29 dezembro 2009

Que pobreza é essa que se cala?

Assim que me toco, estremeço.
Sinto-me atolada em criação, fraqueza e arrogância, de normas humanas que não me pertencem, que dispersam vagas ardentes nas terras de ninguém. Vês? Não há gente nos lugares imaculados, não há sorrisos, não há nada, há faces cerradas, há figuras disformes, fantoches de nada. Agora, há lições que o vento solta, que o mar semeia na praia, vindos de uma terra de dentro, mais quente e sentida, manchada de vida e colorida de desordem. Há lágrimas pequenas que escorrem na gente, há mãos estendidas que tu não entendes, há mãos pequenas que te acenam de longe, que se entrançam e renascem na desordem, que se matam nascendo. Vês?

Sinto a culpa entranhada, sinto o silencio banal e desigual. Estremeço num calafrio. Que cor sombria é esta?
Que arrogância precisa que se faz desigual e banal? Onde está a minha parte louca que me disse que precisava? Que pobreza é essa que se cala?

Sou minha companheira, serei sempre, trago luz nos meus olhos, tenho lugares em mim que ninguem alcança,  desilusão nas mãos, cinza que me trespassa. Como um remoinho que dista anos em translação, que sei que há-de voltar, que passa e me cresce. Agora.
Tudo na minha vida deixou marca, tudo se fez guerra e paz, não consigo viver neste lugar de permeio, não sou capaz.
Não quero mais este lugar, quero uma cancela na minha porta, onde outrora cobrei bilhetes de alma a quem senti entrar. Mereço ouvir e falar.
Não quero mais ouvir musicas que não gosto, não me quero calar, não quero desacreditar e negar por esforço. O meu lugar já é onde me aposto, onde me vejo.
Não quero gente ausente à minha volta, tenho sorrisos cá dentro que preciso deixar, tenho abraços ao mundo inteiro, tenho uns pés sedentos de andar, tenho voz, tenho a boca seca de não estar.
Já não sei escrever, entrancei-me de um silencio que me mata devagar. Rio se choro, choro só agora, amanhã hei-de cantar.

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