04 março 2011

Entre mim e o vento, há uma lágrima quente
que me acarinha a face molhada.
Esta névoa encantada em que me envolvo nos fins de tarde, tão clara que vislumbro cada despojo que o mar ainda abraça e eu penso se será ele o derradeiro criador de sonhos e verdades. E pergunto-me, "Que verdade, se eu mesma não me revejo nas palavras e porém os meus gestos despiam-me das amarras e eu, flamejada de vergonha olhava-te... Naqueles momentos em que te julgava distante e impenetravel e ousava quebrar a minha cara disfarçada. E pensava no meu tamanho ali despida, se era desejo ou revelação, se por um instante, o silencio dos teus olhos eram a palavra que me esqueci de aprender a ouvir. Se era a minha verdade guardada no  recanto mais empoeirado de mim.
Cada vaga parece-me um conto agora, não vislumbro ilhas ou enseadas, não consigo, vejo os despojos que desfalecem nos meus pés descalços e, no entanto, cada um se desenha harmoniosamente na praia, nos contrários dos elementos, como se criasse esta história. E eu, penso, "Que arrogância a minha, querer tomar conta dos verbos e dos gestos, se uma lágrima apenas diria do meu medo e do meu credo, da minha ancora e do meu recanto, se os meus olhos falavam da minha sede de ser, um momento, de crer ..."
E revejo o tempo, não a cronologia dos passos, vejo os espaços que me distanciam, a ironia com que estes pedaços se ajustam e me mostram que sem contornos, és parte de mim, de uma memória presente, nos caminhos que me trazem aqui, sempre.
Ainda me fascinam os fins de tarde. Ouvi que morri e renasci, e tudo passou tão longe. Não que queira saber assim de mim, não que a consciência me acrescente, apenas percebi o meu horizonte, que cada instante é do tamanho que nele me envolver. Conheço-me? Não sei...
Sei ver-me assim, fascinada com a ironia dos acasos, com as minhas mãos fechadas capazes de segurar o mundo, confundida com os sorrisos oferecidos, os abraços desabrigados, com estes estilhaços tão vivos que se acercam... Ainda ouço falar de mim sem me ver.
Vejo-me uma, duas, poucas vezes, num suspiro profundo que me não enche, na minha sede inconsciente de nudez em frente a ti, vejo-me nos contornos da minha mente despercebida de mim, lá no fundo onde ninguém habita, nos sorrisos soltos que fazem parte dos meus contornos. Não sei viver sem sorrir.
Apetecia-me esbofetear este tempo, este ocaso, este mar cinzento e imenso que me rasga por dentro e não me deixa dormir. Apetecia-me sorrir grata, pelo sentimento que me abarca, pela ausência presente, marcada cá dentro em silencio, antónimo da palavra já gasta de não ser capaz de me ver noutra cara. 
Apetecia-me falar desta vida crescida em mim...
E do tempo que me marca a cara e não passa.
Apetecia-me assim, não ser preciso a palavra.

1 comentário:

marta marques disse...

"cada instante é do tamanho que me envolver nele"

és linda Sandrinha...eu sim que tenho orgulho em ti!