08 junho 2010

Se o olhar se ouvisse, pediria um gesto baixinho, um pedido a medo, um abraço. Um peito cheio de alma, braços quentes de aconchego, mãos de lua,  que adornassem cada lágrima que me embarga a garganta. Se no reflexo da agua, se formassem palavras esquecidas, faladas de sentir mais que dever, ouvir-se-ia um gemido de cansaço ou pensar profundo, nem sei, cheiraria a feno molhado no sitio onde me encontro, cimo de uma caminhada isolada, de cajado em punho, rumo a qualquer tempo que tanto preciso.
Se lá no alto, lançasse um fio de prumo, balançaria com a leve brisa que o meu sopro almeja, e pela janela entreaberta entraria um cheiro que me não pertence, um rumor conjunto, uma luz divina que me não deixa embarcar cega. Se a voz da Lua fossem notas que conhecesse, cantar-lhe-ia um conto, grandioso como a história do Adamastor e Tormentas, mas pequeno de letras, que de sentir foi lição e de silencio uma vaga solta, mil palavras fechadas num instante. Esta claridade doi tanto, cravada no meu peito como uma gargalhada contraditória, que tanto ri de mim como me ama, tanto me ensina como me desdobra em personagens que mal conheço, reconhecendo-me em cada uma.  
Estou cansada, os meus olhos pedem mais que livros, mais que contas, os meus olhos têm fome, fome de me verem no reflexo das fontes, de me molharem de agua vinda de muito longe, desse abraço forte. Estou forte, sinto-me forte de tão fraca que parti, forte de guardar o mesmo gesto esperando que rume onde se encontre.
Correm rios de bruma nestas madrugadas, correm-me lágrimas, sangue nas veias que chama de mim.
E eu não tenho como expressar.
Um abraço!


Vermelho seria a forma de o sentir, perpetuado no que fica depois do gesto, no sentido que as palavras não levam, no silencio que um momento me despertou. Um abraço amigo somente, seria tanto! 

2 comentários:

Moi disse...

Depois de ler este teu texto, lindo como sempre, que nos transporta para longe deixo-te um abraço do tamanho do mundo!...

Angel

PAS[Ç]SOS disse...

Como uma brisa que se suspira,
como um sorriso porque se aspira,
como uma vaga que nos inspira,
uma resistência que expira…
um abraço
num verbo baço,
palavras que enlaço,
neste sonho que traço
na fadiga de me sentir rio correndo na saudade…