18 junho 2010

Sabes, há uma árvore majestosa, albergue de vida sabia e silenciosa, numa estradinha empedrada, rumo a Alpalhao. Uma árvore que se adivinha, ao longe, antes da curva rodeada de muros de granito e antas esquecidas que o tempo guarda. Uma árvore onde habitam 3 ninhos de cegonhas, mais altas que as outras, contornos apenas, perante o Sol Poente no horizonte.
Já me sentei naquela pedra ancestral um dia, tinha nas mãos as palavras que escreveria assim que chegasse. Já me estive ali muito tempo, perdida nas minhas ideias e viagens, já bebi agua que trazia e dancei naquela seara ainda verde, admirei aquela árvore com olhos que eram mais meus nesse tempo, com um sonho cravado nas veias e uma sede de me dizer.
Esta árvore tem vida crescente, sempre que ali passo, há uma magia que me chama, uma paz que o alentejo canta, um murmúrio de vento e planície. Ao longe, vejo a serra, adormecida, a pedra cinzenta que esculpiu a minha vida e, neste sitio distante, sem estrada conhecida, acalma o ensaio das cegonhas que ficam, já não partem, e eu sinto um carinho que nem sei de onde vem.  Fico ali esquecida das horas, com outras palavras na mente, de mãos dadas no meu ventre, perdida numa corrente que passa por mim. 
Mais a frente, chama-me a pressa da vida, o senhor de olhos azuis que me ensinou que os homens duros e arrogantes sabem amar, e à tardinha, tenho o Luís, o eterno Luís que se multiplica, de barbeiro passou a careca, de testa brilhante, camisola aberta, de pelos a mostra e uns jeans rotos e sapatilhas... E as gaivotas, ficaram mais sábias ainda, e a anta espera na sombra, outra visita, e eu cansada, sozinha e cheia de vida, não espero volta nenhuma, há mais sítios, onde as ervas se agarram ao vestido e a neblina se solta mal o dia termine.

Sabes, há homens que se ultrapassam, que se dobram na sede de mais que vida, mais que horizonte, há homens que deixam nos passos mais de si do que uma estante apinhada de trofeus. Há homens que eu creio, existirem por mais se ser, que apenas um punhadinho de ideias. Até sempre Saramago!

1 comentário:

Moi disse...

Não tenho palavras para comentar tão belissima homenagem!
Não saberia fazer melhor!
Junto-me a ti no até sempre...

Bom fds
Angel