28 novembro 2009

Parte I

Escrevo numa folha de papel de um caderno quadriculado, escrevo num sitio onde não me sinto nem ninguém me conhece.... Escrevo porque estava sentada à espera que uma moça com ar empertigado (que não vou voltar a ver) me traga um prego médio e uma dose de batatas, porque tenho frio e a alma gelada, zangada. Entrei na primeira porta aberta que encontrei, ainda com a musica que ouvi toda a tarde, já a sei quase de cor, é a que me entra agora,  Radiohead - Jigsaw fallin into place
- The walls abandon shape
- There`s nothing to explain
Partes que entoadas se conjugam na minha cabeça, como pedradas mais soltas que as que rolaram hoje  debaixo dos meus pés. Escusado será dizer que o meu sitio hoje se decompôs em palestras lunaticas que joguei de mãos soltas em direcção a mim. Apanhei-as antes de cairem e guardei, guardei, guardei...



O frio que me entrou nas veias hoje, trouxe-me de volta aquele olhar que faltava, recebi-me estremunhada. bem vinda, seja lá quem fores. Esta casa é tua, porra, senti tanto a tua falta!

O prego tem ar de já ter sido engolido antes e, afinal não é isto que eu quero. O que eu queria mesmo era o que sonhei quando tinha uma sainha vermelha de xadrez inglês e um alfinete, dois totós na cabeça, o que eu queria mesmo era ter encontrado aqui o homem da minha vida. Aqui ou em qualquer lugar que ele havia de me encontrar. O que eu queria é o que não tenho tido.
Bebo kms como agua, enterro-me em lama de propósito que gosto de ver os meus sapatos sujos de calcario, ando de noite, de dia e por mera cortesia, adiro às opiniões femininas que nunca entendi. Jantar sozinha é rotina, e se os poucos que me entram precisarem de mim, estou a caminho. Mas estou sozinha numa tasca alegre, sempre estive e sempre estarei.
Destruo-me em paralelos toscos, sem nada de meu, não me encontro, procuro-me em faces que não me refletem.

Ah mulher, és maior! És sim senhor... Neste momento, venha quem vier, na tua companhia, sem que nada te espere, sem sequer saberes se viras à esquerda ou à direita, noite fria, quente, som, silencio, dentro de ti entoa a mesma musica que te aconchega há tanto tempo. Musica tua, sitios teus, imagens que afrontas naquele que te gera e entende... Quando é que foi o dia que assim não foi?
Balanceio-me no meu próprio desconforto, agora, temente e carente de pedaços soltos, que egoísmo tão grande, que me desconcerta, sou mais livre que penso. Amanhã caso comigo e vamos juntas em lua de mel.
Há-de ser o primeiro de três sonhos.
Que venham mais noites assim, o resto que se lixe. Tenho febre de mim hoje!
Vou-me embora, o prego fica.
Vou comer um bife onde me apetece, mas antes ligo o pc só para me deixar, parece-me uma boa altura, esta uma noite escura!

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