26 março 2009

Vontade de mim

O entardecer hoje pareceu-me mais forte.
Carregado de mensagens e sons.
Envolveu-me num abraço de fenos e espargos.
Senti deixar-me levar, como se as loucuras adormecidas houvessem já encontrado outro lugar. O peso das decisões afinal não é hoje, as lágrimas secas limparam-me a alma. Acordada, adormeci nesta calma.
Os meus sentidos lembram as minhas brincadeiras de infância. Absorvo o ar que respiro. Transpiro o peso, inspiro a leveza destes passos envergonhados por só agora saber ver.
Sentada por cima do rio, folheio paginas cheias da minha vida. Revivo as historias como agora. O sol baixa devagar, ensina-me o tempo das coisas, aquece e coloca cada imagem no seu lugar. Como este respirar que me liberta agora, enquanto matizes e cheiros reclamam o meu olhar.
Despi-me da bravura dos gestos e das definições, lavei-me com o fresco da tarde, desafiei as palavras e parei ao sol que resta. Vi-me ainda menina, misturando-me naquela azinheira que me revelou a descoberta em cada toque, que me arranhava os joelhos e feria as mãos pequenas nas minhas tentativas de chegar ao alto e a seguir, gritar, escondida, mais uma conquista. Vi três irmãs de tez queimada, rindo e tremendo, fugitivas da terra e cumplices do mar. No barco virado, nas roupas molhadas, no riso nervoso, perante as lições de vida que me fazem hoje mulher.
Tantas histórias para me contar..
Desci a encosta devagar, deixei-me levar. A planicie, ao longe, refletia o contraste da minha vida. O sonho e a realidade, a musica e o silencio, voar e caminhar. Esperava-me um sorriso que sei fabricado para mim. Gestos adivinhados por amor. O meu sonho era maior... Esta maneira de ser, como oferta de vida e de um lugar em mim.
O meu sorriso é simples, nasce sem eu querer.
Danço as musicas que o meu corpo pede.
Aconcheguei-me nesses braços fortes, capaz de pertencer ali.
Acreditei saber aprender a estender os meus e alcançar o mesmo sonho distante e tangivel, aquecida pelo calor que nunca vi em mim, protegida desta alma sedenta de voar e com medo de cair.
Construi um lugar emerso de gargalhadas e conquistas instintivas, plantei um jardim ao acaso, amei em cada passo, e neste entardecer, confio em mim. Não pertenço aqui, faço-me neste lugar, far-me-ei noutro qualquer, nesta arte de amar e crescer.
Antes amei quase sem querer.
Hoje abraço este entardecer desperta e apaziguada da alma da descoberta de mim, aqui...
Amo os contrarios, colo varias imagens e componho o ideal. Quero o irreal. Encontro-me em cada passagem do horizonte e agradeço esta vontade de mim.




1 comentário:

alma voante disse...

- sei de um passarinho que toma conta de ti

- sei de uma estrela que te ilumina

- sei de um mar sabio que vela teu sono

- sei das mensagens que o vento te sopra

- sei de um céu rasgado que te encanta

- sei o brilho dos teus olhos
- sei o encantamento que brota de ti

- sei porque sei, sem saber bem porque sei, mas sei