21 setembro 2010

De vez em quando...

De vez em quando, em silencio, saberei mais tarde ter tocado o chão que não moldei, saberei o espaço desconhecido entre o acaso e o sentido que o caos me presenteia. De uma vez, farei migalha de vida, do ensinamento que a cegueira moldou.  Embriagada, olho a noite estrelada e recolho-me em mim por inteiro, nos sentidos que não decifrei e, me ditam na madrugada, que no silencio se toldam mundos, que as palavras que me digo, são mais claras, mais benditas.

Sou tão pequena, tão distante da génese que quis equacionar em palavra, sou mão fechada querendo suster os mundos, mão aberta deixada ao acaso de uma ordem por mim inventada e desta noite clara que da minha alma chora quando mil sorrisos falariam tão mais de mim. Sou o fruto de mil caminhos passados, lições de vida marcadas bem fundo, tão fundo que preciso de desligar tudo para saber ouvir. Sou a força de um suspiro que despoleta sem anuncio, nas salas brancas de nada que pinto de sonhos e esperança. E de vez em quando, faço-me ruindo, anunciando o nada, que em si, é tanto.

Eu sei, conheço agora, o preço de saber-me, do cheiro que de mim emanou sempre, e eu, sabendo tanto, enganava o medo de me olhar sem medo. Sinto, sinto tanto, sinto em cada hora a herança do meu sorriso e do meu pranto, sinto-me grande em silencio. Sinto o meu orgulho ferido nas palavras sabias em que não confio, confiando-me um abraço que deixei guardado no fim, sinto a derrota dos limites que nego, sabendo que, nesta hora, são reservas, só reservas, ao alcance das minhas mãos. 

Aspiro de novo o ar desta cidade, o cheiro do rio, as cores, as manhãs frescas com cores diferentes em cada dia, os meus passos aqui pertencem-me, sem que os enfeite de predicados, o acaso ditou-me os gestos e mandou calar o medo.  Não quero o abraço disperso e pedido, não quero a palavra, se sei o valor do silencio, não quero nada, querendo o sonho, de vez em quando, vai correr bem, vai correr tudo bem. Sou grande de tão pequena me sei.
Dói dizer que não sei, que estive doente, de corpo e alma, estou ainda, que estou mais viva, que o sonho tem as cores que não ousava, que as cores são maiores que os meus olhos, que os meus olhos fechados, viam e que, de vez em quando, me dispo e me ouço, o meu sangue, o meu barro que moldo em mãos toscas.

Mudou tudo, e de vez em quando, de vez em quando, ergo os olhos alto, humilde e agradeço, e creio, do mais fundo, que o acaso faz o sentido e o meu mundo, vem de dentro, antes de tudo.

2 comentários:

marta marques disse...

Sandrinha....
bolas....não podería ir deitar-me mais feliz!!! li-te e chorei...
que bom estares de volta...
P A R A B Ë N S
pela vida que tens...pelos anos que fazes..pela pessoa que és...

faz hoje um ano que de alma dorida te pintei uma telinha angustiada....ai...mas era tanta a angustia...mas a pinturinha que hoje tens na tua parede foi feita do mais puro que levo dentro...para ti...
para ti só puro de mim pode vir...

depois fomos jantar com gente estranha para mim...lembro-me de beber as garrafas expostas em silêncio...sem abrir a boca sequer...

mas hoje ..agora...estou tão feliz...tão feliz...

até já minha amiga GRANDE

Anga Mazle disse...

"Dói dizer que não sei, que estive doente, de corpo e alma, estou ainda, que estou mais viva, que o sonho tem as cores que não ousava, que as cores são maiores que os meus olhos, que os meus olhos fechados, viam e que, de vez em quando, me dispo e me ouço, o meu sangue, o meu barro que moldo em mãos toscas."

Lindíssimo isto, Milhita!

Bjs