11 agosto 2009

Outro Caminho

Partimos cedinho para o nascer do sol que nos aguardava mais a frente.


Chegamos a uma terra mágica, "El Rocio".
Povoação milenar, cheia de paixão, onde a história reclamou o seu lugar, onde as gentes se movem em pisadas de areia misturadas com cascos e cheiros, onde se fala mais alto e se canta.




Apaixonei-me de imediato pelo que me rodeava, como se as nossas origens se refletissem ali.
Ainda desacostumadas por um cheiro acido a estrume, mastigamos umas tostadas e apressamo-nos para o veiculo verde.
O José esboçou um sorriso, eramos portuguesas interessadas no seu modo de vida.
O Manolo conduzia e, de enviuzado, vi a paixão que o move, escrutinando nas dunas imagens, movimentos, sorridente, fazendo-nos levitar, como o Jose diria mais tarde.
Ao principio, entreolhamo-nos, parecia igual, os coelhos e as perdizes, tinhamo-nos rodeado delas a caminho do Pulo do Lobo, e o Lince escondido não havia só ali. Mas à medida que andavamos e entramos na Marisma de Donaña, os meus olhos começaram a absorver uma paisagem unica.
Jose seguia explicando-nos o significado daquele lugar, a vida partilhada em comunhão, onde o pronome possessivo tem pouco espaço, os potros seguiam as mães que nos toleravam com o olhar, caballos roceros, fortes, donos daqui, sabedores dos dissabores dos verões e invernos que os mudaram ao longo do tempo.
Ainda não vi as fotografias mas guardo as imagens na minha memória recente.
Guardo a história do Senõr Valverde que se apaixonou ao ponto de lutar, das invasões e conquistas, da ignorancia pelas enfermidades e erros consumados.
E a Señora Donaña, casada por obrigação, filha de desterros e incurias que livrou a mae das mãos implacaveis que vejo em todo o lado.
As crenças, as lendas e as viagens...
As milhas percorridas em busca de vida, paradas aqui só por um momento, de respirar...
Paramos...
A vida inundava-nos...
Aproximei-me do Manolo e, numa linguagem estranha, entendi o que vira, perguntou-me acerca da minha terra, mostrou-me imagens do lince, falou-me das tardes que passa sozinho ali, explicou-me que preciso ouvir antes de ver o rosado dos flamingos, mostrou-me os ninhos escondidos, e eu, sorri, percebi que há lugares que falam mais alto que nós.
"We are the people who rule the world"


Somos ? Não somos...

Sem comentários: