22 abril 2009

Espreitar

Sinto que, sem querer, abri uma porta e avistei um lugar cheio de sol e de cores. Não andava perdida, tenho esta mania de espreitar, parece que aquela frase de saber o meu lugar, não se ajusta a mim. Gosto de espreitar às janelas, de olhar para dentro das casas e fixar-me noutros lugares, gosto de ver as carteiras e ouvir as conversas, abrir portas que não estão fechadas, conhecer outras pessoas e ver-me nelas. Sinto-me sempre ausente mas até a diferença acalma-me.
Talvez porque não me encontre, gosto de espreitar. Entrar e sair, ter coisas para ouvir e contar, gosto de deambular sem saber onde estou, raramente me sinto perdida e continuo com a sensação que um dia hei-de me encontrar.
Também gosto de falar, às vezes falo demais mas tenho sempre qualquer coisa para dizer, noutras alturas estou calada e deixo-me ouvir por dentro. É sempre a parte mais complicada.
Tenho a sensação herdada que há um tempo que me espera e tudo tem o seu lugar. Quando me ouço, há uma voz desordenada e sentida que me diz para nunca deixar de procurar. E os episódios, desenquadrados, vão-se tornando parte de mim e, estas portas que abri, refletem a mais simples razão de ser.

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