05 março 2010


Dei dois passos, não ensaiei, nem sequer me deixei falar comigo. Deixei-me ir.
Dois passos convictos, gritados e envoltos de uma paz capaz de se apoderar de mim.
Ouvi-os, senti-os... o bastante para encostar o ouvido à porta fechada. Do outro lado, imaginei margens, rios, poemas, fascínio e encanto, mar salgado e terra fertil, corpos molhados e bêbedos de lua nova. 

Quero lembrar que estive aqui.
O som das estações trespassam a fresta minuscula na madeira, por onde o som passa.
Toquei a madeira encerada, tapei a fresta esquecida e olhei em volta.
Em silencio, quieta, não pertenço, sossego:
É a volta da maré, o azular do oceano, e o renascer do vento.
É uma porta fechada, de madeira renovada e polida.
Bonita, majestosa.
Poderia deixar uma rosa. reter uma lagrima ou simplesmente o silencio ditar o que a minha alma não mostra.

E agora. Agora coloco o dedo nos labios, e retrocedo. 
Uma escada já gasta, um corredor cinzento e uma janela entreaberta, por onde passo de mansinho.
Cá fora, calço os sapatos, e não sinto.
Acordo.
Chove, chove muito entretanto

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