28 junho 2012

Não tenho aqui vindo e porém, neste tempo formei dezenas de desenhos de palavras sentidas, revi-me em passadas, em imagens que a minha memória guarda, misturadas de sonhos coloridos, pinceladas. O que escrevo seria o meu reflexo de sentidos. Por vezes esqueço-o e penso. E deixo de saber sentir e escrever.
Há pouco abri as janelas de par em par. Sentei-me lá fora num silencio pedido. Este silencio cheiroso que me leva para fora de mim. Olho-me de longe, envelheci, desapetece-me esconder-me nas mascaras com que me vestia, as minhas mãos estão mais rugosas, a minha voz mais calma, menos apaixonada, os meus silencios maiores e ruidosos. 
A minha filha pequenina dorme agora e, pouco mais importa. Tenho um mundo nas mãos para lhe mostrar, aceitei-me em nenhum lugar e permito-me mil sonhos de menina. Recordo o tempo em que o mundo era pequeno para a minha fantasia, em que construia outro, mesclado de lugares inventados de caras por quem me apaixonava. Mais tarde procuraria encontrar cada uma. Nunca conseguia. 
Espero que ela acorde, retiro-me o cansaço e falo baixinho, na esperança que não me ouça, que me sinta, o meu desassossego, a minha herança desenquadrada, e de mansinho calo-me de palavras, rio com o seu sorriso de crer que vemos o mesmo, mesmo que nesse lugar nenhum.
A minha filha pequenina vale tudo, as ruinas de cada sonho, a paragem.
A minha filha é cada dia que passa, o meu novo mundo.