19 março 2010

 Mais forte que as guerras que se travam todos os dias, é a epopeia que empreendo comigo. Pouco documentada, muito, não pretendo o adjectivo, move-me uma vontade de me munir e crescer, pela força de um pensar que não domino.
Por isso, escrevo, aqui, num papelinho , num qualquer lugar onde a paz me sirva de estrada que raramente sigo.

"Escrever é estruturar um delirio"
A. Lobo Antunes

As palavras são imagens, manejo-as num conhecimento construido de caminhos, de arribas fronteiras, de um delirio adocicado que me abrilhanta os olhos. Desfaz-se aos poucos a vontade de raciocinios obesos de premissas. Questiono as cores que vejo, e tantas vezes desentendo. Questiono tudo por cansaço e calmaria.
Somadas, as palavras seriam um todo, desviam-se nas encruzilhadas de pretensão, e eu rendo-me por pequena. Pequena, 
Pequena do manejo alucinado, da febre que me trespassa e me rouba a igualdade, pequena do varejar das ideias mais que as palavras, mais que uma imagem tardia.
O meu horizonte é uma obra iniciada, um querer terreno que nunca tive, mas sei a morada, descobri-a, palpavel, exequivel, em cada ferida, cada sorriso, cada lagrima e inexactidão. Senti-a nos erros e na desilusão, no sopro mais forte que razão,  e enquanto escrevo, esqueço o silencio tirano e esta verdade tão clara: Nunca nada seria como devia, envolvem-me abraços quando a paz se me anuncia, porém, se a minha cara salgada se mostra, resta o que escrevo, as imagens que teço, limpidas, resteas, minhas.
Questiono tudo, ouço vozes altivas em prol da honestidade, da verdade. E esta são as terras semeadas de defeitos, de medos, de loucura desmedida, pintalgadas a preceito com vontade, benquerença e integridade. Alguém fica agradecido com a dadiva do defeito? Alguém fica depois de me despir por inteiro e cuspir no chão o meu ser mais calado, o meu avo de medo, o meu lado escondido? 
E porém, fortaleço-me na desigualdade, sou mais que a diferença pretendida ou a mera ventania que passa, choro, sabendo cantar de dentro e esta febre presente é mais clara que qualquer palavra esboçada antes de gritaria.
Enfim, permito-me a palhaçada, como uma prostituta divina que se cobra, que se paga, por ainda agora esperar o que surge para além da claridade, a diferença, a vontade, esta sede sentida, impensada de um dia, ao longe, deitar-me numa areia quente, fria, seca ou molhada, mas despida, nua, sem nada, sem uma sombra de vida que fique sem ser vista. Sou por ora, fantasiada, mascarada.
Marco passos desenquadrados de um caminho interior, como a mais simples verdade. Vou correndo, apressada, temente de uma verdade, contente.
Não sei enganar o meu reflexo, não consigo tapar a claridade gémea, e as palavras gritantes que me saem de um eco por demais uivante.

2 comentários:

salgados disse...

Oi!

Deixei um Big 'LOOK' para você, lá no meu blogue, viu?!

Manuel disse...

Sabe? Foi dos mais lindos poemas, em prosa, que ultimamente li.
Espero que toda essa angustia seja, apenas, um reflexo da vida que nos rodeia e não o sentir de agruras que a torturem.