19 agosto 2011

Devia ser uma menina bem comportada, como sempre me disse aquela velhinha de cabelo como a lua que avisto agora. E eu, sempre me apeteceu dizer-lhe que ao ser assim, perderia o que julgava ser encanto, porquanto me veriam sem as mascaras com que me vestia. Cresci na ambiguidade de saber mais que isso e, mesmo assim não ousar ser. Perdi-me nos abraços vazios que me despiram mais que aqueceram, nas palavras desbocadas e sem sentido que os meus olhos pediam, pedi emprestadas dez vidas, ou mais que isso, sem mais nada, sem calma, queria ser amada, sem saber que tal seria. Mesmo assim, hoje sentei-me à beira daquela porta  que teima em não morar na minha memória, reli as linhas que falavam de mim nesses dias; fumei um cigarro e, como sempre distrai-me a ouvir as conversas que me ladeavam. É mais facil do que sentir.
Entrei na hora certa, mudei, cheguei a pensar que chegar a horas era sinal de ansiedade, mas as minhas horas são outras agora e a minha verdade descontinua-se no rol de ilusões a que me assisto. Chegar a horas é o respeito que devo, assim como o abraço genuino com que fui recebida. Aquela senhora conheceu-me noutras horas, horas de breu e de um caminho que hoje me assusta ao ponto de não querer pensar.
Constrangida, emocionada pelos rostos que guardo e a quem devo a vida, entrei na sala em direcção ao abraço quente, indefesa, grata e pequena. Pequena perante esta vida de acasos com sentido, pequena na emoção que me acompanha e aperta o coração, grata por esquecer e poder viver, indefesa na verdade que me ofusca e envergonha. 
Ouço e leio frases estanques, adjectivadas de pronomes e imagens, metáforas da vontade e inverdade, eu não sei quem sou, não sei o que fazer com o que sinto e o que penso, sei agradecer estar aqui. Não sei ser simples no turbilhão que vive em mim, não sei se me devolvi os pedaços que ofereci a troco de nada, não sei se paguei o que roubei a quem se despiu perante mim, nas minhas  imagens moldadas, sempre me desiludi. Não sei se fui amada, se quis crer que sim, sou hoje o passado que guardo em mim. 
Sei as lagrimas que solto na incompreensão. Sei o silencio onde me guardo e este abraço. Sei o medo da descrição, de um conto meu a que não assisti, e o meu sopro de vida é assim, um respirar finito, compassado no meu sentir. 
A dadiva da minha vida é tão mais que eu... " que parva que eu sou..."

1 comentário:

Penélope disse...

Sua forma de escrever é assim, a gente entra pelo primeiro parágrafo e vai até o fim.
Eu gosto de me perder pelas leituras dos outros e saber das suas impressões acerca do mundo, das coisas e das pessoas...
Eu sempre fui e continuo sendo uma menina comportada e contida, às vezes não sei se isso é bom... gostaria de sair do sério de vez em quando,mas ainda não consigo.
Abraços