04 março 2010

A tarde não distava nas cores cinzentas, misturadas com o Tejo transbordante que corria, com pressa, sem tempo.
Transportava as ofertas da terra, assustava os bandos que, de vez em quando, debandavam. Voltariam em seguida.
No cais, um velho olhava ao acaso, sentia que seguiu os meus passos, como se os contornos da passagem, fossem inesperados. Avisou que o cais escorregava e eu agradeci. Agradeci a palavra mais que o cuidado.
Os barcos atracados, cansados, balançavam-se sem nenhum bailado perceptível e, uma sensação aleatória tomou conta de mim. Estive aqui como poderia não ter estado. Provavelmente, seria a minha face mais clara nesse dia, mas não deixaria de ser mais uma. 
Passeei os meus passos pelo cais, ouvi o murmúrio zangado da agua, olhei em volta e reconheci uma onda mais revolta que determina a ordem. Vim aqui como poderia ter ido a outro sitio.
Não o trouxe comigo, não me deixei lá.
Fui visitar o Tejo, só isso.

2 comentários:

PAS[Ç]SOS disse...

Caminhos de tempo que se tecem na vontade perdida das memórias, em busca duma força geradora de natureza. Assim se olha num abraço cego, o rio.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Lindo texto, um pouco nostalgico, mas belo.

Beijinhos com carinho
Sonhadora