01 maio 2010

Tinha uma amiga, com uma voz bonita e sofrida, à primeira vista pareceu-me enorme, dita de mundos e sonhos, dita de construção destrutiva, tinha uma voz serena, unica, falava ser diferente, ter um mundo só seu, feito de coisas enormes, intransponiveis, e eu aplaudia, e semeava um sentir por ela, feito de mim e da distancia, da admiração. Sendo amiga, faria tudo por ela, ouvi-a nos intervalos que sobravam da obsessão, estive ao seu lado na solidão, na confusão, partilhei os meus erros e as minhas feridas mais doridas, fui ouvida, nem sei, mas faria tudo outra vez. A vida não lhe ofereceu muita coisa, o Deus amantissimo e a teoria das portas e janelas, esqueceram-se da tregua merecida. E eu sentia, sentia por ela, pela vida, e esquecia o esquecimento, esquecia que também eu precisava, de vez em quando. 
Ouvia ser tão grande, ouvia ser unica, ser tremenda, ser capaz de transpor reservas que me tolhiam e quedavam, bebia dela a certeza de um dia ser capaz, de mandar tudo a merda e mergulhar no acaso de corpo e alma. A minha amiga era linda, por dentro e por fora, mais bonita que eu, mais verdadeira, e eu esquecia as ausências, esquecia que me cabia os frutos da dormência. E lá estava eu, de mãos estendidas, como sempre, para o que havia e o que não, crente na grandeza que a moldava, na força, e na tristeza de um destino estúpido que nunca fui capaz de entender.
Dizia-lhe muitas vezes que havia tanta porcaria por ai, emprestada por qualquer coisa, tanta mentira que soa a razão, tanto mimo de barriga cheia, e ela, ela não, ela merecia tudo, e eu estaria sempre com ela. 
O sorriso era oferecido, a arrogância era medo, a vergonha desdita, a pequenês elevada a um expoente de birras e conflitos e caprichos que eu sentia serem de direito.
E o ciume, uma forma de não se dizer, ser tão pequena como eu, grande afinal na essência. E eu pensava, não, tenho que aprender com ela, a ser desbocada, a ser meramente o presente, a lutar pelo que sinto e a crer nos sentidos.
Foi só com ela que arrisquei falar mais de mim do que digo, da minha mente estranha, do sentir que não entendo, de tudo e de nada.
Hoje, nem a vejo, nem a sinto, nem nada.
E hoje, chorei por ela,
Não a encontro

1 comentário:

Luz disse...

Querida amiga da alma de Luz,
Sinto o mesmo, choro por ela, não a encontro e nem sei como a encontrar..., vive dentro de mim, mas já não sei como é em meus braços a abraçar...

Ainda que possam ser histórias diferentes..., o sentimento é o mesmo...

Obrigada amiga pelo teu colo..., é também importante sentir-te presente.

Abraço da eterna Luz