17 junho 2010

Lisboa estava sossegada nesse dia, guardava ainda papelinhos e cheiros distantes, amante de uma lua clara espelhada no rio, escutava os passos deambulantes das caras perdidas e das vozes caladas, raiava cor nas praças iluminadas, nas avenidas frescas, na vontade tremenda de me voltar ali.
A noite deixou-me respirar sentido, sair da minha boca cada palavra que guardo sem eco, sentada entre duas caras que neste tempo aprendi a conhecer. O meu amigo, brincava contente com um gancho que encontrou em qualquer lado, e as horas foram passando, e as historias passavam por nós como só uma. 
Pergunto-me como é possível ver-se em mim o que não sei descrever, como adivinho nos olhos o mesmo que sinto.
De vez em quando, o meu amigo olhava-nos concordante, visitava-nos com uma lambidela rápida e parecia dizer-me que seria feliz ali, se o levasse sempre comigo. Os livros amontoados no banco de trás, contavam o esforço e a conquista, e nele, arquitectamos em conjunto. Não as conhecia, são de longe, de uma cidade à beira mar, bonita, são vida contida como a minha, são elas mesmas bonitas, cuidadas e viajantes como sempre admirei saber-se ser. Falava de mim, sentia-me ouvida, na obra que me ergo sozinha e onde existe espaço para mim e para tudo o que me habita. Respirava e esperava a sentença que, me era devolvida em historias sentidas do mesmo. 
A musica entrava nas palavras e, ao longe o fresco da noite movia-nos o corpo presente, ali, como se nada fosse, como se nada importasse, ninguém esperava, ninguém via.

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