26 outubro 2010

Riding Giants

Esperava, contrariava um misto de medo e negação, esperava nem estar ali, esperava que nessas horas o tempo não me tivesse corroido por dentro, que a sedimentação fosse não mais que ilusão, como tantas em que me abstraia de tudo, sonhando. Nas paredes das salas, pintava viagens imaginarias, impossíveis na realidade da minha memória, escondia o medo em sorrisos que oferecia a quem não conheço. Lutava contra a certeza com a força da minha ilusão. Querendo, não queria saber.
Esperava, horas que foram dias e dias que nem vivi. 
Negociei a causa e a razão, zanguei-me com cada profecia e citação e esperava, esperei tanto, que se tornou suportavel, a sala irrespiravel de tão suada em conversas banais, encurraladas na verdade crua e desumana, mais doentes que a própria doença. 
Aprendi a ler sorrisos nas caras duras, de bata azul que passavam por mim, cegas e vazias, aprendi a ouvir musica nos sons metálicos de alguma sala sempre fechada. Devorei livros como quem bebe fonte de vida, escrevi paginas soltas de pensamentos esquecendo aquele canto fechado e guardado que nunca vi meu.
Quis ser pássaro solto, quis ser entendimento na necessidade preemente de me afastar do mundo, de tudo o que respira vida em mim, quis ganhar asas e sair dali, enquanto esperava momentos que não chegavam, de palavras que sendo, não pareciam para mim. 
Esperei tanto.
Aprendi-me.
De cada vez que ouvi falar de mim, em números e tempos, fortaleci-me, ganhei voz, digna de uma teimosia tão minha, quis saber mais que ouvia, quis verdadeiramente saber de mim. Como se aceita o que não se entende?
Chamei-te gigante. Falei contigo e distanciei-te de mim. Gritei contigo num grito surdo do mais fundo de mim, ouço-o ainda, de vez em quando, na força que tenho e não sabia, nos sitios que me mantiveram sã, na essência mais que esperança, na voz mais que palavra que ouvi.
Gigante sem forma, escarrapachado no silencio das pequenas coisas necessárias para tomar rédeas de ti. 

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