18 dezembro 2009

Despeço-me da mesma vontade

Despeço-me da mesma vontade de partir, num desejo de me distanciar das coisas terrenas e das que me habitam, que me bailam e visitam.
Despeço-me de braço dado com o sentimento que o meu silencio me aparta. Seguirei o desejo de partilhar construção, com a obra que me ergue, com a soma de caminhos e certeza.
Estarei noutra praia, feita das memórias que me vestem, do calor que a minha cara oferece e do medo que as minhas mãos não calam. Estarei no sangue que me percorre e nas pedras da calçada que me esperam. Estarei na promessa de chamar casa ao meu lugar e meus os despertares por mais nada.
O ruido que a janela para a cidade me traz, as luzes que não brilham por ofertas, o cheiro das castanhas, o grito das crianças e os dois musicos de violoncelo que me enternecem, nesta tarde cinzenta em que me despeço do frio e da febre e lembro cavalos alados, soltos da minha infancia.
Noutra noite, senti lágrimas de musica, num clarão desconexo de um tempo em que uma viola tocava e aprendia melodias novas e cantava, que pulava de colo em colo e oferecia uma festa, que amar era só ser e deixar-me embalar pelas cores da vida e por castelos de sonho.
O meu castelo por descobrir, e uma musica que não sei cantar.
Despeço-me da mesma vontade de ficar onde não há lugar.


1 comentário:

Luz disse...

Amiga da alma,
Quantas vezes nos despedimos da mesma vontade de ficar onde não há lugar..., e, quantas não nos queremos despedir dessa mesma vontade...

Abraço pleno de Luz