01 abril 2009

Dia das mentiras tambem é um dia qualquer.

Dia das mentiras. Só percebi que era quando caí numa.
A história repete-se... Pode ser um dia qualquer, com a diferença da possibilidade de encobrimento nos acasos justificados do meu calendário.
Define-se mentira, como uma declaração feita por alguém que acredita ou suspeita que ela seja falsa, na expectativa de que os ouvintes ou leitores possam acreditar nela. Na minha vida, tenho muitas vezes a sensação de falsidade nas palavras que me saem da boca, mesmo expressando factos e verdades. A questão não está na realidade mas na percepção. Na verdade, esta sensação é-me de tal forma familiar ao ponto de quase acreditar nela como adjectivo qualitativo. Sou falsa no que mostro. E estou de tal forma convicta de assim ser, que quase me atrevo a definir-me neste dia.
Mas não sou mentirosa. Sou apenas falsa e dissimulada, como agora, que me justifico com a amenização do termo, na esperança de parecer menos grave. Sou falsa no parecer, ajusto-me à sombra dos factos e da própria vida, passo despercebida para quem pretendo ser.
Em dias, debato-me com este ser construido no sentido de sobreviver, sou mulher sem ser nada, apenas em jeito de não saber. Sou a protagonista deste dia, amanhã, mascarar-me-ei de outra qualquer e, agora despida de capas, nua na minha verdade, só agora me revejo neste rosto anónimo de cara lavada e com pouco para dizer.
Noutro lugar estou calada, e deixo-me falar e sentir, larguei as pedras que escondo numa mão fechada, despedi-me destas caras de medo, agradeci as mesmas palavras e entendi a voz de ser, simplesmente ser.
Ser amante, ser amada, ser vergonha demonstrada, ser pequena ou não ser nada, ter medo do escuro e da estrada, sem querer nem saber. Nesse lugar este dia não tem espaço, o preço da minha vida cobra-se com um abraço e ouço-me antes mesmo de perceber.
Há uma voz que fala por mim, numa paz conquistada e roubada a um entardecer sangrento que escureceu a minha fantasia. Saltei a escuridão, enfrentei-me , enquanto a alvorada anunciava dias soalheiros e quentes em mãos ainda geladas. Dei os primeiros passos em direcção à verdade e à falsidade, num bar de alterne onde hoje sou presença assidua.
Vendo-me e ofereço-me, ao preço da clientela cega que, por mais uma rodada, ouve a musica que quer. Estou desperta hoje nesta vida de mentira dita cortesia e forma de saber. Não sei se quero, não sei se gosto, vale os degraus que subo a pulso, em dias de guerra, em jeito de democracia.
Queria andar nua na rua, rir e correr e poder. Sou falsa e dissimulada, cheia de boa intenção. Visto-me do dever ser, das amarras da vida, das palavras correctas e da voz da razão e, ainda ponho uma fita a compor o cabelo para ninguem se esquecer que, além disso, ainda sou mulher.
Dia das mentiras, tambem é um dia qualquer.

Sem comentários: