30 abril 2010

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Sempre que tento situar-me, engano-me... sou péssima nisso, já vi. Entram-me pelos ouvidos palavras convictas, disto e daquilo, e eu não desconfio, bebo-as na proporção de verdade.
"Ai, comigo, fazia assim e assado", "Eu estou bem comigo, não me importa o que dizem", "Eu sou grande por isso sei..." E eu bebo, e penso, que se dissesse o que sinto, ficava enfiada a um canto com orelhas de burro, ou talvez, não.
Eu não ouço acerca da vergonha, das rugas que se escondem, do sentir-me sozinha na multidão, eu não ouço  o cabo do medo por ser tarde num erro que não se admite, não ouço a voz do silencio quando o sol ilumina, nem ouço o grito de fé, quando a penumbra nos esconde, não ouço a maré contrária a uma lei qualquer que nos mantém à tona, numa média ponderada, numa equação sem icognita, uma soma de axiomas que não dizem nada a não ser o que saberia numa qualquer cronica.
Ouço o orgulho e alma cortada gritando que vive aliviada, quase orgulhosa do seu mundo, ouço a noite bramindo, hoje sim e logo não, mas o som é o mesmo, soa baixinho em várias direcções, ouço a voz engasgada de tão alto que fala, vida embargada, emprestada do cansaço, vejo a igualdade içada à laia de moda, mas precede o desentendimento de uma simples amizade despida de carne, e eu, pequena, ergo as mãos e desencontro-me, não sei. Não sou grande, não sou mesmo, ainda acredito, sou aquela alminha estranha que se faz mais pequena ao som dos gritos. 
Fachada, somente
Tenho os joelhos esfolados de tanto que caio, choro até me secarem as lágrimas, ainda creio que a vista é melhor do cimo das árvores e sinto o cheiro impregnado das estações, tenho medo do escuro e do "eu também", tenho medo de me ter dito que tinha, vergonha ainda me ferve, por contar a minha história.
Vergonha me deixa, se ao sair da beira da razão, me vejo, no sim em que creio, no anseio que me devo e prometo e custa a sentir. Se sinto, tenho dentro, um rasgo profundo que a mente dispersa, tenho ainda a pressa que o tempo me roube, e nas mãos, um ramo que vou colhendo, em campo aberto de cheiro.
Por isso, sinto-me rica, de tão pobre me conheço, por isso me agradeço, mas só agora, ter visto lua na noite, julgando ser dia desperto, me dispo nas noites frias e creio ter a cara ardente, por isso me esqueço de tanto que quero lembrar-me de um punhadinho de momentos, mais verdades que vida, mais cheios que eu.



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