13 junho 2009

Perdi!

O dia hoje amanheceu para mim, de mansinho como que querendo explicar-me o sentido do que não entendo, sentada numa pedra escura, tão bonita, de onde em volta me avistava, ao longe, quase que me acenando com um sorriso que reconheço e mais perto um som ritmado que se esbatia, cansado e perfeito. As luzes foram-se tornando mais claras, mais certas, o mar não estava zangado afinal, as ondas batiam-me e despertavam ainda mais uma dor que me rasga, que me ofusca e me faz soltar esse grito surdo que me resta em busca de mim. Como eu gosto deste mar que me guarda quando não estou...
Enquanto me garantia a verdade que sempre senti, enquanto buscava nos bolsos o que resta das certezas que me movem e saboreava a boca salgada, nesse momento, percebi o que me tenho, abracei-me com todas as minhas forças e olhei-me de frente.
Perdi!
Penso e estremeço, sinto-me à beira de uma loucura que não procurei e as lagrimas nem me acalmam, não sou dona de nenhuma palavra, não mereço, olho em volta e estou ali, ainda mais longe, fraca demais para me dizer o que é preciso, para este percurso tão certo que se tornou neste momento, quase inimigo de mim. Estive assim, parada, calada, deixei as lagrimas correrem soltas, deixei as cores e este mar tomar conta de mim, não parti, não fugi, estou aqui.
Cada passo deixou de ser meu, as palavras não são ditas, não são sequer ouvidas por mim, não as entendo, estive tão sozinha envolta em ti, nas tuas maos fortes e num silencio tão grande e, naquele momento percebi , senti a minha culpa rasgada e desnorteada, reagi, corri a seguir para onde me conheço, aqui.
Ha frases, sentidos tão guardadas, tão sentidas, o que sou, o filho que não tenho e queria tanto abraçar agora, os gestos que rejeito para me terem sem me conhecerem, as palavras ousadas que não valem nada, este mar guarda de mim um ser tão vivo que é cada vez mais o meu. O que lutei para chegar aqui, o que perdi e ganhei, o que vivi, o mais genuino que guardo, que sei e não preciso de ouvir. Porque, onde estavam, quando este grito se solta de mim? Onde estavam quando a palavra não existe para me exprimir e eu queria tanto poder dize-la o mais alto possivel? Onde estavam quando eu acordei? E me calei?
Onde estavam quando me senti a pessoa mais sozinha e pequena deste mundo? Eu própria tornei-me perita em aderir às imagens adequadas, e aprendi a desacreditar no que sempre mais houve, sempre houve, que hipocrisia a minha...
Tenho uma dor de mim que quase não cabe em mim. Não sou pequena, não fui, sou a guardiã de uma alma grande de mais para o alcance das minhas mãos que hoje percebi que se aquecem sozinhas, recuso-me a protagonizar qualquer obra de Eça de Queiroz, o caminho é meu, e sentada naquela pedra percebi que preciso de me ter de volta. Claro que vale a pena!
Não perdi, não tenho, não devo e este sentimento de querer mais bem do que o meu bem não me confunde. Algures numa caminhada serena, encontrei-me com o que me falta, o que me vê, o que entrou por mim adentro enquanto sentia que detinha esse lugar, que me fez acreditar e errar, que me fez sonhar com o tempo sem tempo, certa do meu lugar que nunca teve espaço, da anormalidade quis agora ter razão, tem razão, tem lugar, tem voz que fala e que eu entendo antes de o dizer. Tem-me a mim, ter-me-á para sempre e enquanto, mais uma onda me cala, percebo que antes deixei de me ter para me dar. Ofereci-me à calmaria e a uma brisa suave, sentida e querida que me acalmava enquanto me calava, me ofendia e fazia rir, rendida e convencida.
O quadro meu, os traços que pintei, o jardim que plantei e a convicção com que rejeitei o que não preciso, a leviandade dos gestos e do ser banal e normal, os momentos tão verdadeiros em que me despi, sozinha, enquanto o sol se punha e me aquecia e convencia, sei ser assim, os homens que passaram na minha vida sem nunca me terem tido, as palavras que disse sem dizer e as que calei por saber. Esta tela de hoje, a historia da minha vida que tatuei na minha alma rendida e agora partida, tão longe que a vejo, tão certa e minha e eu ali, sentada e adormecida e consciente, sem sequer entender. E na verdade, sei mais do que digo.
Quis pedir-te sem razão, quis sentir-te quando já não tinha, e tinha tanto medo, tenho tanto medo.
Como me assusta agora sentir-me sozinha... Como vou saber andar agora que sei mais do que me ensinei? Como me vou abraçar sabendo que parte de mim não esta aqui? que a deixei partir porque a vida me pregou uma partida tão grande ? E a minha culpa, a minha consciencia da minha pequenês, que mais uma vez, ainda sou capaz de me abandonar. porque não sei fazer de outra maneira sozinha. É injusto, é irrelevante.
É racional, normal!
Ao que partiu de mim, fica guardado, cuidado, pelo quanto quero bem, pelo que não quero mais magoar, porque, é na verdade a outra metade de mim que hei-de cuidar e amar como me amarei a mim.

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