29 maio 2009

Sinto-me perto da loucura e da razão

Ontem, depois de um dia dormente, desprovida da minha metade raciocinante, depois de me sentar numa sala demasiadamente branca, com demasiadas mentes nervosas e uma carencia enorme de mim, olhei para umas folhas brancas e atrevi-me a pensar "Qualifico-me aqui?".
Não sei.
Rebuscada, quase ferida de orgulho, a cadência de pensamentos assemelhava-se a um vendaval desnorteado, enquanto olhava em volta, colava-me à cadeira e percorria com o olhar, um amontoado de perguntas que quase riam de mim. Inspirei e lembrei-me da solidão. Do poder da minha mão, do caminho que percorri até chegar aqui. Recorri a expressoes sem sentido e artigos definidos que em nada acalmavam a desordem da minha razão.
Daí até aqui, distou o tempo de fechar mais um conto, desta feita de encantar. Está feito.
Aquecida, carente, rendida, cheguei à minha casa bonita, tão sossegada, abri as portas de par em par e sentei-me à entrada, enquanto assistia à procissão da minha vida, dei comigo a sorrir.
Sinto-me perto da loucura e da razão.

28 maio 2009

Divagação

Quem ousar dizer que Deus não tem um sentido de humor apurado, venha falar comigo...

25 maio 2009

O verdadeiro filho da puta

Um dito senhor, dito artista, dito por mim, filho da puta, daqueles que nem respiro antes de o dizer, daqueles que me enojam e dão sentido aos meus mais sinistros impulsos, voltou a soar aos meus ouvidos hoje.
Ao longo dos ultimos dois anos, congratulei-me e convenci-me da sua "morte". Afinal, o filho da puta está vivo, ainda se ouve falar dele por aí.
De nome Guillermo Habacuc Vargas, Habacuc para não me cansar, é uma alma maldita julgada artista que, provavelmente por mera falta de sexo ou inspiração ou umas boas bofetadas na infância se lembrou um dia, em Outubro de 2007, de organizar uma exposição na Galeria Codice, Nicaragua. Na entrada, maior que qualquer lamento, podia ler-se
"Eres lo que lees" (És o que lês),
neste caso o que se lia seria uma frase pouco inteligente com a peculiariedade de ser escrita com biscoitos para cão, o que à primeira vista nem teria nada de original, nos meus tempos de infantário já sabia fazer umas colagens com massinhas da Nacional, a diferença é que escrevia sempre "Feliz dia da Mãe". Mas, vindo de um artista, tinha que ter decerto uma mão de génio ? Eu havia apenas de me dedicar ao espargette e redeuzir-me à mera condição de humana.
Este filho da puta, tinha afinal, uma ideia muito para além do bestial, tinha a ideia de assassinar um cão doente à fome, exposto na galeria,. como obra de arte. Havia capturado o animal no dia anterior, com a ajuda de 5 putos ranhosos, pobremente recompensados para o que julgavam tratar-se de uma brincadeira, nas ruas de Managua.

Durante dois dias, a exposição foi visitada, falada, vista e, durante dois dias, este animal esteve a um canto, doente faminto, feito obra do diabo e de outras mãos doentes, durante dois dias os biscoitos serviram de letras, durante dois dias foi falado que havia um artista que tinha uma obra de arte mais morta que viva e ninguém fez nada !!!!
Ninguém gritou, ninguém o soltou, ninguém lhe fez uma festa, nada ! Enquanto orgulhosamente, este trapo expunha os dentes e assinava convites, ninguém fez nada.
Eu não fiz nada. Chorei, por ele, por mim, por esta merda toda!
Mais tarde, este filho da puta, diria em resposta a algumas interrogações das poucas organizações de Direitos dos Animais, que achava alguma graça à controversia, de facto, ele tinha dado vida a um cão já morto uma vez que agora toda a gente falava nele. Naquela mente asquerosa a vida existe na memória humana, "És o que lês".
Aderi ao conceito e matei este assassino na minha mente.
Hoje não.
Alguém me falou nele, tal como o ano passado pus o meu nome numa petição. Soubera que fora convidado para a famosa Bienal Centroamericana Honduras 2008, com o intuito de repetir a façanha.
Hoje não.
Nem admito a hipocrisia da violência visual que fere susceptibilidades, nem admito estar calada, nem admito falar de amor sem falar do que sinto. Odeio esta comiseração, odeio esta imagem de povos aculturados, odeio discutir as nuances da liberdade de não querermos ser artificialmente reanimados quando já somos mortos de vida. Odeio passar ao lado com medo de deixar marcas, odeio "uma no cravo e outra na ferradura", odeio este filho da puta que ainda vive.

Marianita

Entre florinhas, icones risonhos, Katy Perrys e pijamas da Hello Kitty, hoje não fui capaz de esconder um soluço e uma lagriminha de ver a minha sobrinha linda no messenger. Ao mesmo tempo, o meu telefone tocou. Era ela. "Tia, estou sozinha em casa.... "


Já não tinha os totós coloridos, já não sorria por nada, tinha coisas sérias para me dizer, assuntos para debater, falamos de escolas publicas, de politica, de musica.... Mariana cresceu e, Meu Deus, como esta menina me faz bem. Não pude deixar de me ver, quase ontem, um passo a frente do conhecido, doida pela vida, cheia de vida, de sonhos, quase certa de alcançar o céu se quisesse.
Falei com uma menina que amo, que acha que o nosso ministro não faz nada de jeito (nada está perdido afinal...) , que as escolas publicas são reais e que já escolheu com quem vai ao baile da escola. Minha mana, a mensagem passou, como eu te admiro!Nesta altura, se me apanhasse sozinha em casa, a ultima coisa que me lembraria seria de querer falar com a minha tia, tantas gavetas para bisbilhotar e livros escondidos para ver... Mas não, minha sobrinha escolheu falar comigo!
Só por isto , ganhei o dia !!!

Estridencias

Enquanto percorro os 80 canais que agora me entram pela casa adentro, sem conseguir encontrar nada que me ajude a desligar este som industrial que insiste em soar na minha cabeça, ajudado por uns tantos sobressaltos sempre que os pensamentos alcançam algum timbre racional, sento-me no meu sofá e saboreio o pudim de mel que deixei queimar hoje no forno. Ja cheguei a conclusão que, apesar do aspecto, fica bem melhor assim.
Acabei de ler "Ser-se coerente uma vida inteira é um dos maiores actos de falta de inteligência que conheço". Respiro fundo e agradeço. Não sou só eu a achar-me uma autentica anormal.
Quando cheguei a casa, a minha vizinha, passeava o corpo ja quase em decomposição pelo meio da rua, sorria não sei de quê, falava não sei para quem, pareceu-me feliz, mesmo assim.
Até eu me sinto feliz mesmo assim. Mesmo quando a revolução industrial é revivida dentro de mim.
Olha, não sei, não me chateiem, não quero saber.
Quero viver.

18 maio 2009

4 estações

Enquanto as 4 estações se anunciam lá fora em espaços compassados, entre o quente transpirado e o fresco humido, sento-me na quase vã esperança de descansar, de respirar ao mesmo ritmo deste tempo que tomou conta de mim.
Abri as janelas, mais para me deixar levar onde a minha alma já está. Na primeira onda, envolta neste nevoeiro quente, parte de mim está com minha irmã, imaginei-a de olhos fechados, sujeitas ao que as mãos de quem nos amará, ditou na pretensão de nos ensinar? Como me custa acreditar nisso...
Antes de acordar, antes mesmo de chegar, outra parte ficara, encontrada, tão cheia de vida, tão despida dos ensaios desta vida, para além do mar que cruzei, partida de mim e chegada de alguem que construi, com pedaços enfeitados e coloridos, doces e amenos, tristes e melodiosos, vida em mim sem o ser.
Em frente a este mar cinzento, envolto nas pedras negras que me fascinam, apanho-as e lanço-as para longe, no mesmo movimento de cada ideia, cada sobressalto , cada guerra entre ser, viver, sonhar. É como se cada movimento me libertasse do peso demasiado, da ironia deste tempo em que os caminhos se multiplicaram e cruzaram, onde os horizontes me confundem e ofuscam, onde me debato entre a vida que existe e a que nunca senti. Transbordo de vida enquanto me adormeço, sentada agora entre dois poentes. Meu Deus, como me apetece saber rir, ou antes, descalça e cheia de crenças que nunca senti, seguir meu fado, minha vida e de mãos juntas agradecer assim.
Há vida em mim, vida chegada quando já esquecia. Quero tanto este sol que me ilumina antes mesmo de saber acordar!

Mum Green Grass Of Tunnel


Obrigada Martinha! Também tenho sonhado!!!!

13 maio 2009

Virada do Avesso

Hoje estou triste, zangada, virada do avesso. Triste comigo, zangada com a vida, perdida sem entender. Desfeita em mil desculpas que sinto e não devo, em mais razões para não ter, sem espaço de ser, com uma vontade atroz de desaparecer...
Hei de rir-me perante esta ironia, tão mais forte que eu, não é hoje.
Hoje apetece-me chorar, lavar-me em lágrimas, cansar-me e dormir.

09 maio 2009

Sempre fui tua, apenas não sabia !

É tão simples que mal me atrevo a entender, tão extraordinariamente uma extensão de mim, que nega todas as convicções que me acompanham desde sempre... Amo-te na mesma proporção que me descubro a mim. A tua voz solta vai tomando conta de mim, enquanto me enrosco num abraço que me permite alcançar a força do meu poder feito de uma vida que me respira.... Sempre fui tua, apenas não sabia !


Entras em mim como se reclamasses o teu lugar e eu, mais achada que perdida, percorro num segundo, as cores de um arco iris, torno-me mais mulher ainda, não penso, vivo e tremo.


06 maio 2009

Engolir em seco

Tenho um sonho antigo que me acompanha, uma vontade de saber mais, de colocar conceitos em raciocinios convictos, tenho vontade de entender porque ainda hoje não me situo e a desilusão está de mãos dadas comigo, tenho esperança de um dia me saber apenas rir.
Por enquanto, vou-me limitando a sorrir.
Não suporto este descrédito ordenado que me vai afogando, estas conversas de café que se seguem ao debate do ultimo jogo de futebol e que, em tom de despedida, me parecem apenas suspiros orquestrados de submissão, ninguém diz nada afinal!
Enquanto uns desfalecem nas filas do centro de emprego e outros recebem a parte que lhes pagamos para olharem para as paredes das repartições publicas ou baterem de vez em quando com um dedo na maquina de escrever (ainda existem por ai), outros tentam conseguir uma autorização de exploração que demora anos.
Enquanto ouço o sr. Primeiro Ministro falar do Pais das Maravilhas que não é o meu, e cada vez que abre a boca é para me dizer que sou estupida, eu lanço-me na aventura de me dirigir às Finanças de Santarém com uma dúvida. Simples e concreta, apenas uma pergunta. Como se faz para conseguir isto?
O primeiro impacto é engolir em seco, porque às 9:30 da manhã, o papelinho que sai daquela coisa vermelha, mostra-me que tenho 50 pessoas à minha frente. Deve dar para ir fumar um cigarro, sentada nas escadas em frente e sorrir um bocadinho. Nestes compassos aprendo muito acerca das gentes, dos casais que aparentam ser felizes no seu carro a prestações, nos caes que ainda nao aprenderam as regras civicas e dos milagres da multiplicação de pessoas cada vez mais iguais. Penso sempre que já devia ter arranjado as unhas convenientemente, pelo menos uma vez na vida e que a minha cara devia estar barrada daqueles cremes e cores que nunca percebi.
Volto para dentro e, as caras continuam as mesmas, a diferença é que entretanto chegaram uns tantos frequentadores assiduos que, entre beijinhos e piropos já estão atendidos. Os outros sacaram das TV Guias e o ar de resignação respira-se.
Devo entorpecer os sentidos porque já só me lembro de respirar no número antes do meu, de ouvir uns gritos para um velhote que quer entregar um terreno ao filho e não pode e outro que tem uma camioneta para apanhar e afinal não era ali que devia ter ido. Pormenores... Uma pastilha elastica com dentes pronuncia o meu numero.
Entro na Twilight Zone, enquanto ainda disposta explico, tres vezes a minha questão, clara e concreta. Não perco uma derradeira opurtunidade de dar a entender que mereço respeito e digo que sou engenheira. A pastilha elastica torna-se mais perfumada mas, ainda assim, saio com as mesmas duvidas, com a sensação que vou ter que ir vender o meu peixe para outra repartição, e não resolvo nada. Levei uns coices por cima e, na descida das mesmas escadas onde larguei a ultima beata, lembro-me da amiga das finanças de Almeirim.
Telefono, beijinhos, a mesma questão, está resolvido. Imagino a mesma fila de gente e outros tantos a fumar ca fora, do outro lado do Tejo. Que se lixem, tenho uma amiga... E nem sou engenheira!
Não perco a deixa e vou ao café ao lado dizer mal da crise e do estado a que chegamos.
Por enquanto ainda vou sorrindo!

03 maio 2009

Mãe

Acordei com o mesmo brilho que o sol que me esperava. Não é só esta leveza sustentavel, é a minha cara quente, o sangue que me percorre, é o meu corpo vivo e dormente, é esta alma presente, esta calma ....
Dei duas voltas ao meu jardim feito de acasos e escolhi uma flor amarela, a mais bonita de todas. Embrulhei-a na folha metalica que agora uso com carinho e decidi que a minha roupa teria que combinar com a cor dela. Enquanto abria e fechava armários e a agua quente corria, relembrei mil histórias da minha mãe, daquela voz doce, do meu amparo de vida. O caminho foi ameno, cantado e sorrido e em dois minutos tinha o abraço mais doce do mundo, um sorriso que só a minha mãe tem que se ilumina com uma simples flor. Não é a cor dela, não é o cheiro que trouxe comigo, é um laço que nos rodeia, do tamanho deste amor que sinto.
Vimos juntas as formas da vida, ouvimos o vento junto ao mar, rimos enquanto as amostrinhas de gente brincavam em fantasia e, ao voltar, os meus olhos brilhavam ainda mais.
Foi assim o meu dia terminado no mar que me habita e preenche, noutros olhos tão fortes para onde caminho, sempre, sem antes pensar.