30 março 2010


Salvação Barreto

Queria ter no corpo este cheiro da terra molhada, queria misturar-me nos campos verdes que germinam papoilas como pinceladas multicolores anunciando o dourado das searas. Queria ter na minha mão, oferecida ainda, uma flor pequena com que o Alentejo nos recebe.  Queria que dos meus olhos saisse a visão que concebo que me faz viva,que este verde fossem palavras crentes numa caminhada errante, escarpada, ferida, tão minha.
Queria saber escrever o que sinto, deixando migalhas do caos que me trouxe a este sitio. Queria uma sombra de abrigo, uma fiada de trigo que me mostrasse o caminho por entre os lanços de medo que me ferem tanto. Queria sentar-me contigo, encantada com o bailado das gentes que me sabem mais do que penso, queria ouvir falar de mim, num conto  que o tempo guardasse à espera da limpidez do sorriso.
Queria cantar-te ao ouvido, uma história que te conte, feita dos meus olhos carentes, um conto antigo por escrever, sussurrado nos sopros do tempo que este sol nos fez.
Queria uma vez, ler um livro que falasse de nós, sem gares sombrias de partidas, nem gestos omissos, queria uma voz que fosse só minha, um trecho entoado ao som dos meus olhos, quedos de brilho.
Queria que o meu querer fosse assim, falado, cristalino como a agua que corre nesta terra aquecida, que as arribas altivas fossem, vontade de ver ainda, tão claro, tão limpido...
Queria o perdão dos deuses, que sou pequena, tão cheia nas mãos deste vazio de uma mente que não falando, me cala, errante na madrugada que sempre cheirou à terra que o meu sentir habita.
Sou amante da minha essência, errante nas ruelas escuras, perdidas, que percorro, crente que embocarão nesse horizonte desperto que me dá vida.

3 comentários:

Moi disse...

Hoje queria ter palavras para comentar tão belas visões por palavras descritas!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Passo para deixar um beijinho.

Sonhadora

Menina do cantinho disse...

Olá!
Tem um presentinho para si no meu cantinho ;)

Beijinhos*