26 março 2010

Desassossego

Cada dia parece o mistério de uma demanda cada vez mais solitária, o meu corpo debate-se numa vontade crescida, vinda de uma noite longa de recusa alucinada de me encarar de frente. Não vês que existes em todos os passos que percorro, que enquadras o firmamento que me dá sede, que por mais cores que alcance, é nos teus olhos que me vejo?
Sou hoje um somatório de passos feridos, de pés descalços julgados capazes, sou um marejar salgado sem razão que me dê alento, que me acalme. cada instante, cada lição, cada tempo musicado me levam a um lugar, que não conhecendo, sempre foi meu, recheado de ti.
Sou metade, vestida de uma ausência tremenda de cada dia que passa e tu permaneces em mim, sem que me rasgue do erro depositado nesta desconfiança tropega... Há dias assim, chegada, sentada aqui, em que me obrigo a entrelaçar as mãos, calar a vontade e recolher-me ao tempo que falta ou que já partiu.
Não vês que te amo tanto que julguei não ser mais que um quadro abstrato e, agora, sou eu que me rasgo mais ainda, em pedaços deixados nos passos que nem vejo, nem alcanço. E cada degrau, é simplesmente o preenchimento saldado do meu dever tanto.
Estás em todo o lado, a tua voz, o teu sorriso, as tuas mãos, o teu lado mais negro, o teu recanto escondido, o teu medo e a tua força, e ferindo-me, cimento-te em mim mais ainda. Não sei o nome de um sentimento que me fez ser esta alma que não entendo sequer.

4 comentários:

Anónimo disse...

Cada vez mais a admiro.

Manuel Poppe

Moi disse...

Quanta saudade triste nessas palavras!...

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Lindo texto, revejo-me nele.
Adorei

Beijinhos
Sonhadora

Manuel disse...

Linda mensagem de amor