03 maio 2010

Gayathri

Os pratos na mesa cheiravam a um Oriente que não conheço e me encanta, numa sala, jovens e menos jogavam poker por entre sorrisos com voz. Uma confusão dispar que foi entrando em mim com sabor a paz. Como podem os contrários ser ordem e união?
As salas iluminadas de velas, as cartas, caras novas, uma musica de fundo que me invadia,  musica, sendo eu estranha, fui-me sentindo em casa. Sentada, rodavam palavras de temas com nexo, de uma vivência plena, gritada de conhecimento que aspiro, e os olhos, os pés descalços ao passar a porta. E eu, estranha, arriscada, fui sentindo em mim fazer parte. Um partilhar novo, sem junção de mãos, sem um olhar na mesma direcção.

Conheci na voz calma de uma senhora tão grande, as cartas, os meus sentidos, o anel de serpente que não me afaga, o meu sol está lá à frente. Tenho números na minha mente, matemática, tenho terra nas minhas mãos, tenho coisas lidas que só eu saberia, só eu. E aquela senhora, aquela calma...
Morrer é ser vida de novo, tenho um passado que magoa e me faz sorrir, um sol posto no meu colo, tenho uma pedra que trouxe.

Quero ver para além do cais que se empedra, quero tocar onde os meus olhos não chegam, vou tocando os contornos, esquecendo as formas que me desenhavam, disformes, culpa minha, vou aceitando marés vazias e um marejar sossegado que me retorna num espaço novo. Um desejo cada vez maior de crescer, de espreitar mais ainda, de ouvir as histórias que não conheço, de dar, quero como o meu corpo.
Desviante do padrão, longe, longe, negação da norma repetida.
Mais não.

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