30 dezembro 2009

Paragens

Horas. Horas. Horas.
Conheço esta estação como se fosse minha paragem regular, não sei porquê, mas calha...
Outro dia, lavei-a de lágrimas, bebeda de palavras, hoje visitei-a como se fosse importante.
As casas de banho brancas, não gosto quando é tudo branco de mais, apetece pegar em canetas de cor e pintar, fazer desenhos. Cheira a lixivia por dentro e por fora, misturada com a nova vaga de detergentes de que alguem lucra, nas contingencias vigentes.
Pedi três cafés, de cada vez, ouvi "Bom dia" e "Boa viagem", à terceira meti conversa, tinha os lábios colados de estar tão calada e desperta. Soube do tempo e do vento, soube onde estão as tomadas para me ligar ao mundo e conversar calada. Esperava pacientemente que esta manhã terminasse, farta de entrar por mim adentro, sem reservas nem medos, ofuscada com uma sensação que não me gosto nada, nada.
A estrada foi deserta, mal a via, percorri-a sentida, meia zangada enquanto falava com o Lima, necessitado do seu ar de mestre de caminhos, vá por aqui, olhe que chove muito, temos tempo... Eu acompanho-me, eu cuido-me, porque o não faria aqui?
Noite cerrada, os musculos dos meus braços ainda doem, a minha vida é cheia de viagens que me não tiram do sitio mas que me deixam voar.
Horas de espera, carga errada, volta não volta, é isto.
Ainda deu para perder a placa de iman na autoestrada. Mas fiz marcha atrás até a ver. Quero lá saber.
E o vento que sopra e não ter mais vontade de escrever de dentro. Apetece-me ser insonsa, fazer uma loucura bastante, rir de mim, falar baboseiras e comer pão com azeitonas.
Apetece-me vomitar estes fragmentos de mim que não saem.
Assim, conheci profundamente esta estação de Pombal.

Ainda deu para bater de frente comigo e de trás com um qualquer. Ainda deu para me ver e me envergonhar.

Queria ficar aqui agora. Não me apetece voltar.
Rumo ao sul, as pedreiras, construir a destruição que há-de ser obra, explodir-me por dentro, num ribombar que estremece os corações mais fortes. Apetece-me gelar a alma e rebentar tudo à minha volta. Arquitectar com cuidado, com detalhe, as distancias e as simetrias, ligar com nós de mestria, e admirar o levantar sossegado que por dentro, se transforma.

1 comentário:

Manuel disse...

Espero que, em 2010, nos continue a brindar com estas belíssimas cenas do quotidiano.
Beijinho e Bom Ano.