20 setembro 2011

Esta manhã, trouxe-me cheiros que outrora vazios, me despertaram memórias. Lembrei-me da casa que oferecia um sorriso raro à minha avó, na azafama da vida. Vida acompanhada e desmultiplicada de ornamentos, vida simples de pensamento, vida suada nas terras e chorada sem que poucos vissem. Lembrei-me dos passos firmes que me ensinava, da voz mansinha com medo que se ouvisse. Aquela casa na esquina era um sonho por demais distante, se a sua fora roubada nos gritos levianos que apregoavam liberdade. Alentejana perdida numa cidade que a acolhia roubando a verdade e ousadia. Para trás ficara uma vida, deixada caida no terreiro do monte, de fugida. Lembrei-me de não ser tão complicada, de cabeça caida no seu colo, e de me sentir capaz de abraçar qualquer mundo. Lembro-me de tanto, tão pequena...
.... Do que me prometia e cumpria, de roer as unhas até fazer sangue, antes de cerrar os dentes e aceitar ser capaz, das conversas que tinha comigo, quando tudo me assustava. 
Esta manhã, devolveu-me a minha companhia, ser inteira por um bocadinho, sem mais nada, sem a saudade que me tenho, sem a falta da metade que deixei perdida no caminho. 

Talvez por entender agora que há um amor inteiro e infinito, pelo soluço que engulo tantas vezes nestes dias, talvez por encenar tanto este sorriso, mesmo quando o sinto, lembrei-me que ainda acredito, que ainda sonho ser inteira e abraçar o mundo que via. Há uma luz que me guia agora, que ofusca a ilusão e o medo de me perder. Estou meia, cansada, cansada, rendida. Não me encontro onde me quedei, não me vejo quando me olho, não digo o que sei e preciso de mim como nunca precisei. 
Talvez por agora ter pousado no meu colo um rosto que é tão mais que apenas eu, preciso de lhe oferecer uma voz mansinha que almeje a mesma luz e outro sonho, ainda mais bonito, que o meu afago se estenda ao mundo e, se as palavras não me chegaram, tem que chegar um momento em que o abraço seja mais que um laço, seja a sede de ser capaz. 

Este palco, que percorri de canto a canto, onde encenei cada embaraço, falei tudo menos do que sinto, este cais onde aceno e chamo, este traço esbatido no meu caminho. Cansaço. Passei tanto. Chega. Preciso abraçar  este mundo.

3 comentários:

marta marques disse...

SAUDADES!!!! ainda hoje disse para mim também, o quanto preciso de mim... mas no fundo preciso também de ser vista por ti...tenho tantas saudades Sandrinha .

Manuel disse...

Como me senti embalado, em cada linha, dessa viagem pelo tempo e pelas saudades.
Fui, quase, personagem.

Edilene disse...

Lindo! Que vocabulário rico e belo! Parabens! Aderi- me já a seu blog! Parabéns!