04 março 2010



Li-me como uma história contada de mim. Paginas em que me fui deixando, fragmentos de um conto mais sentido que falado, porque as palavras não serviram ou porque não as encontrei, foram as imagens mais sentidas  de um dia que não se desdobra, de uma pagina que não se renova nem se apaga.
Percorri com o olhar, um desfile de sentidos que, de mim, emanados, foram passos numa margem que não conhecia. Celebrei em tempos esse despertar de uma voz de dentro, tão clara, tão minha. Hoje, a minha cara mais fria, deixou-se molhar com o mesmo carinho que as mãos se cruzaram no colo. Lá fora, os sons sossegados da tarde, pareciam aguardar uma paz renascida que não encontra morada.
Descobri a minha ilusão nos cantos sinistros da madrugada, descobri o medo na claridade do tempo e guerreei a fé com uma razão entranhada de feridas lavadas e de uma mente desperta. Descobri-me igualmente nas quatro faces da lua, ofereci-me estatutos errantes, tão grandes, fui serpente, fui cara deslavada e um eco de gargalhada que a tarde trouxe consigo. As palavras, foram ficando desgastadas e inimigas do sentido.
Muitas vezes, olhei a janela e soube-me ouvir, tinha uma voz tão clara que anunciava as estações efemeras de sentido repetido, e eu, errante de liberdade, mais que prisão, parecia esperar um rasgo que me calasse, na minha voz infinita. Soube sempre acerca da repetição atroz, das madrugadas renovadas de passagens, soube sempre que amar é preciso, seja onde for.
Amar muitas vezes, um pacote completo, embrulhado e pronto a usar. Nada de desgastante, nem trabalhoso.
Desamar, simplesmente.
Não sei falar sobre isso. Nunca amei na minha vida da forma que a alma sonhou , ama-se somente uma vez, e só depois me parece que se pode dizer que se amou, uma vida, um instante, um segundo.
Amar é uma palavra entre qualquer oriente. É um dia que passa, um balançar preciso. Talvez por isso, não saiba, que não entendo o sentido, talvez seja outra a palavra que não se forma, talvez o silencio a conheça.
Li-me devagar, com todo a carinho que deixei para mim. A prosa já não faz sentido. Quedo-me assim, à beira da minha estrada empoeirada, meio torcida, convicta que me aguarda uma caminhada de mim. Sei de antemão durar o tempo que sempre me teceu, uma vida inteira, mais que uma quadra, mais que um simples poema ou episodio.
Felizes o que renovam e comandam, e eu não. Eu sou meia madrasta, meia canção. Sou qualquer coisa que tarda, por isso, me fico, agora sem palavras. Bebi-as como se saboreasse um acto unico, que nunca será o ultimo, nem mais um, apenas o palco de vida onde me vi.
De seguida sorri... Não sei porquê....

4 comentários:

Menina do cantinho disse...

"Li-me como uma história contada de mim. Paginas em que me fui deixando, fragmentos de um conto mais sentido que falado, porque as palavras não serviram ou porque não as encontrei, foram as imagens mais sentidas de um dia que não se desdobra, de uma pagina que não se renova nem se apaga." Compreendo tão bem estas palavras.

Beijinhos*

múrmurio disse...

Doce amiga...amar é vida realmente...já conheci o amor como sonhei, devo talvez estar grata, no entanto é amargo demais sentir o sonho na palma da mão e vê-lo voar como pássaro assustado....nem sei o que será melhor, viver a sonhar ou perder a capacidade de acreditar que ele voltará... com a mesma intensidade...
bj

Menina do mar disse...

Gostei muito de chegar até aqui.
Obrigada pela tua visita.
Voltarei!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
li o belo texto e vi-me integrada nele.
Disse-me tanto.

beijinhos
Sonhadora