16 julho 2011

Tenho este momento só meu, todos os dias, mesmo que seja tarde e esteja cansada.
Há 10 anos atrás, baixava os braços sem noção da urgencia, sem força. Há muito que não ousava enfrentar-me, trocar uma palavra comigo. Há 10 anos, o tempo ultrapassara-me numa busca frenetica de ver o mundo girar ao contrário. Na minha ilusão, a lucidez doia demais e a vida cegava-me, ou senão, ofuscava-me de cegueira.
Hoje pensei que me doi ver, olhar para trás e já não ter o dom de me cegar. Entretenho-me numa arrogância experimentada, defesa minha solitária. Já não me apetece ofuscar-me sequer, de altivez ou convicção.
Não sei se sou boa pessoa, não sei se a meio do caminho me orgulho ou castigo. Tenho numa pequenês o meu orgulho sofrido, tenho no medo o meu sentido e na coragem, os momentos mais intimos comigo. Como li, envelheci depressa, voei sem asas e caminhei demais descalça. Mas estou aqui, viva.
Não me perdoo em convicções que não cabem  na minha alma, acho que ainda nem me descobri.
Sei do que seria capaz, por ti.
Sei que me sinto sozinha na grandiosidade deste mundo que aguarda, que a ironia me ensina. E hoje, senti-me bonita, cá dentro. E não é sempre assim.
Hoje, estendeste as tuas mãos pequeninas e tocaste a minha cara com um carinho que vou aprendendo ser tão maior, e em silencio, ensinas-me mais que alguma vez fui capaz de beber da vida que me rodeia. Decresço no gesto, bebo este sentir tão novo.
Vou sentar-me e ver-te dormir.

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