12 agosto 2009

Instinto

Está calor. Está tanto calor aqui...
O meu amigo de sempre já voltou, contente...
Ontem já tarde, vi-a. É bonita como ele.
Estou de férias. À tardinha vou para a minha cidade, ver pessoas que gosto, abraçar a Ana, pedir desculpa, estar, lembrar-me de quem sou de verdade.
No meu mundo pequeno, preciso hoje de me entender, durante as horas que a noite aqui esteve, não soube recusar também eu julgar-me e desentender-me.

Vocês são sorrisos

Sou boa pessoa, sei que sou.
Sei, em pequenos devaneios meus. Sei porque aquele rapaz ficou comigo, porque sinto falta de um olhar lindo que a minha sobrinha faz quando está comigo.
Sou boa pessoa mesmo assim..
Lutei muito por ser integra, por olhar em frente, pelo meu direito em sonhar, errar e acreditar.
Usei-me tanto, usei tanto, esfreguei-me na lama mais profunda que não admiro, apenas me chama, às vezes, até aqui, sempre acompanhada, nunca deixei de me sentir sózinha e distante.
Sou boa pessoa, pouco mais do que isso.
De agora em diante, tal como em todos os meus dias, com sentidos esgotados de tanta falta de entendimento meu, com palavras apagadas sem engano, sigo..
Nunca usei ninguém a não ser a mim mesma, e enquanto o meu amigo de sempre ainda não voltou a casa, passou a noite na rua, empenhado nos sentidos, aceito, sabe tão mais que eu.
Não sei, foi o que aprendi.
Mas sou boa pessoa.
E preciso de saber isso.




" Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :
"Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."

Fernando Pessoa

Não

Não gosto de favas, nem de peixe cozido.
Não como coelho, não consigo.
Gosto de andar descalça mas é só por sentir os meus pés no chão.
Não gosto da palavra sexo, não a sei entender.
Gostava de saber.
Faltam palavras às vezes.
Não gosto que se riam e olhem a seguir para mim.
Não gosto de ficar corada, envergonhada.
Faz-me falta aquela madeixa de cabelo que me escondia a cara.
Não gosto de mim às vezes
Pareço ser má e feia.
Gosto do que sinto por algumas pessoas
Odeio o que desejo a outras.
Não gosto de ter quase 40 anos
Não chega, parece ser tarde.
Não gosto do escuro
De resto,
Hoje
Não sei...

11 agosto 2009

Terra da cor dos olhos de quem olha








A lua que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha

Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha condição
Pode compreender e povoar!

O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...

Outro Caminho

Partimos cedinho para o nascer do sol que nos aguardava mais a frente.


Chegamos a uma terra mágica, "El Rocio".
Povoação milenar, cheia de paixão, onde a história reclamou o seu lugar, onde as gentes se movem em pisadas de areia misturadas com cascos e cheiros, onde se fala mais alto e se canta.




Apaixonei-me de imediato pelo que me rodeava, como se as nossas origens se refletissem ali.
Ainda desacostumadas por um cheiro acido a estrume, mastigamos umas tostadas e apressamo-nos para o veiculo verde.
O José esboçou um sorriso, eramos portuguesas interessadas no seu modo de vida.
O Manolo conduzia e, de enviuzado, vi a paixão que o move, escrutinando nas dunas imagens, movimentos, sorridente, fazendo-nos levitar, como o Jose diria mais tarde.
Ao principio, entreolhamo-nos, parecia igual, os coelhos e as perdizes, tinhamo-nos rodeado delas a caminho do Pulo do Lobo, e o Lince escondido não havia só ali. Mas à medida que andavamos e entramos na Marisma de Donaña, os meus olhos começaram a absorver uma paisagem unica.
Jose seguia explicando-nos o significado daquele lugar, a vida partilhada em comunhão, onde o pronome possessivo tem pouco espaço, os potros seguiam as mães que nos toleravam com o olhar, caballos roceros, fortes, donos daqui, sabedores dos dissabores dos verões e invernos que os mudaram ao longo do tempo.
Ainda não vi as fotografias mas guardo as imagens na minha memória recente.
Guardo a história do Senõr Valverde que se apaixonou ao ponto de lutar, das invasões e conquistas, da ignorancia pelas enfermidades e erros consumados.
E a Señora Donaña, casada por obrigação, filha de desterros e incurias que livrou a mae das mãos implacaveis que vejo em todo o lado.
As crenças, as lendas e as viagens...
As milhas percorridas em busca de vida, paradas aqui só por um momento, de respirar...
Paramos...
A vida inundava-nos...
Aproximei-me do Manolo e, numa linguagem estranha, entendi o que vira, perguntou-me acerca da minha terra, mostrou-me imagens do lince, falou-me das tardes que passa sozinho ali, explicou-me que preciso ouvir antes de ver o rosado dos flamingos, mostrou-me os ninhos escondidos, e eu, sorri, percebi que há lugares que falam mais alto que nós.
"We are the people who rule the world"


Somos ? Não somos...

Camino Interior



Temores, suspiros,
quebrantos que traen el llanto Deseos,
esa extraña fuerza que me povoca!!!

Palabras,
Que se las lleva el viento y son de mi boca
Pensamientos malos que me envenenan
yo quiero librarme de esta condena
Y encender esa luz que llevamos dentro...

Destellos, conectan lo puro que llevo dentro
Sonrisas calor y dulzura pa mis adentros !!
Miradas, que rozan la punta el entendimiento
pensamientos puros queme liberan lleno de bondad y buenos sentimientos

Y encender esa luz que llevamos dentro...

Não saber

Palavras seriam expressões mas, são mais que isso.

Quem não conhece também as usa, quem não sabe, brinca com elas em construções, evasões, quem aponta julgamentos que nem entende, expele-as como suspiros, vampiros..

Palavras são trocadas em jogos que me destroem na sua alma, por ser pequena, por não aderir aos sopros mais entranhados das vozes feitas de nada, que em noites de lua foram tudo.

Palavras situam-se entre dois gestos, os ditos e os pensados, dois tempos de um sentido que, desfazados se reconstroem, mas soam, meu Deus, como soam a quem sabe ouvir.

A minha avó não sabia ler nem escrever, mas as palavras dela eram as mais sábias, eram notas soltas dos sentidos de uma vida.

As palavras lidas, quando sofro, são entendidas no mesmo timbre do que sinto, e agora lembro-me daquele guardião da calma que me ensinou a parar e ouvir, porque o rosado dos passaros só seria visivel assim, porque o que julgo saber, julga apenas o que não sei ver.

Apontei-me como causadora de um espaço moribundo e sedento de vida. Verguei-me à pequenês da minha conquista que ninguém soube entender, afinal as palavras eram de julgamento facil de quem se limita a expectar. Afinal haviam dois compassos por alterar.

Não era só o meu.

Conquista é uma palavra que me soa falso.

Verdade é que não mudaria elementos.

Voo em direcção a uma luz que não me cega, que não me confunde, apraz-me saber de tantas convicções que, julgadas conhecedoras, tão pouco sabem...

Apraz-me saber que a meio da vida, já existe quem saiba, cuja experiencia muna de ponteiro como os professores antigos que apenas ilustravam o pouco que sabiam. Eu nao sei nada.

Sei que recebo o mesmo sorriso que dou,

Sei que tenho mãos pequenas mas capazes de abraçar

Sei por sentir que, em algum lugar me espero para me acompanhar.

Fica



Sei o que fica.
Sem olhar nos olhos, por detras do que não olho, tento ver, entender.
Fica uma história de encantar, um lugar, passos leves e sentidos, fica o que sinto.
Onde fica o meu caminho senão dentro de mim?

A distancia substituiu a distancia.

Ainda mais longe, no nosso destino, aconchegada a mim, e à certeza que me encerra, fechei os meus olhos e procurei-te. Vi-te nas marés quentes, vi-te naquela lua cada vez mais amarela que me saudou com ar alegre, vi-te em cada musica, em cada passo que ensaiei. Vi-te distante e dentro de mim.
Era como a essencia daquelas vozes pequeninas, como os gestos que não sabemos, os sentidos que não domamos, o rumo que seguimos, como os sorrisos que aquecem e as mãos que abraçam, as almas mais sabias... Era como se os elementos ensaiados, me ensinassem o tanto mais que quis ver.
Não é por seres tu... Era tão mais que isso.
É porque me despertaste, porque apontaste o meu caminho, porque num mar azul sei ver mais cores, porque não seremos um mais um, seremos o exponencial de nós dois.
A distancia substituiu a distancia.
Certa, tão certa, tão longe de razoes que não quero..
Tão sentida e descoberta.
Corri para ti
e fiquei longe.

10 agosto 2009

Comigo..

Levei-me comigo, desta vez, prometera a mim mesma que não me esqueceria de mim, para além de duas malas e a musica que preciso.
As distancias, para mim, são subjectivas e nunca foram fisicas, tornei-me perita em percorrê-las num abrir e fechar de olhos, mas tambem sei tão bem distanciar-me sem sair do lugar. De vez em quando, olho em volta, e já não me vejo.
Distante e comigo, ergui os meus braços e prometi que antes de mais, me percorreria, iria explorar cada pedaço de mim, descobrir e abrir as minhas portas e caminhos mais secretos, prometi que me ouviria e em cada lugar, pararia para me ouvir e respirar. Cheguei a pensar o quão dificil me pareceria se não o quisesse tanto.
Já sabia ser bonita por dentro, como só eu sei ser e, não tenho medo de falar-me alto nisso, porque preciso, porque, entre mãos estendidas a tanta gente, percorri um caminho que me trouxe aqui, precisada de me enamorar de mim.
Aspirei o vento quente, da distancia de onde vim, via ainda um aceno calado, que adivinhei porque aprendi, em cada palavra sentida por um dia, e entrei em mim.

Longe


Longe, longe, no inicio, nos minutos, nos meus dias inundados de sol e de mãos e sorrisos pequeninos que me enchem, que me mostram a verdade mais pura..
Longe onde as horas são as mesmas mas passam sem pesar ,onde os sons se misturavam com um cansaço preenchido, em ondas quentes, carentes da minha própria verdade, onde a saudade tinha o sabor da luz e as cores me despiam de tantas razões em que me perco.
Longe, ficavam as horas.
Comigo, guardava a saudade, a tal verdade refletida nos gestos menos contidos que reaprendia a fazer, nas imagens que me fizeram crescer, nos lugares vividos onde sonhei poder andar, de mãos dadas contigo, mãos grandes como tu, como te sinto e vejo, assim, ao longe.

06 agosto 2009

Verdade

Saudade, é a voz de uma verdade emanada da alma.
Saudade é o que fica entre dois lugares ausentes e presentes
Saudade é vida, que guardamos
que antevemos
Ëntre dois lados de um mar, no mesmo momento em que olhamos no mesmo ponto
e vimos
Verdade?