21 abril 2009

Como me pude esquecer de ti?

Conheci-te na minha noite mais escura e fria. Levaste contigo o que restava de mim, corpo caido, desentendido da ironia da minha vida. Julgara-me fogo que só em mim arderia e naquele dia, um raio de inferno caira em mim. Algures, haveria um esgar de memória de uns olhos de mentira presos por dentro e que haviam marcado a minha existencia para sempre.
Esvaziara-me ainda do fruto que nascera em mim, entre lágrimas pouco sentidas, entre gemidos e silencios, despedira-me de mim e tu, raio de luz no Adamastor, sentado na pedra fria, quiseras ensinar-me a paz de nada ter que entender.
Tinhas um olhar tão diferente, de pernas entrelaçadas, apontavas as luzes para lá do rio e não pedias nada. Por cada soluço meu, o teu abraço era mais quente, as musicas soavam em ti e, antes de amanhecer, aceitara ir contigo para qualquer lugar. longe daquele sorriso cruel que mais tarde haveria de enfrentar. Saltei na garupa do teu cavalo veloz e abracei-te para sempre, cheia de nada, cara molhada que secaste ao vento da estrada.
Como fui capaz de te esquecer, meu amigo de sempre?
Por mim, fizeste o que ninguém faz.
Acordavas-me a meio da noite e dizias "vamos?" e eu ia!
Ensinaste-me a não me sentir obrigada, a não ter de dançar para ti nem protagonizar a imagem da tua vida, e eu, de mãos cerradas e afiadas, não queria. Conhecia outra estrada, de lama e mentira que me entranhava e esgotava como se mais nada tivesse restado de mim.
Ensinaste-me a não ter medo e eu não ouvi. Numa noite quente de Verão, num bar qualquer do Bairro Alto, gritaste alto para um mar de gente, "É tão bonita esta mulher!", e eu não ouvi! Arrancaste terra, devoraste mar, por mim, como me pude esquecer de ti?

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