02 junho 2009

Lágrima

Retive as minha mãos sedentas de escrever e soltei-as por fim, por mim!
A lágrima que escorreu foi de alegria, como sentiria enquanto punhados de terra calmantes e permanentes adormecem a minha memória tão viva e dorida. Mataste pedaços de mim que viveram refeitos em outros pedaços, multiplicados em laços e abraços que aprendi a me dar e, tu, morreste !
Naquela sala ardente, a voz da minha amiga de sempre já continha a mesma alegria que sabia receber de mim. Naquele momento, esqueci os supostos e pressupostos que ultimamente, só não me servem de nada, esqueci as convenções, o amar o próximo, não desejar o mal a ninguem... Quis tanto que tu sofresses, que tu morresses, porque não quis a morte que me atiraste e, de pequena aprendi a renascer.
Num momento, sou invadida por cada palavra, pelos momentos com um homem que de menina me dizia ensinar a ser mulher, pelo que me dei a ti, tanto que no instante seguinte já só tinha o suficiente para fugir , enebriar-me e apagar-me na dormencia que tão bem conheço.Caminhei vidas que não conheciam, que me invadiam, entreguei-me mais do que era capaz, amei-te e desamei-me, despi-me de um pudor meu e abracei uma loucura que me assustava e calava, porque eu não sabia.
O Alentejo meu já era teu, o teu conto era a minha história, e eu não sabia.
Não sabia o tanto que havia para além de mim.
Sabia o conto sem saber a história.
Não ficaram feridas, porque essas sei lamber, não ficaram lágrimas que tão bem sei secar , ficou uma dor cada vez mais violenta, mais silenciosa e confusa, começou com uma voz de verdade. De seguida, aquele som e uma dor que me cortava o ventre enquanto nem lagrimas me sossegaram, eu nem sabia.
Mais tarde, ficaste em mim para sempre, restea da tua essencia, sabor da tua verdade, mentira do meu sonho genuino e, desde ai, foi esta presença que ficou de ti, opressora, vingadora que me custou tanto a entender.
O teu olhar ficou para trás, as palavras e gestos tornaram-se metamorfoses da minha vida, o que não quero, a distancia da minha alma, os ecos da tua mente demente tornaram-se dignos do meu inferno que já não sinto.
Cresci sabes? Fugi e encontrei-me, sofri, sofri tanto por ti, longe de mim, sem sequer saber onde me encontrar, desacreditei na verdade da vida e rezei saber perdoar-me pelo gesto que tive. Fui maior que a intencionalidade escondida, cheguei aqui, de braços abertos e tão cheia de mim....
E tu morreste !
Não sei como, imagino, deixa-me imaginar o quadro que preciso para equilibrar a balança que pendeu sempre para o outro lado, sorrio, abraço as vozes e os silencios cheios de verdade que hoje já sei ouvir.
Não me importo com o que pensam, é sentido, merecido..
Estou contente... Contente de verdade, porque alguem morreu?
Estou!

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