11 março 2012

Há um ano, estava perdida de mim, os acasos ainda agora me atormentam, se por uma voz me vejo aqui agora. Estava onde me não lembro, estava morta ou mais que viva. Era mãe e não me lembro, havia  um  ser por que tanto lutei, pequenina e eu, não me lembro, não me lembro. Há um ano,celebrava a vida e devolvi-me da morte. Morte, uma palavra que mal pronuncio, como se me garantisse a sua negação. Toda a minha vida brinquei com ela, e nesta noite fria, as minhas mãos molhadas tremem pela pequenês, pela ironia que me cala.
Há um ano, tive uma filha que me dá vida.
Há um ano, quase perdi a minha.

Hoje não me apetece a prosa nem a musica que as palavras cantam, preciso respirar fundo escrevendo, sinto um grito cá dentro, tão calado que me dá medo. Não me vejo em nenhum sitio e existo, vivo e grito. Vivo de um sentimento tão forte e ainda desconhecido, a minha flor pequenina que me dá vida, no resto, sou uma imagem baça do que sinto, sou silencio e desencanto.  Há um ano, fugia-me a vida, sem me dar conta, não me lembro, ainda agora me esforço e as imagens não chegam. Olho para trás e dá-me vontade de rir, o forte que sou de tão pequena me sinto, e ao invés, caem-me lágrimas num desvario que não conhecia em mim, agarro-me a mim, abraço-me, esqueço-me porque preciso de ser mais sana que sentida.
A minha filha é linda, todos os dias assisto a momentos que guardarei sempre. Dedico-lhe a minha vida, por inteiro, e por isso sou mais forte ainda, mas cá dentro, grito, esperneio. Não me vejo.
Estou cansada de palavras, só queria alivio, calcorreio caminhos interminaveis em pensamento, olho em frente, cega de um desejo que já não creio, já não bebo, e tenho sede, tenho a boca seca de vida, de um abraço que me sinta, incorpóreo, sentido, estou despida, desenvolta das imagens construidas, das palavras compostas e dos dizeres fantasiosos, queria agua fresca de um ribeiro, queria fechar os olhos e calcorrear o caminho sem que as pedras me doessem, queria não me reconstruir todos os dias, ser sentida apenas.
Não sei se é tarde, se é cedo ainda. Não me sei perdoar pelo que de mim vendi, penso demais, sinto demais, olho em volta e os espaços são ocos, as palavras mal falam.
As palavras não saem.
Recolhida, na serenidade que me mata, nos valores que não desdigo.
Recolhida e perdida.
Estou tão cansada.
Estou tão errada.
Estou tão zangada comigo.