17 abril 2010

Olhei, com os mesmos olhos, vi diferente, o sabor seria sempre mais triste, por isso, não me detive, tenho em mim uma memória que guardo, que me lembro. O Tejo cinzento, a ponte que se ia engolindo numa névoa quente, escandinava, segundo dizem, misto de um secretismo qualquer, que prefiro não desvendar.
Perguntei-me porque não faço o que me apetece, porque calo, se as minhas mãos estão cansadas da força a que me obrigo, a vulgaridade sempre foi mais feita de não me ser, de me esconder em silencio. Vou andando, pestanejo enquanto ensaio o caminho, desligo-me de precisar, não preciso, arregaço-me e decido, um passo à frente do outro. Colori o caminho com um arco iris de mim  e um horizonte de pedra, porque se pretende distante, ao toque, é mais quente, mais brilhante, sei disso.
A probabilidade de agir sabendo que me compete, é por fim diferente da de esperar um sorriso, muda o universo, e eu percebo. Sou desta massa intransigente, teimosa. Tenho esta mania que eu é que sei, e cá dentro, já sabia não saber nada. Depois viro tudo ao contrário e sei de mim, não querendo saber de mais nada.
Tenho as viagens sozinha, que têm os sítios que gosto e as musicas que canto, tenho a herança de um pai descontente e por isso andante, e de repente, já não suporto não fazer nada. vejo caras viradas no caminho, rodeadas de palavras, tão sozinhas, tão perdidas e eu, zangada, ponho os olhos ao longe, se perdi, não era suficientemente nobre para um história que tarda, de tão grande. 
Descobri agora outra forma de escrever, naquele instante que a mente já se perdeu no sono e eu, chego, sentida, sem razão e deixo as mãos abrirem-se em palavras que saem, minhas sem direcção.
Já não me interessam as rugas, a minha cara ainda ferve, já não me apetece saldar contas, já me vou rindo do medo, esgotada, sou mais verdade, sinto tanto sem presença, que descubro um verbo novo, cresci-me de madrugadas sem esquinas, sem nada.
Vou dormir, ainda é cedo, ainda tenho tempo.




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