23 junho 2009

Desmembrada

(escrevi isto nem sei onde)

Hoje, acordei desmembrada, desmentida, sem meios mas comfins,
Tal como antes, acordara nos meus braços que me pareciam estranhos mas que me acarinhavam por fim. À minha frente, a restante plateia sustinha a respiração, sem grandes expectativas, sem aplausos, o silencio reinava numa sala ainda escura, enquanto ao fundo, as cores se formavam e o meu despertar equivalia ao preço da minha propria vida. A palavra "Só por hoje" repetia-se nos meus ouvidos como badaladas lançadas à alma vazia. É só hoje! Não é pedir-me muito..

Parecia tanto... Houve alturas em que me ria, no meio de outros soluços, ria de mim e despedia-me. Ria-me dos passos pequenos, do medo do dia, e por cada um, juntava uma mão cheia de luz.
Descobri o meu sorriso, a minha voz, descobri que a vida me era devida, que a dormencia do outro dia já não me pertencia, não cabia no sonho que despertara ali. Fugi das vozes ancestrais que me iludiam, fugi da raiva de não me desculpar, fugi do conforto da escuridão e, de braços abertos enfrentei esse dia, que por ora, era só um. Pedi desculpa a quantos amava e agora sentia, escrevi páginas inteiras da dor que havia cá dentro e que já não cabia em mim, esvaziei-me para me voltar a preencher, descobri mais dias, mais cores e sabores, descobri que afinal era capaz de viver.

Desmenti os livros que me haviam formado e maravilhado, discuti comigo até a exaustão, garanti-me o preço justo da minha ilusão e da diferença da estrada que seguia.
Sozinha, vergava-me à vergonha e à culpa e a tantos outros assaltos de alma que me inibiam e contraiam. Arregacei as mangas à vida e comecei a lutar.
Descobri prazer na sobriedade dos meus sentidos, descobri que havia arte nas minhas mãos e fiz-me uma vénia no dia em que ultrapassei o meu limite.

Oito anos!

Passaram 8 anos! A plateia hoje aplaude mas eu não ouço... Sei que sou uma vencedora sem razão, sei que cheguei aqui à custa de uma luta justa, minha, contra a insustentabilidade deste meu ser.

Hoje estou tão magoada. Nunca estive assim....
Voltei a precisar de mim!

1 comentário:

Inês disse...
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