30 abril 2009

Deixar-me ser

Enquanto uma voz ímpar, desconhecida e cada vez mais lúcida se faz ouvir em mim, sinto a minha forma fugir, tornar-me quase invisivel. Penso em duas questões: serei a personificação da negação de tudo o que acredito e me fez chegar aqui ou antes uma alma desentendida?
Com a mesma expressão com que um dia, mergulhada na mais profunda lama , soube olhar em volta e avistar mais além e uma vontade suprema de ser, com a mesma força de vida com que alterno nos opostos da minha existência, revisto-me de capas sagradas, dificilmente mostro quem sou, sei que sou!
Com as minhas estrelinhas do norte e um sol que nunca deixou de se mostrar, sempre segui caminhos, parei para respirar, encontrei lugares que decorei com os tons feitos de mim, só para me sentir em casa, lutei, lutei, perdi, ganhei, estou aqui, não respiro, sustenho a respiração num impeto do tamanho do mundo. Conheço a estrada mais larga e sempre que olho parece-me estupidamente familiar, tem passadas repisadas, quase arrastadas de quem espera tão pouco da vida. Sei que nunca soltaria os meus laços coloridos para saltar nesse caminho, encontrando de vez em quando outras paragens de gentes, de sorriso contido e agradecidas pela comodidade do percurso.
Hoje zanguei-me com a ironia dos acasos, pouco banais, com o descompasso do meu tempo, com a inverosibilidade das minhas formas. Tenho febre e estou cansada, e tão cheia de vida que me apetece perguntar se estou em algum programa de Apanhados. Poderia oferecer-me hoje Tchaikovsky e reviver os meus amados Cocteau Twins. Viver uma epopeia forçada ou simplesmente deixar-me ser.
Deixar-me ser. A resposta para os meus primeiros passos, para a paz que me liberta; enquanto o digo, relembro as 7 saias e fitas e capas com que me revisto julgadora de me saber esconder. Encarar caras deslavadas, sorrisos tristes e frases feitas, enquanto dentro de mim, negoceio contratos de puro determinismo. Sou falsa, já sei! Contratei-me para isso ao preço de conquistas de vida.
Preciso de deixar-me ser, só isso!

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