22 março 2010

Ensaio-me. 
para que a morte me seja ao som dos pés,
o som das uvas esmagadas 
com o sangue de todas as rosas que não vieram ser-me lençol. 
uma porta de chumbo a ser livro raso. a ser abate. 
e abro-te a boca para te ser luz que não sombra
e se o eterno mais não fosse que este único momento de trigo incerto? 
dirias que um pássaro me dividiu o corpo? 
ou antes que o fundo do abismo seria mais alto? 
como vês, nada sabemos da extrema solidão. 
fonte ou harpa. seremos sempre a metade de um livro alegórico.

Isabel Mendes Ferreira

5 comentários:

Miguel disse...

belo momento de poesia, a prender-me do princípio ao fim.

Moi disse...

Solidão!... Parece ser um mal que rodeia a maioria...

Manuel disse...

Imagem forte e triste.
Tristeza mesclado de mistério e de esperança.
Belo trecho que dá para meditar.

anA disse...

Sim. Gostei muito de estar por aqui.
anA

Luz disse...

Amiga da alma,
A maior solidão é deixarmos que a mesma nos tome sem que façamos nada por ela e, com ela em nós.
Faz parte da nossa aprendizagem de vida, do crescimento interior que existe e opera em nós se nos soubermos olhar no espelho e, ver, saber ser sempre.

Lindo momento este que nos proporcionas, ainda que com a força da tristeza que nos assola.

Abraço de Luz