19 dezembro 2009

Um abraço a toda a gente

Aquela musiquinha de Natal do Paul Mc Cartney que todos os anos parece ser eleita, uma rebaldaria nas lojas emproada de caprichos reforçados, a gritaria das crianças histéricas, atafulhadas de quereres e espirito natalicio artificial, batons, saltos altos, mescla de perfumes que me fazem espirrar... Claro que sacudi as botas antes de entrar e espirrei de braço enfiado na boca.
Lembro-me que o que eu queria mesmo era um baloiço com um pneu, que as tábuas partiam-se, e queria que me deixassem experimentar pular as cercas de arame farpado por cima, e sentar-me no poço velho de pernas para dentro. Queria rebolar nas searas que a minha avó dizia terem carraças, queria beber vinho como os grandes, e ficar até tarde de volta da lareira a ouvir as histórias bonitas. Queria bolos de terra e levar os meus cães para a cama, queria os livros que o meu pai trazia quando me visitava, queria o sol que a minha mãe me oferecia com palavras amenas, queria conseguir saltar mais alto e apanhar as amoras verdes da copa por cima da eira, queria ver primeiro e sentir os cheiros todos, queria abraçar os touros que me encantavam e partir a cavalo até ao fim do mundo.
Sou saudosista da minha essência, viajo por entre as pessoas que viajam por fora delas, cumprimento e alimento as causas, sonho mais que o vento em pensamento e nunca encontrei Reis Magos, nem mirra, nem estrela. Vejo Maria em cada uma de nós, vejo José nos homens sentados a trincar palitos e a fazer magia com as mãos fortes, vejo Jesus todos os dias quando abro os olhos à vida, ouço os vendilhoes nos meus dias e cegueira nesta quadra desprovida de alma.
E em Copenhaga discute-se agora não poluir mais que 2%... Discute-se em guerra de caracter e pouca sabedoria. E ontem o arrumador da 5 de Outubro, tinha tomado banho e disse-me bom dia, com o sorriso mais bonito, e eu agradeci lembrar-se de mim, e algures numa casinha do Norte há-de haver um velhote de capote a acender uma lareira e a lembrar a sua Maria que ele até agradece descansar agora, e amanhã há-de ser outro dia.
Apetecia-me oferecer um abraço a toda a gente.
Precisava de ouvir que me amas, que eu amo mais que o meu tamanho.
Precisava de um baloiço de pneu e de uma jangada transparente.
Precisava de acordar.
Um abraço a toda a gente...

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