24 março 2010

Se antes, já tão distante, os meus dias se acercavam da unica fonte de alimento, A preço de moléculas de mim, comprava a sede e vontade de me prolongar. Era facil, era um caminho alucinado de voz escondida e calada, era um rugir profundo de não saber, enquanto o meu corpo significa uma mais valia percorrida em ruelas sombrias, cinzentas permeadas por ribeiros de tristeza e loucura. Na ida, corria, voltava envolta na nevoa da loucura, que nunca chegava. Vendi-me pelo justo valor que oferecia, lavei-me numa agua parada, aspirei a fumaça do mundo que não pergunta nem quer respostas. Era breve o meu decidir, tão breve quanto a visão desenquadrada da negação. Era nada num todo louco que me chamava. Viajei por terras que não existem, imaginei-as ao mais infimo pormenor, populei-as de caras fantasiadas, tive conversas plenas com ninguém, vi luzes invisiveis e cantei árias com timbres que não alcanço sequer. Nesse tempo, desembaraçava-me melhor sozinha e o ventre esfumado como prémio, era o melhor companheiro que havia, não queria ninguém e ninguém me havia. Via as lagrimas escorridas de um amor que me ultrapassava, um choro profundo que não ousava deixar que me entrasse. Conheço esta loucura como me conheço a mim, conheço a face escura da lua que hoje brilha.
A carneirada subitamente grata e conhecedora mistura-se-me nas palavras, desenquadro-me mais ainda que ao percorrer o cinzento das ruas nas noites escuras e enevoadas. Vejo o conhecimento como barreira, degrau cimentado que se ergue nas pegadas da mesma loucura que me acompanha. A meio, vergo-me, não sei ainda para onde vou. Não sei mesmo.
Sei que não estou onde devia, sei que a minha mente disfarça a vontade do que sou, e essa tornou-se mais facil distanciada de mim. E este sentir tremendo, esta saudade da terra que me alimenta, de cada elemento que me dá vida, das viagens empedradas, da chuva que me transborda, das palavras, das palavras silenciosas, é um horizonte escondido que sem tecer, me dá voz.
Hoje calei-me ainda mais alto, virei-me de costas e olhei para mim, calei este medo esgotado. Ensaiei mil vezes, antevi, premeditei,... Sempre disse que a mudança em mim estava no degrau cimeiro da perda. De seguida sei a força que guardo de me ganhar por inteiro. O que me aguarda é o maravilhoso desconhecimento disto tudo.


1 comentário:

Miguel disse...

Fascinam-me as palavras, o que não é novidade por estes lados, mas encantaram-me os sentimentos a gritarem por vida, a saírem detrás das pedras do silêncio e do medo e a clamarem por mudança.