01 março 2011

Hoje subi a serra. Escolhi a encosta soalheira, onde habita aquele vento frio e cortante que nos assola a cara e desperta. Conheço o caminho no meu pensamento e, não sei porquê, hoje envolve-me a saudade. Por isso, desabrigo-me destas vestes adequadas e caminho nos meus sentidos. Esta serra já foi meu abrigo, minha seara de sonhos e minha foz de palavras. Tenho sede de palavras, não descritas e opacas, sinto falta das palavras que parecem suspiros, que nos saem da alma em torrente, porque mais do que o medo, há uma fome de ser por inteiro, de dar contorno aos cantos de nós, os mais recondidos e temidos e porém, os mais genuinos e precisos.
Tambem sinto falta do silencio, de olhos perdidos na planicie, aquele que diz tudo. Sinto falta de um momento uno.

Hoje pensei nas caminhadas interminaveis que fiz sozinha, e preferi-as assim, como de costume, habituei-me a atrapalhar-me de pessoas, a esvaziar os meus espaços do esforço de me integrar, aprendi acerca das roupas que gosto, da verdade desadequada, da minha sede de fuga que nunca soube explicar, e no entanto, em algum lugar, fui eu mesma a fechar as correntes, por medo ou pela simples percepção dos caminhos insanos que chamam, que cheiram, que me espelham mesmo assim. 
Do cimo desta serra, aspiro a minha verdade, as lagrimas que semeei aqui, a leveza, o abraço, o direito de, por um momento, não me pertencer só a mim. Tenho saudades do retorno no mesmo compasso, saudades de uma leveza na minha alma que agora ainda pesa tanto. Saudades da palavra cheia de uma verdade que não sabia existir. 

Por vezes preciso de me encontrar, de olhar o meu reflexo , de encontrar este lugar em que semeei o mais fundo de mim, sem saber da colheita, sem cuidar da semente, fruto de cada sentido liberto, cada grito de silencio que deixei aqui. Não sei crer ser mesmo assim, desaprendi a capacidade de me dar assim, tanto, invadem-me as historias repetidas, os contos esgotados a meio, a busca perdida por qualquer anseio, sem paragens, sem moradas, as gargalhadas que ouvi, a banalidade que moldei, a certeza que tal como agora, já não chegaria este aqui, este silencio estrondoso que ainda toma conta de mim.
Estaremos perdidos na sede, nos esgotares sucessivos, nos bocejos, no meu medo e meu descredito, neste compasso de tempo que parece sem fim? 
Hoje subi esta serra no meu pensamento para falar de mim, homenagear a saudade do silencio e do abraço, do tanto feito nada e deste hemisferio soalheiro de mim.

1 comentário:

marta marques disse...

que delicia sentir-te aqui! Sei que estás perto. sei que estás cansada. mas mais que tudo sei que estás viva! caramba a vida é tão frágil.
tenho-me sentido vazia. faz parte acho eu...
Sandrinha nunca deixes de escrever. ler-te dá-me vontade de pintar, portanto de viver.
não tenho pressa em voltar a ver-te. estou em paz agora. e sei que o teu molhinho de abraços, sorrisos e silêncios é meu.