07 novembro 2009

Hoje

Não sei bem porquê, os dias chuvosos, trazem-me de volta um instante em que a vida me surge numa viagem a que me assisto em plateia. Fechada em mim, cada vez mais ausente de um mundo que por hoje, mal conheço, envolvo-me em histórias passadas, sorrio de saudades, leio folhas soltas que escrevi há tanto tempo, revejo-me e estranho-me nas letras que transpiravam de mim, insanas e sonhadoras.
Escrevi muito no tempo em que a minha alma intoxicada, via um mundo de cores diferentes, ora cinzentos, ora explosões de dias fascinantes. Mais tarde, soltei as amarras de sentimentos descompassados, apressados e incoerentes... Temente, amarrei-os, um a um, num laço enquadrado em vivência amena e esquecida ainda mais de mim. De vez em quando, sopravam ventos do Sul que me envolviam numa expressão que brotava do mais fundo que existe. Foi nesses dias que mais construí, que mais ergui um ser sedento de caminhar. Foi ai que me descobri em todas as minhas cores, que dirigi uma orquestra de sentidos, tão vivos, tão meus.
Hoje li um texto sobre um filho, como o que eu teria, como o que tive mil vezes em pensamentos, que amei sem nunca conhecer. Chorei de tanto que o senti, reprimindo uma série de porquês que nunca me abandonaram.
É como um veneno que me cura, cada momento de uma lucidez ferida, de uma certeza de um mar de mim que me invade por dentro, silencioso. cada dia em que me vejo, por dentro.
Limpei as lágrimas que hoje resolveram aliviar-me e, vestida com o meu melhor vestido imaginado, limpei-me, varri-me e já deitei fora a poeira. Hoje sinto-me pequena por me ver tanto.

2 comentários:

Sonhadoremfulltime disse...

Amiga do desassossego,

Após ler um texto este, quem escreve, já não escreve.
Uma vez mais as palavras levantaram voo deixando a sua página vazia.
Senti os pés a ficarem dormentes como pedra, um veio de morte a trepar rápido por mim acima. Pernas e braços incapazes de esboçarem qualquer reacção. Depois, os músculos do pescoço a retesarem-se, os olhos a perderem o brilho, baços.
Mais palavras não fariam sentido.
Obrigado

Abraço amigo

Luz disse...

Amiga,
Depois destas palavras sentidas vividas dentro dessa alma que habita em ti que dá a vida que mais podes dizer além de que tudo vais fazer para não te abandonares de ti mesma e, antes deixares-te abandonar por aquilo que auspicias e desejas nessa vida em que és um ser tão grande!

Fizeste-me recuar no tempo com este tão sentido texto.

Abraço com alma de luz