebra e retrocede e fica a pensar de onde apareceu esta fedelha a gritar!
Às vezes nem o reconheço, escondido na sua vida, no meio daquele amontoado de pedras, embrutecido pela vontade de vencer, quando me vê faz um ar de sofredor, como se lhe devessem o mundo!
Mais tarde, ja sei que me vai dizer que é mesmo assim, e "Burro Velho não muda"
Engraçado este senhor Manuel!

loneliness

Jogo de cartas

Vagueava pelas ruas dessa cidade onde vivo e nunca me revejo. Como sempre, a minha mente estava longe dos meus passos, distraida, sonhadora, com tempo para divagar sobre as questões mais insignificantes da existência humana.
Antes havia um jardim, nunca foi um jardim bonito, mas era um jardim, agora é apenas uma amalgama de arvores e terra com umas braçadas de erva quase morta de cansaço, mas naquele lugar, ainda hoje me entretenho a ver um quadro que sempre admirei, uns poucos velhotes a jogarem às cartas à sombra das arvores... Um deles sempre me fez lembrar o meu avô António, de boné por cima da testa em jeito de desconfiança e vivencia cheia.
Habituei-me a admirar aquele circulo de amigos, bem vestidos (para eles, o lenço na algibeira e as calças engomadas são fundamentais), atentos, cumplices, carregados de histórias partilhadas em tantas horas merecidas por uma vida a trabalhar. Habituei-me a beber a sua serena harmonia, e por vezes até, arriscava apurar o ouvido e ouvir as conversas... Não eram simples conversas de café e muito menos se equiparariam aqueles rugidos brejeiros da gentalha sem forma exaltados pela simples presença de uma mulher.
Neste dia, apeteceu-me parar e voltar a escutar.
Falavam do que todos falam, mas falavam deles..
Não liam numeros nem estatisticas idiotas de quem se apraz participar na loucura generalizada da hipocrisia presente, não diziam mal, não criticavam..
A crise era deles, estava neles..
Meu Deus, como desejei que aqueles engravatados, que se sentam todos os dias na representação de nós, tão conscientemente ignorantes da nossa existencia, saltassem desses puleiros e viessem aqui... simplesmente ouvir!
Aquele em que revejo o meu avô, falava baixinho, talvez envergonhado, da sua mulher que tinha acabado de vender umas terrinhas dos seus pais, aquelas onde havia brincado em criança, porque ambos desejavam ajudar uma filha em dificuldades em Lisboa... Advogada, note-se!
O outro falou qualquer coisa sobre este ano nao ter semeado por não valer a pena; e o ultimo mantinha- se em silencio, deixando tão claro o quanto a sua história seria mais triste..
Entre dois goles numa garrafa de liquido laranja, não era vinho, olhavam, amigos, uns para os outros, nada mais a dizer, a próxima cartada era do avô António!
Vim-me embora, com o meu saco de compras na mão, triste e simultaneamente cheia de um sentimento que só esta gente vivida e sofrida sabe transmitir...
Os outros não sabem de nada!