17 novembro 2009

Senhora de mim

Debrucei-me. A noite está tão fria e a minha cara ferve de uma febre persistente. Gosto da semi loucura febril, dos sonhos que me despertam, gosto do calor que emana de mim, enquanto o meu corpo se queixa. Não me queixo eu assim..
Fez-se uma paz em mim que quase agradeço, uma paz em forma de um gesto sentido, contra as tormentas, doenças, contra aquelas faces lividas que me convidam no cimo da escadaria. Nunca me sento, nunca levanto os olhos, como se o meu olhar preferisse encarar-me por dentro.
Seria capaz de descrever com precisão os cheiros e os ruidos, os dias e as noites que se confundem, os movimentos mecanicos de quem não sente e as visitas fatidicas, repletas de condescendencia. Quem as visse, sem contexto, diria que quase festejam, como delas dependesse a convicção.
Como prefiro o silencio mais festivo... Como me entretenho comigo, em viagens longinquas e cheias de mim. Nunca estive ali, nunca.
Atravessei um deserto de areia quente, ouvia ao longe as vozes da razão e algumas conversas feridas, abracei  uma amiga atormentada pela droga de vida, baixei os braços a cada invasão do meu corpo estranho, pequeno.
Embalo-me de uma guerra silenciosa, vencedora à partida, em cada sorriso, em cada virar de costas, o meu jeito de me entender e a mais que não queira.
E falo de um Deus tão bonito, que o sinto, que o vejo, cá dentro...
E, no entanto, envio-lhe eu um suspiro e uma mão cheia de encanto, e pergunto, e questiono e sentar-me-hei sempre no final do meu dia, à beira de agua e olharei o reflexo da minha alma tão viva.

1 comentário:

Manuel disse...

Sou leitor assíduo dos seus lindos poemas em prosas simples.

Fico extasiado com a simplicidade desse libertar de pensamentos que me contagiam e me fazem, também, sonhar.

Nem sempre escrevo mas... levo dentro de mim a mensagem.