21 abril 2009

Minha mãe é uma Vitória

A primeira imagem que tenho da minha mãe é das tardes em que via chegar um carro azul cheio de sorrisos dela que precediam os meus. Lembro-me desse sorriso que resistiu às caras com que a vida a dotou, ainda o vejo, precedendo a voz mais doce que conheço.
A minha mãe é uma Vitória.
Tem nos olhos os amanheceres molhados cor de feno e na voz o canto das gentes, nas mãos tem sempre uma flor para me oferecer quando está comigo.
À sua volta sempre se levantaram vozes mais alto , vozes que amou sem pedir nada em troca, vozes fortes e feitas de caracter que ainda hoje entendo existirem apenas por ela.
A minha mãe tem uma história, feita das mesmas palavras doces e dos sonhos ainda de menina que duram até agora, feita de lágrimas caladas e de outras abafadas de verdades alheias e suas. Tem uma história contada em cada caminhada sozinha, distante dos entardeceres alentejanos que a viram crescer e dos cheiros do pão cozido e das crostas das feridas escondidas para ninguem ver; noutros lugares mais frios e ocos em que nunca deixou de cantar baixinho o som dos passaros e o toque dos cavalos que a vida insistia em roubar.
Minha mãe estendeu as mãos, abraçou-me e a todos e, mesmo ferida, entre rajadas e esperas, nunca ninguem ouviu seu grito. Grito de alma, grito de paz, de justiça e dos abraços falsos e vazios de tudo o que amou.
Mulher feita de terra, tão bonita, minha mãe, minha amiga, que hoje embala a vida, me ensina a minha, mesmo calada, esse sorriso ilumina a minha estrada, perdida antes e agora achada.
Amo-te tanto minha mãe, sou feita de ti, da terra e do mar, respiro a alma que me deste, vagueio no mar mas é para ti que sigo, meu porto de abrigo.

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