12 março 2010

Uma névoa densa, quase diria que envolta no sarcasmo ancestral que não pretendo decifrar. O Mondego adivinhado, serpenteado, e companheiro. A barragem da Aguieira, guardou uma tarde quente, num verão que não esquecerei. Eu guardei a calma da insanidade, o silencio da fuga e a liberdade de me devolver à loucura tão precisa. 
Desta vez, sou de uma desconvicção profunda e de uma sobriedade que me chateia. Queria estar bebeda de loucura, um instante, queria saborear esta vontade de me jogar à vida nesta agua misteriosa. Não vejo e adivinho o caminho, este e o que me corre nas veias.
As distancias, são somente o tempo de permeio, o suficiente para um arregaçar de esperança e um tempo que me semeio. 
Carregal do Sal é uma terra que traz memórias de pedra granitica, de muros, de uma farmácia no meio do largo que nunca esteve aberta. Um copo de agua que me lembro de ter pedido envergonhada, o incêndio em volta da casa da Beira, as maçãs, lembro-me de escorrer na relva molhada de encontro à agua, de pisar as pedras no ribeiro antes da casa senhorial que me obrigava a ser mais ainda quem nunca fui.
Bebe-se chá num bar estranho, entranha-se desconsolo numa sala resguardada e, em fracções de tempo, só penso na agua da barragem que chama cada vez mais alto, nas vertentes do Mondego que prometi descobrir, nas estradas de terra que me levariam na distancia precisa, perfeita.
Antes de amanhecer, não sei o que tenho... Reminiscencia de um tempo, saudade da corrente verdejante de um caminho, desta febre que não passa, desta cara vermelha e desta viagem estranha.

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